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Ensaios-->Gabriel Garcia Márquez (um conselho para os homens!...) -- 03/03/2004 - 19:58 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quer relacionar-se bem com a sua mulher? Ao ser requisitado para um diálogo, não aceite! Aquela velha história do 'vamos conversar' sempre acaba em desastre. A premissa em questão consta de um documentário de TV e, embora cause estupor feminino, recebe anistia imediata, visto tratar-se de uma declaração irônica e divertida do Gabriel Garcia Márquez.

Embora não tenha se expressado exatamente com essas palavras, creio que essa idéia não é oriunda de nenhum desprestígio ao cognitivo feminino. Talvez tenha sido manifesta, creio eu, em alusão às variações hormonais e TPMs que geralmente requerem uma atenção bastante incompatível com a natureza masculina. O fato é que o autor parece sentir-se bastante à vontade meio ao universo feminino. Conforme relatado em seu livro 'Cheiro de Goiaba', registro de conversas entre ele e Plínio Mendonza, as mulheres com as quais conviveu tiveram bastante influência em sua vida. Com relação à sua mãe, afirma:

'Talvez seja a relação mais séria que tive na minha vida e acho que não existe nada que eu e ela não possamos conversar, mas quase sempre o fizemos, mais que com um sentido de intimidade, com um certo rigor profissional. É uma concepção difícil de explicar, mas é assim. (...) de todos os meus leitores, ela é o que na realidade tem mais instinto e, naturalmente, mais dados para identificar na vida real os personagens dos meus livros. Não é fácil, porque quase todos os meus personagens são como quebra-cabeças armados com peças de muitas pessoas diferentes e, é claro, com peças de mim mesmo. O mérito de minha mãe é que ela tem, nesse terreno, a mesma destreza dos arqueólogos, quando conseguem reconstruir um animal pré-histórico completo, a partir de uma vértebra encontrada numa escavação'.

Quando se trata de parceria conjugal, o livro retrata o seu depoimento sobre os (até a publicação da obra) vinte e cinco anos de casamento com Mercedes:

'Agora estamos quase completando vinte e cinco anos de casados e, em nenhum momento tivemos um desentendimento sério. Acho que o segredo está em que continuamos entendendo as coisas como as entendíamos antes de nos casarmos. Isto é, o casamento, como a vida inteira, é alguma coisa de terrivelmente difícil, que é preciso tornar a começar desde o princípio todos os dias da nossa vida. O esforço é uma constante e inclusive estafante, muitas vezes, mas vale a pena'.

Ao referir-se às mulheres em geral, Garcia Márquez não se furta em desnudar-se. Plínio Mendonza relembra o seu encontro com 'a mulher mais bela do mundo'. Depois de tê-la conhecido num coquetel, marcaram reverem-se no dia seguinte, na porta de um banco. Apesar das condições propícias, ele fugiu, o que o entrevistador alude à importância de seu casamento com Mercedes. Gabriel responde:

'O seu único erro de evocação dessa velha história é que o seu desenlace não tem nada a ver com a felicidade conjugal. A mulher mais bela do mundo não tinha que ser, necessariamente, a mais apetecível (...) Talvez, em última instância, não tivesse melhores virtudes que a sua beleza, e esta não era bastante para estabelecer uma relação que fosse boa para ambos'.

Na 'deixa' sobre o seu vínculo de fidelidade com Mercedes, acrescenta, interpelado por Plínio sobre qual teria sido a útima mulher que o inquietou:

'Posso dizer que foi uma que vi ontem num restaurante de Paris e não estaria dizendo mentira. Acontece a todo instante, de modo que não faço as contas. Tenho um instinto muito especial: quando entro num lugar cheio de gente, sinto uma espécie de sinal misterioso que me dirige a vista, irremediavelmente, para o local onde está a mulher que mais me inquieta entre a multidão. Não costuma ser a mais bela, mas sim uma com a qual, sem dúvida, tenho afinidades mais profundas. Nunca faço nada: basta-me saber que ela está aí e isso me alegra bastante. É uma coisa tão pura e bonita que às vezes a própria Mercedes me ajuda a localizá-la e a escolher o posto que mais me convém'.

Ao abordar a questão do assédio feminino decorrente da fama, haja vista a escassez de mulheres que já lhe ocorreu na fase de anonimato, Plínio sugere que Gabriel evita relacionamentos dessa natureza em razão da 'necessidade de manter a sua vida particular em ordem'. O autor responde de forma taxativa:

'O que me impede de ser (...) um garanhão público, não é a necessidade de preservar a minha vida particular, mas sim o fato de que não entendo o amor como um assalto momentâneo e sem conseqüências. (...) 'Não me refiro, é claro, às tentações passageiras, frutos da vaidade, da curiosidade e até do tédio, que não deixam rastros nem sequer da cintura para baixo. De qualquer maneira, estou certo de que não há mais nenhuma força telúrica capaz de transformar isso que você chama a ordem da minha vida particular e que todos entendemos, sem muitas explicações, o que quer dizer'.

Prosseguindo, ressaltada a sua vivência meio à avó, tias que se 'revezavam na atenção' para com ele, professora e mulheres da criadagem, o escritor confessa:

'Não poderia entender a minha vida, tal como é, sem a importância que nela tiveram as mulheres(...) Em todos os momentos da minha vida há uma mulher que me leva pela mão nas trevas de uma realidade que as mulheres conhecem mais que os homens e nas quais se orientam melhor com menos luzes. Isso acabou por se transformar num sentimento que é quase uma superstição: sinto que nada de ruim pode me acontecer quando estou entre mulheres.'


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'Cheiro de Goiaba'
Márquez, Gabriel Garcia
Editora Record, 1982.

Obs. Não me recordo do canal de TV que exibiu o documentário. Espero recuperar tal informação, assim como o nome do entrevistador.






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