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Ensaios-->20. “O LIVRO DE RUTE” -- 27/02/2004 - 06:09 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Página das mais belas, a história da pequena Rute comove ainda hoje os leitores menos sensíveis mas capazes de perceber, na humildade, na obediência, na obstinação da prática do bem, as virtudes essenciais daquele que busca concretizar na vida os objetivos que determinaram sua investidura na carne.

Vamos deter-nos nas três molas propulsoras que atribuímos ao caráter da jovem viúva. Sua humildade diante dos bens materiais fez com que aceitasse pacificamente as sucessivas provas a que foi submetida: o casamento imposto, norma consuetudinária do povo moabita, a resignação à vontade do marido, o luto sofrido mas contido pela morte dele, a submissão à sogra, Noemi, também viúva, a disposição de partilhar das dores da nova família, tudo que favoreceria a um espírito pior dotado o instinto da revolta. No entanto, Rute, em nenhum momento, elevou qualquer murmuração de desagrado. Assumiu o seu papel de nora exemplar e foi até o fim com sua missão, respeitando integralmente todas as determinações, por mais estranhas pudessem parecer.

Esse o segundo tópico norteador de sua personalidade: a obediência. Sabia como ninguém cumprir as ordens sem discuti-las ou rejeitá-las. Houve um instante que pareceu ser de rebeldia, quando, instada pela sogra para que voltasse para junto dos pais, negaceou e permaneceu fiel ao lado daquela que representava sua nova família. Sabia que a sogra passaria necessidades como tinha a convicção de que ao lado dela poderia desenvolver com mais segurança o conceito do amor ao próximo, através dos sacrifícios iminentes. Seu ato não foi de desrespeito ou de desobediência, mas passivamente soube imprimir, na mente e no coração de sua amiga, que a melhor resolução era aquela a que se determinara, mesmo correndo o risco de parecer orgulhosa e fanfarrona. O tempo correu em seu favor e pôde provar pelos atos que tomara a melhor decisão.

Isto nos remete à terceira virtude, a da obstinada perseguição da prática do bem. Caridosa e amorosa, abriu mão de sua condição de jovem bem tratada e, na amargura da situação aflitiva do desbaratamento dos bens, diante da necessidade de apanhar das sobras das colheitas, caminhou atrás das colhedoras para rebuscar as espigas desprezadas à cata de alguns grãos esquecidos.

Sua humildade, seu recato e sua determinação chamaram a atenção a Boaz e o restante da história pode ser lido com prazer na Bíblia.

O que nos importa referir é a semelhança das condições morais de Rute às de Maria, a excelsa mãe do Cristo. Ambas tornaram-se santas mulheres à vista da humanidade por suas qualidades superiores. Tais virtudes, evidentemente, refletem o ideal feminino do povo judeu. As mulheres intolerantes, sábias da sabedoria dos presunçosos, enfatuadas, desabridas, têm tido sucesso nas civilizações modernas, onde a arrogância parece sobrepor-se às demais formas de conceber o relacionamento entre as pessoas.

Se hoje nós não mais vemos em Maria a figura excelsa do simbolismo das fórmulas superiores da conduta feminina, principalmente porque nos parece que se prendeu a certos valores puramente materiais da preservação da vida ao não se entregar às mãos dos verdugos do filho, na tentativa de subtraí-lo à flagelação e à morte, causa-nos estranheza no procedimento de Rute a subserviência extrema de aceitar o risco de deitar prematuramente aos pés do futuro marido, passando com ele a noite, atendendo à arguta e maliciosa recomendação da sogra, que percebera ter sido o parente atraído pela candura da moabita.

Para ver defeitos nas pessoas, somos experientes e não seríamos nós que deixaríamos de apontar falhas na composição da personalidade das duas figuras femininas mais meigas e humildes das Velhas e das Novas Escrituras. Como se pode perceber, o mal é capaz de infiltrar-se tenazmente até para macular a memória das criaturas mais perfeitas.

Não sejamos tão inclementes e injustos. Saibamos reconhecer em Maria a mãe apta a todos os sacrifícios e vítima de todos os sofrimentos. Analisemos os textos evangélicos e averigüemos a impossibilidade de qualquer outra reação além daquelas que perpetrou, crentes de que mais não poderia, a não ser que a fôssemos medir pela nossa própria forma, o que lhe imprimiria o nosso caráter. Será que a sua santidade permaneceria intacta?

Da mesma sorte, devemos proceder relativamente a Rute, no momento que julgamos de fraqueza e de concessão ao mal. Se ela pareceu oferecer-se ao homem que a protegeu, na qualidade do que ela denominou de “resgatador”, este mesmo externou juízo a respeito, acreditando ter surpreendido na menina a candura da inocência e o reconhecimento da bondade, referindo-se ao fato de que, pela beleza e perfeição física, poderia ter procurado pessoa mais jovem e mais rica. Saberia que Boaz iria respeitá-la fisicamente, do mesmo modo que demonstrava fazê-lo moralmente? Teria confiado em sua perspicácia no conhecimento do espírito masculino ou somente atendeu ao apelo da sogra, ignorando qual seria o desfecho de seu pernoite ao lado do protetor?

Não poderemos, seguramente, responder com responsabilidade a estas perquirições. Só o que podemos observar é o que nos relata o texto bíblico, segundo o qual o resultado foi o mais plausível possível, pois Boaz só aceitou casar-se com Rute, após ter recebido total anuência da comunidade, tendo oferecido a quem de direito a possibilidade do casamento e a posse das propriedades. Tudo se regulou pela lei e Rute pôde dar à luz Obede, que viria a ser o avô de Davi.

