Em todo final de tarde se assentava,
no banquinho à porta da sua casa,
a mocinha que de cantar, gostava
procurava imitar um rouxinol
que naquela tarde tanto encantava,
com um tão belo pôr do sol.
Que cena linda era aquela serra,
perto do pequenino sítio,
ora verde, ora loirada,
por causa duma poeira dourada,
que ao passar duma boiada
levantava bem devagar
e, do canto do vaqueiro,
o som dolente, se fazia escutar.
E com essa sonora melodia,
que ecoava tão plangente,
sempre ao final de cada dia,
muito calmo, tão docemente,
excitando o amor a Deus!...
Parece até que uma andorinha,
pousando na torre da capelinha
ia contrita rezar a Ave Maria!...
E a mocinha assim pensava,
-Deve ser tão diferente,
o mundo quando se agita,
na direção do ocidente...
Ao transpor o horizonte,
rumo a qualquer direção,
ao oeste ou ao sul!...
é chegar no paraíso!...
é entrar no céu azul!...
Quando se punha a meditar,
se fitava no poente, as pompas
do majestoso astro rei,
na cor do ouro a se reclinar!...
- “Quem sabe, essa grandeza,
inspirasse o culto incásico
de mulher ao sol ofertar?!”
O dia todo pela estrada
passava gente, passava
pra os garimpo sorrateiro
e, quando feliz murmurava
vinha logo se apresentar
o seu tipo de vaqueiro
ou sua riqueza ostentar.
E a moça a isso tudo via
mais triste ficava o dia a dia
no fundo do seu coração.
- Todo mundo vai embora
só naquela direção...
de tristeza a gente chora,
neste longínquo sertão!...
Certo dia... eis que chegara
o que ela mais sonhara,
ir bem para longe... viajar...
ser alguém muito importante
e, no palco da vida brilhar...
Foi... caminhando...
passou por terras distantes,
Tal uma cigana a vagar,
mas de ouro ou pedras fatais
com riquezas deslumbrantes
não encontrara jamais!...
Elas ficaram em seus sonhos,
na terrinha sossegada
aonde passavam as boiadas
espantado a solidão.
Era naquela serra tão linda
onde o pôr do sol redoirava,
que a paz de céu se encontrava,
em seu querido sertão!...