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Ensaios-->Ainda os blogs: - Gerald Thomas... -- 10/05/2004 - 00:20 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Escrito por Gerald Thomas em 09/05/2004)

'Cozinhem seus pentes e comam a caspa

Nova York - Cheguei ao limite. Já nao falo coisa com coisa e, portanto nao esperem de mim uma coluna que faca sentido. Portanto estou sentado no pico de Sierra Maestra. Porque nao? Ou em Fellujah, cozinhando para as tropas americanas que, enquanto escrevo, bombardeiam aquela cidade histórica. Sim, travestido de cozinheiro 'cordon bleu', cercado de paneloes e paneleiros, e enormes colheres de pau, roubei todos os pentes de todos os Marines e os cozinhei. Vai ser uma refeição e tanto.

O que mais se tem pra dizer? Nao tenho mais o menor saco pra analizar ou ouvir qualquer tipo de analise sobre isso, aquilo ou porra nenhuma. Meus ouvidos estão cheios. Minha ultima decepção foi 'Plan of Attack' de Bob Woodward, que ganhei de presente da Fabiana. Li como se devorasse, mas......brochei no meio. Sim sim sim, eh claro, eh claro que ate certo ponto eh interessante saber que Bush pegou no Braço de Rumsfeld e o levou prum cantinho sem que ninguém soubesse e fez confidencia tal e tal. Claro, também eh interessante ler ali a real pirâmide do poder na Casa Branca (tão manchada, que a essas alturas nao ha tinta que a faca continuar branca!)

Mas nao ha nada ali, realmente falando, que já nao sabíamos, seja através do livro de Richard Clarke ou do seriado West Wing ou All the President s Men, do próprio Woodward, quando ele trouxe abaixo o governo Nixon. Ali sim, um jovem Woodward e um jovem Bernstein - ávidos pelo poder jornalístico - DERRUBARAM um governo.

Hoje eh tudo mais 'mellow', tudo mais 'soft'. E eu nao agüento mais ficar seguindo os eventos na televisão, seja no Iraque, seja a escalada pela presidência aqui, seja a escalada da violência ai no Brasil. Eh tudo um horror. Então....escrevo pecas.
Escrevo ate o computador pedir arrego.
E quando ele pede arrego, começo a desenhar, pintar......E quando acaba o papel, ensaio com atores. Nao me calo, enquanto estiver vivo, eu me mexo.

Mas a tendência ao surreal sera cada vez maior. Admiro, realmente admiro aqueles que participam da resistência política. Mas como 'pegar em armas' nao me parece mais ser uma opção legitima (eh terrorismo mesmo e eu odeio terrorismo), meu cérebro se encanta por monólogos e situações pouco plausíveis e meu sonho sera encena-las. Pra quem e porque? Nao sei. Satisfação própria talvez.

O Brasil esta - pra mim - cada vez mais distante. Me relaciono com pouquíssimas pessoas no Brasil. Pena. Desapareceram quase todos. Ou sera que fui eu que sumi. Deve ter sido eu. Claro que fui eu. Na verdade nunca morei ai, estava sempre de passagem, sempre em hotel........assim nao ha relação que dure.

Então, pouco a pouco vou me distanciando de tudo e de todos. Se isso parece uma longa carta de bye bye Brasil de ate logo gente, um dia nos veremos? Talvez. Hoje, quarta de manha, eh assim que me sinto. Nao sei bem porque. Nao vejo muito sentido em escrever uma coluna que ninguém lê, ninguém comenta, num jornal que sequer eh lido pelo dono.

Ou talvez finalmente bateu o fato d eu morar em cima do East River, dentro d água como se fosse.....e na beira do FDR drive, ou seja, uma rodovia que margeia Manhattan pelo lado Leste. Pela janela vejo milhares de carros indo e milhares de carros vindo. Pra onde meu deus? Pra onde vai tanta gente? E com tanta pressa? Pra que tudo isso?
Daqui vejo essa população em movimento, tanto carro, tanto monóxido de carbono, tanto PETROLEO, e ai me lembro que a invasão do Iraque nao foi por outro motivo: encher esses tanques todos.

Fecho a janela. Já vi carro demais, já tive a explicação ao vivo, já vi os modelos mais novos, todo mundo comprando os ultissimos modelos de uma Hummer SUV. Pra que ter esse mini tanque de guerra dentro de uma cidade como essa? Da nojo, da medo, amedronta porque esse dono pode ser seu vizinho.

Nunca vi a cara dos meus vizinhos.
Nunca abrimos a porta ao mesmo tempo.
Nunca entramos no elevador juntos.
A ONU eh aqui do lado.
Nao se fala inglês nesse prédio, porque quase todo mundo eh funcionário da ONU.
Me pego lavando o mesmo prato pelo menos umas cinco vezes e amarrando o saco de lixo a tal ponto que ele pode.....Porque estou relatando tudo isso? Parece o inventario de um quase-louco. Deve ser isso.
Sou que nem essa ilustração ai. Uma nuvem rasgada, desenhada a bico de pena que fiz quando eu ainda era desenhista da OpEd page do New York Times no inicio da década de oitenta: uma nuvem rasgada chovendo em cima do planeta.

Ate mais gente. Um dia a gente se fala direito.
LOVE

Gerald Thomas
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Obs. Trabalhos de Ana Luiza Peluso e Antonio Júnior, escritores da Usina de Letras, podem ser encontrados no blog de Gerald Thomas.

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Gerald Thomas



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