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Moisés, atormentado pela problemática que envolvia e emanava de seu povo, preparou sua bagagem, pediu espectante paciência a seus dilectos descendentes e pôs-se corajosa e estoicamente a caminho da montanha. Decidiu que carecia de isolamento completo para meditar e quiçá por aí encontrar solução ideal que pelo menos estabelecesse um grado equilíbrio entre os desmandos em que sua gente ia caindo dia a dia. Naquele tempo já abundava o persistente 'Bush-and-Blair' que 'em-nome-de-algo' impulsionava os homens para a guerra.Subiu... Subiu penosamente encostas e fragas até encontrar o lugar onde lhe pareceu poder passar uns dias em tranquílo repensamento. Optou por uma clareira quase no cimo da montanha, junto a um cristalino fio de água que brotava da fenda de um enrugado rochedo, num sítio que considerou excelente para armar sua tenda e sentir-se seguro contra eventuais ataques da bicharada circundante.Entre seu povo grassava a degradação, o assassínio provocado pelas infedilidades e desmedidas ambições, os filhos revoltavam-se e maltratavam os pais, traíam-se e roubavam-se uns aos outros, enfim a sobrevivência de todos estava ameaçada pelo desvario de uns tantos que em sucessiva vingança iam impondo a desordem e espalhando a confusaão propícia ao caos.Ao longo de uma boa quinzena de dias e noites em premente meditação, Moisés conseguiu alinhar as directivas essenciais que permitiriam amainar o desornedado ímpeto que germinava imparável entre a sua gente. Importava condensar para fácil entendimento algumas poucas regras que serenenamente implantassem lei capaz de subordinar voluntariosamente a multidão.O sábio profeta ter-se-à inspirado em seus dez dedos para operar o resumo do desiderato que pretendia levar à luz da inteligência de seus próximos. Assim, tomou a jeito dois pedaços de granito, que alisou e preparou cuidadosamente com o precioso cinzel que possuía e, nos dias e noites seguintes, foi esculpindo palavra a palavra a súmula de suas ideias nas duas pedras...
IEu sou o Senhor e teu único Deus. IINão terás outros deuses ou me confundiráscom algo que me transcendacumprindo integralmente estes dez mandamentosIIINão jurarás nunca em vão sobre meu nomeIVGuardarás o sétimo diapara te penitenciares de teus errosorando e reclamando-me justo perdão.VRespeitarás e honrarás teu pai e tua mãe.VINão matarás.VIINão te adulterarás com a mulher do próximo.VIIINão roubarás.IXNão levantarás falso testemunho.XNão cobiçarás o alheio ou quanto seja pertença do teu próximo.
Ao cabo de trinta e tal dias, Moisés considerou que a sua obra estava concluída e em condições enfim de ser transmitida ao povo desavindo. Recompôs pois seu saco e iniciou a penosa descida, rumo à povoação onde o povo se inquietava com a sua tão longa ausência. Alguns tratavam já de guerrear-se entre si para tomar o lugar do chefe, convencidos que o líder não regressaria mais.Pelo caminho Moisés debatia-se sobre a forma em como iria apresentar a lei feita pelos seus dez dedos. Como lograria contornar os perversos argumentos de seus adversários e até dos amigos mais desconfiados e inseguros. Ao quadragésimo dia, Moisés chegava finalmente ao sopé da montanha. O dia estava deveras cinzento, chovia copiosamente e trovejava. O profeta, convictamente convencido do êxito que operaria entre os seus, sob a tormenta, apresentava-se fortalecido, dando a parecer que estava bem melhor naquele momento do que na altura em que partira...Logo que a multidão o rodeou por completo, aclamando-o, Moisés ergueu as duas graníticas tábuas da lei e transmitiu o breve conteúdo à enorme assistência. Relampejava e sobre sua cabeça gotejante o esplendor do brilho dava-lhe um magnífico ar sobrenatural. Dentre os hipócritas cépticos, naquela endeusada oportunidade crucial, veio então a temível pergunta:- Pois... Fostes tu, Moisés, que engendraste e escreveste essa lenga-lenga?...- Eu?... Eu... Não. Foi Ele... Foi Ele que a fogo escreveu sobre estas pedras e me ordenou o seu cumprimento...- Ele?... Ele... Quem?...- Deus!...O semblante de Moisés mais se iluminou ainda entre o maravilhado silêncio da multidão que, num ápice deslumbrante, o tomou em ombros e o aclamou com intenso fervor e crédito.Torre da Guia = Portus Calle