Preserva-se, por conseguinte, a pureza da linhagem da qual nasceriam os principais reis de Israel, da mesma forma que os Evangelhos buscam solidificar moralmente os ascendentes familiares de Jesus. Como se vê, trata-se de tópico do procedimento bíblico, pois chega-se até a admitir-se que o Messias, para demonstrar determinadas características de sua personalidade, tenha nascido em meio aos animais da manjedoura, mas não se iria jamais aceitar, talvez por preconceitos definitivamente arraigados no inconsciente moral do povo judeu, que pudesse nascer de família de procedimentos irregulares.

É claro que estamos levantando o tema apenas para argumentar e para apontar o sentido de repetição que apresentam os relatos mais expressivos dos textos sagrados e nunca para dar curso a acusações injustas e desmerecedoras do crédito que firmamos nos diversos autores da saga moral e espiritual de nosso Senhor Jesus Cristo.

Como se pode observar pela descrição do caráter da jovem israelita, tinham os judeus o seu modelo de virtudes. Bastava copiar a imagem idealizada daquela criatura, para que o seu procedimento pudesse corresponder, em certos aspectos, aos ensinamentos que o Cristo, séculos depois, viria pregar à humanidade. No entanto, precisou que houvesse notável figura de puríssima virgem para reafirmar os preceitos morais necessários para a realização dos níveis de evolução dos humanos. A primeira figura judia oferecia certo aspecto de profanação da pureza, pois era viúva ao tempo do relato de suas proezas morais. Maria ofereceu-se à opinião através de diáfano manto de castidade, embora seja do conhecimento bíblico que, antes de Jesus, dera à luz outras criaturas, tendo procriado mais dois filhos após o Divino Mestre. A tradição buscou camuflar esses fatos para oferecer à opinião o relato miraculoso da maternidade sem coabitação material e a “délivrance” sem perda do hímen apologético da criatura intocada pela ânsia carnal, símbolo do mal em sua forma mais pitorescamente humana.

Enquanto amarrarmos a nossa solicitação de vida à dignidade meramente consubstanciada nos afanosos meandros da argúcia maliciosa dos que querem prevalecer à custa da burla da crendice e da ignorância alheias, não vamos deixar de ficar marcando passo interminavelmente. É preciso ultrapassar a mesquinha visão material para perceber a grandiosidade da natureza e o poder de legitimação que os atos naturais dão ao ser humano, sem maculá-lo de “pecado”, se cumpridos os princípios que regem as leis instituídas pelo Criador.

Ser esposa e ser mãe, portanto, são condições de todas as mulheres e em nada tais fatos interferem em seu grau de pureza. Rute e Maria, esposas e mães, ganham em santidade e espiritualidade por esses mesmos fatos e, se Deus, verdadeiramente, estabeleceu que a mulher pariria em dor, por que iria subtrair Maria à lei geral?

Estamos atentos para os que, neste instante, estão à socapa lembrando-se dos chamados “partos sem dor” ou das operações ditas cesarianas, em que as parturientes não se sentem agredidas pela natureza e não sofrem a desdita das contrações e da expulsão da criança. Para esses, devemos lembrar que o sofrimento estabelecido por Deus não se referia senão literalmente ao parto, ao nascimento das criaturas, mas indiretamente, enfática e metaforicamente, ao carma de suportar a existência na condição de procriadora da espécie, espécie que vem ao mundo para expiação de suas culpas e de seus crimes, espécie em débito para com as divinas leis, espécie, em suma, de purgação e, por isso mesmo, predestinada à dor e ao sofrimento.

Lembramo-nos de Eva, de Rute e de Maria. Outras figuras femininas existem nos diversos livros sagrados capazes de despertar a nossa atenção e o nosso interesse em bem compreender os objetivos cármicos dos encarnes nesse sexo. A nossa dissertação se estende por várias laudas, por isso vamos prometer que ainda voltaremos ao tema que tanto tem feito a humanidade refletir e meditar

Ergamos agora os olhos aos Céus e busquemos, entre os espíritos de magnificente luminosidade, algum que projete o nosso ideal de figura feminina. Solicitemos-lhe que nos oriente e que nos proteja das falsidades com que revestimos os nossos conceitos milenares a respeito das mulheres, pertençamos ou não a esse sexo na presente encarnação. Principalmente, peçamos-lhe para que nos faça bem compenetrar-nos de que a transitoriedade destas passagens pelo orbe estão a indicar que poderemos, em breve, retornar a este ambiente revestidos pela organização do sexo oposto ao atual, de sorte a podermos bem compreender quais as posições mentais e atitudes sociais que deveremos ter para com nossos confrades do outro sexo, a fim de cumprirmos a lei do amor ao próximo com integral, com absoluta isenção de preconceitos.

Façamos também desse espírito o nosso porta-voz junto à Divindade, para levar o nosso agradecimento e o nosso humilde desejo de nos vermos sempre amparados pelas suas sacratíssimas bênçãos. Especialmente, que solicite por nós ao Criador a felicidade de podermos usufruir as mesmas possibilidades de pautar o procedimento pelas excelsas virtudes que aquelas mulheres tão universalmente disseminaram através de seu exemplo. Finalmente, peçamos-lhe para que a nossa mente possa conceber com exatidão que hoje esses seres excelsos se ombreiam e se assemelham em tudo a todos os de suas categorias, capacitando-nos a entender que todos, sem exceção, peregrinaram por este mesmo orbe muitas vezes na condição feminina e outras tantas, na masculina.

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