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Ensaios-->Bom como o Vinho Envelhecido -- 17/04/2004 - 12:08 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA
(por Domingos Oliveira Medeiros)


Dizem que o vinho, quanto mais velho, melhor. E assim, como de resto, a premissa aplica-se a tantas outras bebidas que têm a sua qualidade associada ao tempo em que descansam em tonéis de madeira. Mas, felizmente, a assertiva não se restringe ao campo das bebidas finas. Também se pode sorver o bom líquido da experiência humana, quando este é fruto do envelhecimento em tonéis elaborados a partir da vivência e da persistência na busca do conhecimento e do entendimento dos atos e fatos praticados pelas pessoas. Ainda que na sua frágil e complexa condição humana.

O jornalista Alberto Dines é bom exemplo de boa bebida. Num de seus primorosos artigos, publicado no Jornal do Brasil, em plena campanha eleitoral do ano passado, na França, não deixa dúvidas. Referia--se às eleições do segundo turno realizadas naquele país.

Aborda, o eminente jornalista, o tema político valendo-se da metáfora das localizações à direita e à esquerda: segundo ele, “puro preconceito estabelecido pelo ser humano, incapaz de enxergar-se integralmente, que condena um dos seus lados como o pernicioso e, outro, elege como representação absoluta do bem”.

Metáfora que teria surgido em Paris, no ano de 1789, pouco antes da Revolução, onde a nobreza posicionava-se sempre à direita do rei, enquanto à sua esquerda ficava o terceiro poder. Foi assim, de forma resumida, que o esquema teria deixado as assembléias para “ganhar o mundo e configurar um espectro de convicções espremido entre duas opções apenas: mudança ou tradição, radicalismo ou conservadorismo, intervencionismo ou fisiocracia, internacionalismo ou patriotismo”.

Duas posições que, em 1895, a partir do Affaire Dreyfus, seria atenuado quando, “a favor deste e pela causa da justiça, juntaram-se anarquistas, socialistas, maçons protestantes, judeus, sufragistas, liberais, republicanos, juristas, intelectuais; e, contra o capitão judeu acusado de espionagem, os monarquistas, clero católico, militares e estetas. E acrescenta o nobre jornalista que, meio século depois, em 1936, a agregação dreyfusard seria ressuscitada numa ampla aliança política centrada na oposição ao fascismo, representado por Hitler e Mussolini.

Seguindo esta mesma linha de acontecimentos, em 1940, na própria França, surgia a resistência à ocupação nazista que produziu a surpreendente coligação de forças aparentemente antagônicas, como os socialistas e comunistas, incluindo, nas palavras do jornalista, “patriotas de direita, como o escritor George Bernanos, católico extremado, vitalmente antifascista, que, juntamente com seus seguidores, foram comandados pelo General De Gaulle, tido como sendo da ala conservadora”.

Amanhã, dizia o jornalista, que a história iria se repetir. As forças de esquerda, inclusive a esquerda radical, juntar-se-ão as correntes da chamada direita clássica, para apoiar o candidato Jacques Chirac. “Os franceses adoram complicar, apesar de terem produzido o cartesianismo, teoricamente linear”.

A reportagem sugere que estes fatos não se restringem à França. Nos Estados Unidos, esse “primarismo ideológico”, de esquerda e de direita, teria levado o esquerdista Ralph Nader a colocar na Casa Branca o primata George W. Bush, “porque os progressistas não viam diferença entre ele e Al gore”. Coisa que, no dia seguinte à sua posse, o mundo ficou sabendo. E até hoje tem preocupado a todos.

Marx, por sua vez, já acreditava que a ideologia fosse noção bastante capciosa. Esta semana, um dos expoentes luminares do pensamento francÊs, Jean Baudrillard, vem ao Brasil para acabar com a farsa ou à ilusão deste velho dualismo entre esquerda e direita. Nas diversas entrevistas que já concedeu, o pensador francês foi categórico ao proclamar “a inevitabilidade da incerteza.”. “Esquerda e direita não acabaram”, afirma Baudrillard, “assemelham-se cada vez mais”.

Que os eleitores brasileiros comecem a pensar sobre o assunto. A interessar-se mais por política. Caso contrário, ficará cada vez mais difícil votar com consciência. E sempre estaremos correndo o risco de comprar gato por lebre. E, até agora, não existe, em política, PROCON que dê jeito.

Não é por outra razão que os marqueteiros de plantão estão se sentido livres para maquiar seus produtos. E vendê-los sem entrada e sem fiador. Com o primeiro pagamento previsto para o início do novo governo. Governo que, ao que tudo indica, já veio com prazo de validade vencido. E com indícios de clonagem do seu antecessor.

Governo que, até agora, infelizmente, só produziu problemas. Só escondeu escândalos. E continua confundindo o Brasil como sendo o país do PT. O PT da estrela vermelha. Que já plantou sua marca nos jardins do Palácio da Alvorada. Estrela, por certo, cadente. Que impressiona por alguns instantes. Mas que logo se esvai, sem deixar nada no seu rastro. Típico das coisas do marketing irresponsável. Da propaganda enganosa.

Que geram promessas e expectativas. Fome zero, primeiro emprego, mudanças. Promessas que sumiram no rabo do cometa. Que se renovarão nas próximas eleições. Mas que se perderam no espaço. Com juros e correção monetária. Juros que substituem as estrelas. Lá no alto. No firmamento.

Alerta, pois, eleitores. Telescópios ao alto! Depois não se arrependam quando a conta chegar. Junto com a decepção de não ver o cometa passar. Sem o brilho das estrelas. No escuro de que somos vítimas. No escuro da falta de luz no túnel. Posto que será tarde demais; e Inês já estará morta.


16 de abril de 2004


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