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Ensaios-->Símbolos nos contos de Faulkner -- 12/06/2004 - 20:46 (Clarice Barcellos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SÍMBOLOS NOS CONTOS DE FAULKNER


William Faulkner imortalizou o sul dos Estados Unidos através de sua literatura, escrevendo sobre o espírito das pessoas que lá sofreram e morreram. Ele foi o primeiro escritor a expor o lado feio da região através de seus textos. O leitor de Faulkner sente uma certa intranqüilidade ao tentar compreender os personagens que o escritor criou. Então, a personagem central de A Rose for Emily é um anjo ou um demônio? Faulkner escreveu sobre o sul do seu tempo e focou a essência de seus temas na dicotomia ‘bem/mal’, porque essa é a essência da vida humana.

Alguns símbolos dos contos A Rose for Emily, That Evening Sun e The Barn Burning são analisados neste trabalho por serem recorrentes em todas as três histórias, bem como alguns que são significativos a cada uma delas. Embora sejam enredos totalmente diferentes, esses contos têm como elemento comum a presença do Negro (em ambos sentidos: de cor e de insignificância) como o primeiro elemento simbólico dos contos de Faulkner. O Negro representa o sul oprimido dos Estados Unidos. São sempre mostrados como dignos de pena, sofrendo opressão e considerados animais que vivem somente para servir os brancos, mas ao mesmo tempo cheios de mistério e conhecimentos que vão além do entendimento desses brancos. Os problemas entre negros e brancos apresentados nos contos de Faulkner, são elementos de miscigenação, como em That Evening Sun, em que Nancy, uma mulher negra, tem relações sexuais com homens brancos, o que é considerado um erro capital.

A porta é outro símbolo importante nos contos de Faulkner, representando individualidade, privacidade, negação do mundo externo real, quando está fechada como em A Rose for Emily. Emily mantém a porta de sua casa fechada por pelo menos dez anos antes de sua morte, para viver em um mundo que é só seu, não permitindo que outras pessoas interfiram ou até mesmo obtenham qualquer informação sobre sua vida. Isso faz com que as pessoas façam fofocas e tirem conclusões mesmo a partir de poucas informações que recolhem cada vez que Emily tem que ir ao centro da cidade. Quando ela morre, a curiosidade é mórbida. As pessoas querem descobrir o que há dentro da casa que estava sempre fechada. No final de That Evening Sun, embora dizendo que tinha medo de morrer, Nancy manteve a porta aberta, o que significa que de fato ela dava boas vindas à morte. Ela estava vulnerável e com medo de morrer, o que a fez cansar de lutar por sua vida, pois sabia que nunca faria progresso algum. É difícil encontrar portas entreabertas em histórias de ficção porque essa imagem não é tão forte quanto a das portas abertas ou fechadas. A abertura de uma porta representa a abertura de um segredo, de algo privado, e isso é o que acontece quando Emily morre, em A Rose for Emily, e seus primos entram na casa e vão até o quarto que tinha sido mantido fechado por cerca de quarenta anos.

