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Cordel-->Canções de ninar e deformar -- 30/09/2003 - 17:50 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Clique aqui para ouvir essa música de minha lavra e parceria com Eduardo Toledo. Minha gaita Honner dá o tchã, enquanto a voz dele se evidencia.===>>>Frank, make a take-off. Varas y piedras.


texto


O autor desconhecido
busca nossos fundamentos,
depois de adormecido
o bebê com cantos lentos:

"Sou brasileiro da gema,
moro na terra das torres;
não posso ir ao cinema
e nem gosto de horrores.

Faço "bico" de babá,
para ter meu numerário
e minha escola pagar.
É plano orçamentário.

Cuidando de um bebê,
cuja guarda eu tomei,
eu o pus pr"adormecer
e uma canção cantei;

cantei "boi da cara preta",
até que ele dormiu.
Então, além da chupeta,
essa canção preferiu.

Agora, ele me pede
pra cantá-la todo dia;
ele quer que eu o sede,
cantando tal melodia.

Antes, ele me ouvia
cantando outra canção,
uma canção que dizia,
com meu inglês "arrastão",

"boa noite, meu bebê,
tenha um lindo sono,
sonhos doces pra você,
com a canção que entono."

Fiz a versão, em inglês,
quando o John me pediu,
da canção em português,
à qual ele aderiu.

E ele quis perguntar:
"Por quê que boi faz careta
e tem de bebê pegar?
Por quê tem a cara preta?"

Mas como lhe explicar
que o bicho ameaça?
Faz o bebê se calar,
sem que você nada faça.

Que, com "boi da cara preta",
a gente mais quer dizer,
"durma logo, num faz treta,
ou o boi vem lhe comer."

É claro que eu menti
para não lhe revelar
como é que eu cresci
com as canções de ninar.

E comecei a pensar
no meu tempo de criança,
nas canções pra lhe ninar
que me vêm à lembrança,

pois bem não me sentiria,
pondo medo no menino
com um boi de arrelia,
tendo no pescoço sino.

Que tal a "nana, neném,
que a cuca vai pegar..."?
Outra ameaça tem,
essa faz apavorar.

Depois de uma frustrante
busca por uma canção
infantil e radiante,
tive grande decepção;

no folclore brasileiro,
não há canção positiva.
Fiz, então, a reflexão
que me pareceu bem viva.

Grande parte dos problemas
da nossa amada terra,
não é falta de esquemas,
mas o que mais nos aberra

é baixa auto-estima,
da nossa população.
Nada, nada lhe anima
a ter melhor condição.

A inferioridade,
bem como a ameaça,
geram a passividade
de toda a nossa raça

pra aceitar extorsão,
a situação eterna,
e toda exploração,
mais externa que interna.

Por quê isso acontece?
É um trauma de infância!
Digo o que me parece,
por pensar ter relevância.

A ameaça campeia,
quase morremos de medo,
tal tragédia nos enleia
desde o berço, bem cedo.

Somos, assim, modelados
pra viver em sofrimento,
ficarmos acomodados
num padrão de pensamento.

"Atirei o pau no gato,
mas o gato não morreu,
Dona Chic"admirou-se
do berro que gato deu."


Esse clássico explica
nossa falta de respeito
ao gato, jaguatirica,
e o nosso cruel jeito

de tratar os animais.
Pau no gato, "que beleza",
Dona Chica ri demais;
criatura indefesa,

sujeita-se ao sadismo
de uma velha senhora.
Não se vê inconformismo,
todo mundo a adora...

"Eu sou pobre, pobre, pobre,
de marré, marré, marré,
eu sou pobre, pobre, pobre,
de marré, marré "desci".

Colocar realidade
tão vergonhosa em versos,
social desigualdade,
usando cantos tão tersos,

é uma grande maldade.
É pra gente se lembrar
da primeira amizade,
e nos diferenciar:

nosso amiguinho rico,
com a nave eletrônica,
e a gaita do pudico,
tico-tico, "supersônica"...

"Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá! Não vou lá!
Tenho medo de apanhar."

Quem foi o adulto sádico
que formulou essas rimas?
Não é caso esporádico
espancar nossas meninas.

Ameaça, novamente.
Obedece, ou apanha.
É por isso, minha gente,
que nossa mente tacanha

admite tudo que vem
e tudo que já passou,
presente, mesmo, não tem.
Brasileiro só pensou.

"A canoa já virou,
olê, olê, olá,
a canoa já virou,
olê, olê, olá.

A canoa alguém deixou,
foi deixar ela virar,
foi por causa do nonô
que não sabe mais remar..."


Irresponsabilidade
num trabalho constelar.
Verso fonte de maldade,
um ao outro vai culpar.

"Bate nele, mamãe, bate!
Estrela ele não tem,
não consegue nem empate,
o nonô é um ninguém."

"Samba-lelê tá doente,
tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
é de umas boas palmadas."

Se alguém está doente,
precisa ser assistido,
mas, pra gente mais carente,
isso não é concedido.

Precisa mais de palmadas
do que querer se curar,
pessoas desanimadas,
por aqui, não têm lugar.

"O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou."

De vidro é o casório,
o amor-bijuteria
é feito no criatório,
e nele ninguém mais fia.

"O cravo brigou com a rosa
debaixo de uma sacada;
o cravo saiu ferido
e a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
a rosa foi visitar;
o cravo teve um desmaio,
a rosa pôs-se a chorar."

Não é só, lá, na favela.
Todo casal vai brigar,
qualquer um, qualquer janela,
vai sempre isso mostrar:

violência conjugal,
não importa qual a arma,
o crime é passional,
no verso está o carma."

É! Por isso, meu leitor,
ao fazer alguém dormir,
cante algo com amor
pra seu neném o sentir.

É hora de reagir,
negar o que já passou,
e saber bem discernir
que você se deformou,

como está deformando
quem vai lhe substituir,
quem vai pegar o comando
desse Brasil a fluir.

A criança vai pra frente,
quando alguém lhe ensina
a estar sempre presente,
sem cumprir a velha sina.
Clic"ali, oh:=>>>Formidávi é u Cão?















































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