Que m importa o que presumam
E por íntimo se assumam
Indivíduos superiores ?
Que m importam os pendores
Pelo tácito social
Se o bem está sempre mal
Em direitos e valores ?
Que m importam os favores
Sob a lei dos impostores
Que jogam à cabra-cega
Para alcançar a pega
Que cada dedo procura
Para o corpo que carrega
O que a alma não segura ?
Que m importa a criatura
Em juízo que tortura
O curso imune do tempo ?
Que m importa o pensamento
Daquele que dita a ordem
E semeia o desalento
Por onde nasce a desordem ?
Que m importam os que podem
Com capotes que sacodem
Logo que chove mais forte ?
Que m importará a morte
Do poeta que viveu
A reclamar a sorte
Que teve quando morreu ?
Que m importa um judeu
E a história que teceu
Quiçá um ressuscitado ?
Que m importa o reinado
Prometido a um ladrão
Que jamais foi libertado
Após a ressurreição ?
Que m importa a confusão
De quem finge aflição
Apenas para arranjar
O seu próprio bem-estar
E depois do sério grito
Ignora o aflito
Que ninguém ouve gritar ?
Só me importa pensar
Que vivo pra derrubar
Todas as portas da vida
Porque tenho garantida
Uma porta escancarada
Pra lograr minha saída
Como logrei minha entrada !
Que mais m importa ?... Mais nada !...
António Torre da Guia