Escuridão é um fator importante em todos os três contos, já que geralmente significa o final de algo, morte, o inconsciente, o desconhecido, medo de uma confrontação, e é um precursor de um ‘acordar’ espiritual. Na verdade, escuridão é tudo isso nos contos de Faulkner. Em That Evening Sun, ela representa um medo a ser enfrentado, já que Nancy está com medo de ir para casa sozinha porque poderia encontrar seu marido que estava com raiva dela, conforme o leitor entende a partir do que diz Jason, um dos filhos do dono da casa onde Nancy trabalha: “Nancy está apavorada com o escuro”(p.1762). No escuro qualquer coisa pode acontecer e nossos sentidos ficam aguçados pela escuridão. Nancy está com medo de que Jesus, seu marido, esteja escondido na alameda escura onde ela tem que passar para chegar em casa, e, de acordo com o narrador da história, “a alameda estava sempre escura”(p. 1763), o que a faz dizer que muito embora não possa ver seu marido, “Eu posso sentí-lo agora, nesta alameda”(p. 1763). Se considerarmos que escuridão é também o despertar do espírito, Nancy poderia estar passando por uma mudança espiritual, o que significa que ela estaria com medo do desconhecido que vive dentro dela mesma. Em um certo ponto da história, o narrador nos informa que “nós caminhamos pela alameda, Nancy estava falando alto” (p. 1766). Se uma pessoa fala alto no escuro embora haja silêncio em volta, isso significa que ele ou ela está com problemas internos. Isso é normalmente chamado de “nossos monstros interiores” em psicologia. Em A Rose for Emily, a escuridão aparece novamente dentro da casa quando os políticos da cidade entram e vêem “uma entrada escura, a partir da qual uma escada subia em direção a sombras mais escuras” (p. 1772). Somente quando Emily aceitou receber os visitantes, as cortinas foram abertas. Não havia luz, pois Emily não permitia que as pessoas olhassem claramente através de sua mente ou de sua vida. Ela não queria que elas soubessem o que estava acontecendo na casa. Em The Barn Burning, escuridão é uma característica da noite, quando coisas ruins acontecem, tais como os incêndios. Também é representativa de pessoas más e dissimuladas. É no escuro que os crimes são concebidos e escondidos. Quase toda a história de Barn Burning acontece durante o dia. A escuridão é mencionada em maiores detalhes quando Abner decide incendiar outro celeiro. O narrador descreve desta forma: “Foi depois do pôr do sol, quando eles chegaram em casa. [. . .] quando ele ouviu a voz de sua mãe: ‘Abner! No! No! Oh, God. Oh, God. Abner!’” (p. 1786). Ela disse isso quando se deu conta de que ele iria incendiar outra casa. Também foi na escuridão que na mesma noite o filho de Abner e narrador da história, correu à casa de De Spain, o inimigo de seu pai, para avisá-lo sobre as más intenções de Abner. Aqui, a escuridão tem dois significados simbólicos: um ambiente propício para esconder boas ações, o que levou o garoto a se sentir muito melhor e decidir sobre mudanças em sua vida; também foi o ‘acordar’ dele quando “à meia-noite ele estava sentado no topo de uma colina” (p. 1788), ele tomou a decisão de viver sua própria vida a partir daquele momento e não olhar para trás.

Casas representam seus próprios donos e diferenças sociais. A casa de Emily, por exemplo, representa ela mesma. No início da história, o narrador conta ao leitor, por que as pessoas foram ao funeral de Emily – os homens foram para mostrar respeito por um “monumento caído” e as mulheres foram por curiosidade, para saber o que havia dentro da casa. O uso da expressão “monumento caído” é usado aqui como metáfora tanto para a casa quanto para Emily. Esse conto tem um elemento gótico similar ao The House of Usher de Poe, relacionando vida e morte e à decadência econômica das pessoas ricas. Em That Evening Sun, a casa simboliza proteção e privacidade, principalmente quando a porta está fechada, como quando Nancy conta às crianças as história de uma rainha (referindo-se a ela mesma) que “tinha que atravessar o valão para chegar a sua casa rapidamente e trancar a porta” (p. 1767), enquanto que em The Barn Burning as casas são mais representativas de diferentes classes sociais. Isso fica bem claro quando Abner vai falar com o homem a quem ele tem que servir e o narrador descreve a casa do homem em detalhes, iniciando pela delicada imagem de flores e árvores que circundavam a casa, o que causou uma forte impressão no garoto que,

[…] viu a casa pela primeira vez e naquele instante esqueceu seu pai e o terror e desespero de ambos, e mesmo quando ele lembrou novamente de seu pai (que não tinha parado) o terror e o desespero não retornaram. Porque, em todas as doze mudanças que eles já tinham feito até o momento em um interior pobre, uma terra de pequenas fazendas e campos e casas, ele nunca tinha visto uma casa como aquela antes” (p. 1781).


