Vieram os cavaleiros e povoaram o dia.
Traziam lanças e espadas e broquéis
montados em levíssimos brancos corcéis
e
vieram em hordes galopantes, crinas ao vento,
corações de aço, ensopados os corpos
no suor acre dos animais,
anunciar que hoje se cumprem os sinais
da última noite que encerra as demais,
e
o sol mergulhou em câmara ardente, lago infernal
de vulcão latente e aquecendo as gentes, as iludiu
julgando-se estas em tempo de benção permanente
e
nos corações mais amenos, escondeu o sol os seus raios.
E nos cavaleiros os homens viram apenas,
a imagem flutuante do sonho.
Quando veio a noite e os céus se rasgaram em violáceas
pinceladas de roxo azulado e denso, e do céu caíram núvens
de negro incenso, os homens guardaram o sonho
e
os cavaleiros entraram por ele a dentro com suas espadas
e faces sem rosto
e das suas mãos negras sairam golpes de fogo
e os homens no seu sono, montaram os brancos corcéis,
para desaparecer no rasto de mil sóis sem retorno
como nos contos imorais, presos aos cabelos esvoaçantes
de mulheres incandescentes, corpos celestiais onde o desejo
se prende e não se sacia jamais.
Vieram os cavaleiros e o coração dos homens não leu os seus lúgubres sinais.
28/01/03
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