Nosso Ambiente. Conjeturando.
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Fala-se muito sobre ética e moral. Fala-se muito, aliás, sobre muitas coisas. Mas sempre permanecem as dúvidas. Posto que, em quase todos os assuntos, existem opiniões divergentes. Poucos são os casos de unanimidade; de entendimento total.
E quando o assunto toma o rumo do pensamento filosófico, a coisa fica em suspenso. Vale dizer, bem mais complexa. E isso porque, em torno dele, da abordagem filosófica, começam a girar hipóteses, suposições, teorias e conceitos diversos. Nada - ou quase nada -, é conclusivo. Definitivo. E a questão da ética e da moral não foge à regra. Principalmente quando ela sugere o tal do relativismo.
Alguns pensadores divergem sobre o assunto. Mas há os que afirmam que a ética e a moral, por serem questões de comprovado relativismo, não se sustentam, por si só, como viáveis e capazes de serem postas em prática. Como regra geral, evidentemente. Seriam, na opinião dos mestres, conceitos mutáveis e inconsistentes.
E as premissas, que poderiam sustentar tais afirmações, partem do ponto de vista de que o bem o mal são conceitos que esbarram na repressão, no tolhimento da liberdade. Para ser boa ou má, a pessoa teria que abrir mão de sua liberdade, dizem os especialistas.
Não considero assim. Muito embora reconheça que o processo de escolha inclui, obviamente, a contrapartida de se abrir mão de outra coisa. Ao se escolher uma delas, descarta-se a outra. Mas isso não seria, no meu entendimento, cerceamento de liberdade.
Estou mais propenso a aceitar a premissa, segundo a qual o homem tem um compromisso com a sua natureza. E com a natureza, de modo geral. Assim, todos temos, em princípio, um comportamento específico. Que segue as regras da natureza. Que faz todo o sistema funcionar de forma correta.
Dias atrás assistia à uma palestra sobre este assunto. Assunto, aliás, que integrava a grade curricular quando me formava em Administração.
Assunto inserido na disciplina Teoria dos Sistemas, à época, muito em voga. E o exemplo a que me refiro, dado na palestra, caminhou neste sentido. Partindo do pressuposto de que tudo são sistemas, interagindo entre si. E, ao final, formando o eco-sistema maior.
Assim, o violão, por exemplo, seria um sistema menor. Onde as cordas fariam parte dos subsistemas. Cada uma das cordas identificando-se com o seu “conhecimento específico”, digamos assim.
O dó, o ré, o mi, enfim, as cordas do violão teriam uma função específica para que se atingisse os objetivos e missões daquele sistema: a música; afinada e harmônica. Uma corda frouxa - ou com defeito -, estragaria ou deturparia o objetivo do sistema. E o resultado seria negativo: uma música de má qualidade, em decorrência da desafinação das cordas. Esta seria, também, a explicação para o bem e o mal. O mal seria, por analogia, a corda desafinada. O bem, a afinação pura e precisa.
Desse modo, tudo nesta vida, portanto, estaria vinculado a um processo de comportamento específico. Aquele comportamento natural que se espera de cada um de nós. Animais, minerais ou vegetais. Em última análise, a sintonia com a natureza.
Uma água, desprovida de condições de higiene, imprópria para o consumo, não estaria de acordo com o seu comportamento específico. Sendo assim, ela só faria mal: a quem a bebesse, a quem nela se banhasse ou quem dela fizesse uso para cozer os alimentos.
No mundo moderno, poderíamos enxergar o mal em vários lugares, se considerarmos como válido o processo do conhecimento especifico. Não é â toa que o mundo está tão deprimente. Ninguém respeita mais os sistemas e os subsistemas.
Sistemas como a fauna e a flora não têm sido vivenciados pelo homem sob a ótica do conhecimento específico. Desmatamentos irregulares, na busca desenfreada pelo metal precioso, sem os cuidados de recomposição das matas e do terreno surrupiado, por exemplo, só fazem mal ao meio ambiente.
Utilizar aviões para carregar bombas e despejá-las em cidades inteiras, matando e destruindo povos, animais, desfigurando a natureza local, do mesmo modo, caminha na direção do mal.
Poderíamos ficar horas e horas relacionando os males a que estamos submetidos. E a contrapartida do bem que estamos deixando de fazer. Mas os exemplos acima já são suficientes para entender o motivo dessas conjeturas.
O homem tem sido estúpido. Consigo mesmo. Com seus semelhantes. Com a natureza. Com o nosso planeta. E já estamos sujando os espaços de toda a galáxia. O lixo espacial já é uma realidade.
E pensar que poderíamos estar em situação bem mais confortável. Bastaria que todos atentássemos para a nossa missão cá na terra. Que é finita. Mas que é permanente, no sentido de que se renova em direção aos nossos dependentes. Precisaríamos deixar de tanto egoísmo. Tanta vaidade. Tanto gosto pelo poder. Tanto imediatismo.
Que mundo queremos construir para nossos filhos e netos?
Não posso precisar. Mas tenho certeza de uma coisa: esse mundo, que deixaram para nós, está muito ruim. O mal tem levado uma enorme vantagem. E ainda falam em restrições à liberdade. De que liberdade estão falando? A liberdade consentida. Reprimida? Ou a liberdade sem responsabilidade?
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