Além da diferença de classes, aquela mesma casa é mostrada como um território privado e protegido, conforme o pensamento do garoto revela ao leitor – “Eles estão a salvo dele. Pessoas cujas vidas são parte desta paz e dignidade, estão além de seu toque”(p. 1781). Como parte de casas, um outro símbolo recorrente em Faulkner é a cozinha que representa nutrição, alimentação, cuidado. Na cozinha uma pessoa encontra um ambiente quente quando o fogão está aceso, comida, e vários tipos de cheiros, que é outro elemento simbólico nos contos de Faulkner.

Cheiros representam memórias, momentos bons ou ruins na vida de um personagem. Em That Evening Sun, havia o aroma de comidas sendo preparadas e café, ambos representativos da região sul dos Estados Unidos. Em A Rose for Emily, é um cheiro ruim que é mencionado, o cheiro de um cadáver, representando a podridão da alma humana e o final de um período em que os ricos proprietários de plantações de algodão, eram a base da vida em pequenas cidades do interior. Quando os campos de algodão não eram mais produtivos, seus donos já não eram mais necessários à sociedade. Em The Barn Burning, o cheiro de queijo e o cheiro imaginado de peixe que são mencionados no início da história, representam o mal dentro das pessoas sendo revelado. Há uma sabedoria popular que diz que quando alguém está em uma situação de confrontação, principalmente com o envolvimento de uma autoridade, “isso vai feder”.

Fogo é um elemento simbólico importante, significando excitação, vida, desejo sexual, energia, purificação e destruição. Esse elemento não aparece em A Rose for Emily porque não havia vida , excitação, energia ou desejo sexual, portanto, não havia necessidade alguma de purificação, já que Emily queria manter as coisas como estavam. Ela não queria mudanças em sua vida, e o fogo também significa mudança. Não houve destruição total como aconteceria no caso de um incêndio, já que a intenção dela era um final que chegasse aos poucos ao longo dos anos. Em That Evening Sun, fogo representa energia, vida e purificação. Nancy precisava purificar seu corpo e sua alma quando levou as crianças para sua casa e lhes contou uma história ao pé do fogo. Quando preparava pipocas para as crianças, Nancy manteve sua mão no fogo – “Vejam , a Nancy está colocando as mãos no fogo”, disse Caddy, “Qual é o problema com você, Nancy?” (p. 1768).

Assim como lavamos nossas mãos para limpá-las, Nancy poderia estar tentando purificar-se. Ela se sentia culpada por ter feito sexo com outro homem, o que a fez perder seu marido. Em The Barn Burning, o fogo é o elemento simbólico principal, significando destruição de um tipo de vida desagradável, devido a uma lacuna entre duas classes sociais. Fogo também pode representar falta de controle. É muito difícil controlar um incêndio e quando ele já tomou conta de algo, é impossível dominá-lo, como a mente de Abner. Cada vez que ele se ressentia de algo, colocava fogo no celeiro daquele que culpava por sua infelicidade. Por que celeiros e não casas? Porque nos celeiros havia animais e comida em estoque, o que era crucial para a sobrevivência de uma família e de seus negócios. Como era pobre e ninguém lhe dava oportunidade para progredir, ele acabaria com aquela diferença através do símbolo do negócio do fazendeiro – o celeiro.

A estrada em The Barn Burning, bem como a alameda em That Evening Sun, representam a jornada da vida, os caminhos que um ser humano deve caminhar para crescer espiritualmente. A alameda escura na qual Nancy tinha que passar para chegar em casa é o símbolo de sua consciência trabalhando através de seu medo de passar por aquele caminho. As estradas em The Barn Burning, representam os passos que o garoto tem que tomar para amadurecer e tomar decisões sobre sua própria vida e seguir seus princípios que eram contrários aos de seu pai.

