Desde muito novo que os funerais me causavam nítida repulsão, pelo menos na parte em que o cadáver se vela ou é exposto...
Quando pela primeira vez a morte me tocou a sério, no inesperado falecimento de meu pai, não fui capaz de permanecer um segundo sequer perto do corpo de meu progenitor.
Nos passamentos de familiares e amigos que ao longo da minha vida se foram sucedendo, pessoas que de algum modo me tocavam no íntimo, só e apenas junto da urna fechada permaneci. Logo que alguém se aprestasse para mostrar o corpo, afastava-me.
Pela morte de minha filha Paula, ó diacho de vida e de mundo, quase enlouqueci. Embora em princípio, porque não fui por todos entendido, consideraram-me até indivíduo de estranhos sentimentos. Abandonei tudo e todos. Durante oito dias permaneci em permanente embrieguez. Foi um dilecto amigo, o saudoso Brás Medeiros, que me sacudiu firme e me chamou à vida normal.
Em 1992, logo que o corpo de minha Mãe se me deparou sem vida, retirei-me para Lisboa e andei como um autêntico sonâmbulo uma data de tempo.
Não suporto deveras o corpo exposto de gente falecida. Caso se trate de pessoas que porventura me caiam a fundo nos sentimentos, nem vale a pena entrar em considerações comigo para que me aproxime do corpoo. Afasto-me mesmo.
No entanto, no que a mim toca em referência, estou descansado. Não verei o meu corpo e posso garantir a quem quer que seja que sei bem o que é a morte... Não é nada para quem morre. Não tenho medo absolutamente nenhum de morrer.
Todavia e daí não se presuma ligeiramente que quero e desejo finar-me. Tenho ainda muitíssimos planos para cumprir e basta esse desenho espiritual para me incentivar a viver.
Em resumida frase, considerarei que é preciso treinar com a antecedência possível a perda do medo em face da nossa própria morte. É inexorável.
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