Pais são símbolos de autoridade e grande influência nas personalidades de seus filhos. Emily, por exemplo, mostrava ter síndrome de Electra. Embora o pai fosse duro com ela ao ponto de não deixá-la namorar, Emily não quis aceitar sua morte e manteve o cadáver do pai em casa até que a obrigaram a enterrá-lo. Ela também cortou o cabelo como símbolo de sua sexualidade oprimida pelo pai. O pai em That Evening Sun, foi outro tipo de autoridade. Ele era carinhoso com todos e era menos exigente que a mãe. Talvez aquele pai não fosse representativo de todos os pais da época de Faulkner, mas dos pais de nosso próprio tempo. Um pai amoroso e carinhoso. Em The Barn Burning, encontramos a má influência do pai que, felizmente, não consegue enfraquecer a personalidade de seu filho ou levá-lo a depressão, como fez o pai de Emily. O garoto em The Barn Burning, podia ver claramente que seu pai estava errado e deliberadamente prejudicando as vidas de outras pessoas. Decidindo que não seria igual e se colocou contra o próprio pai, embora soubesse que teria que se afastar de sua família, e ficou entristecido por isso. Ele amava o pai, mas não conseguia concordar com suas atitudes. Ele queria viver outro tipo de vida e ser livre para ser ele mesmo, diferentemente de Emily, que não conseguiu se libertar da influência do pai.

Em That Evening Sun, o sobrenatural é representado através dos sons de Nancy e da forma como ela olha para as pessoas. Em alguns pontos da narrativa, ela está emitindo sons que não são compreendidos como cantos ou falas, mas como algo que nunca havia sido ouvido neste mundo. Às vezes ela também olha para as pessoas como se não estivesse realmente olhando para elas, e há vezes em que ela é descrita como dividida em duas pessoas diferentes: uma está olhando para você, sem realmente estar e a outra está fazendo os sons, como nas seguintes passagens da história:

“ Uma noite nós acordamos ouvindo o som. Não era um canto e não era um choro, vindo das escadas escuras. [. . .] Era como um canto mas não era um canto, como os sons que os Negros fazem” (p. 1763, 1764).
“[. . .] fazendo o som, como se houvesse duas delas: uma olhando para nós e a outra fazendo o som” (p. 1765)


Em A Rose for Emily, a rosa é um símbolo importante que foi discutido e compreendido de várias formas pelas pessoas que analisam essa narrativa. Escolhi vê-la como um símbolo do sofrimento de Emily. Ela tinha uma vida boa e confortável que estaria representada pelas pétalas da rosa, tão frágeis quanto qualquer vantagem material que possamos ter na vida. Os espinhos da rosa, representariam seus sofrimentos, significando que não há perfeição na vida. Embora linda, uma rosa, como tudo no mundo, tem dois lados: bem e mal. Minha preferência por essa análise vem do final da história, quando o quarto onde está o cadáver de Homer é descrito como tendo “acima das cortinas de cor rosa desmaiado, sobre as luzes de sombreado rosa, ...” (p. 1777), onde prevalece a cor com o mesmo nome da flor que desvanesce como a cor, se não é bem cuidada.

Há muito mais símbolos nos contos de Faulkner, como sobrenomes de famílias, locais, flores e árvores, tipos de roupas, cores, meios de transportes. As críticas dos trabalhos de Faulkner, afirmam que em seus romances há tantos elementos simbólicos que às vezes o leitor acha difícil compreender a história. No entanto, seus textos normalmente têm como tema e símbolos, elementos relacionados à repressão sexual, complexo de Édipo, opressão das minorias, a mudança do Antigo Sul dos Estados Unidos para o Novo Sul, como em A Rose for Emily, onde a própria personagem principal simboliza essa passagem. Os contos de William Faulkner são realmente valiosos para estudos literários.






BIBLIOGRAFIA


BARBOSA, A. Rolmes. Escritores Norte Americanos e Outros. Porto Alegre. Livraria do Globo, 1943.


Internet sites:

_______ . Signs, Symbols, Meanings, & Interpretations. Available at:
Accessed on: April 28th, 2004.


SOUL FUTURE DREAM DICTIONARY. 1750 Dream Symbols. Available at:
Accessed on: April 29th, 2004.

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