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Ensaios-->17. O PEDIDO DO HOMEM RICO A ABRAÃO -- 24/02/2004 - 09:28 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Então, conforme nos diz “Lucas” (16:19-31), o homem rico, ao ver Lázaro ao lado de Abraão, lembrou-se de seus irmãos e rogou-lhe poder Lázaro voltar à Terra para avisá-los dos riscos que corriam por seu mau procedimento, obtendo do pai da raça judia a inconfundível admoestação:

Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. (Lc., 16:31.)

No entanto, o Consolador prometido por Jesus, pelo Espírito de Verdade, está aqui entre os mortais desde o século XIX, a trazer fartos conhecimentos do plano espiritual. Teria Jesus, pela palavra de Abraão na parábola, previsto desde o seu tempo que os homens repudiariam os ensinamentos dos “mortos”? Que mistério envolve esse texto em que o próprio Jesus faz com que, pelo efeito da metáfora, seu ensino se coloque na voz de um espírito? Que narrativa maravilhosa é essa que contradiz a si própria, mas que se inscreve dentre as mais belas páginas evangélicas?

Pois bem, Jesus pode ter ou não dito fisicamente o que acabamos de ler. Para nossa compreensão da verdade, pouco nos importa deslindar o caso neste momento. Poderia até ter acontecido de o evangelista ter copilado a narrativa de alguma tradição apócrifa ou mesmo ter elaborado adaptação de antigo conto hebreu, com a intenção de fazer valer o conhecimento da verdade espiritual, de sorte a encaminhar os leitores, os fiéis ou os religiosos da recém-formada igreja cristã a considerações de ordem moral elevada, impedindo-os de fazerem prevalecer em seu discernimento as razões de caráter meramente material. Deixemos de excogitações de ordem metodológica da escritura do texto e aprofundemos a nossa análise da verdade nele contida.

Na realidade, o narrador da parábola, tenha sido ele quem for, procedeu a uma aporia, ou seja, deixou o leitor na condição de ter de rejeitar o próprio texto, embora tivesse de reconhecer que, de fato, a voz do patriarca pudesse apresentar inteira razão. Ao aceitar o preceito de Abraão, abriria mão da verdade maior, o que era o efeito que não se desejava, pois a idéia era fazer crer ao ouvinte da pregação que inutilmente os espíritos falariam, mas, ao aceitar o que se colocou em sua boca, por contra-senso, se estaria admitindo a verdade dita por intermédio do espírito.

Sabemos que, para a maioria dos que perlustraram esta passagem bíblica, a contradição não se pôs, acatando-se de pronto que tudo o de que necessitam os humanos, realmente, tenha sido dito por Moisés e pelos profetas. Mas aí veio Jesus e nos ditou novas diretrizes de vida. Ulteriormente, deu-se o advento do espiritismo e o leitor atual se sente compelido a averiguar, com mais cautela, das intenções da narrativa.

Agora mesmo, pode o atilado amigo estar a raciocinar:

— Como se atreve esse grupo de espíritos vir à nossa presença, para nos lembrar fato que está consignado desde há muito no livro de Lucas? Se eles aqui comparecem com o intuito de nos instruir, perdem seu tempo, pois sequer leram com atenção o trecho que reproduziram. Não seria preferível que acompanhassem o Pai Abraão em seu passeio pela esfera espiritual, ao lado de Lázaro, o mendigo que, ao sofrer todas as suas desditas calado, fez por merecer a benignidade de Deus? Deveriam deixar aos mortais que experimentassem sozinhos a provação e verificassem se estão ou não aptos para adentrarem o reino do Senhor.

Tais considerações, evidentemente, entrariam em choque com todas as instruções recebidas dos irmãos situados em planos superiores da espiritualidade e que desejam oferecer aos mortais lições de vida, capazes de estímulos para mais rápido progredir na direção da consecução dos objetivos de vida de cada um. Por outro lado, possuir os recursos do auxílio e impedir que tal ato de benemerência ocorra será, por certo, ferir um dos principais ensinamentos cristãos, aquele, justamente, que se constitui no lema do espiritismo: fora da caridade não existe salvação.

Por que, então, Jesus nos propõe o problema da impossibilidade de manifestação espiritual para o rico desencarnado, desiludido finalmente das miragens de sua concepção da vida material?

Em primeiro lugar, quem proíbe a manifestação é, no mito religioso, uma das figuras preeminentes do judaísmo, ou seja, justamente um maioral da genealogia hebréia, aquele de quem se originaram as tribos de Israel. Ora, a lei mosaica, por razões que não nos cabe agora deslindar, interditava o contacto com os mortos. Por coerência, o representante dessa cultura não poderia desdizer da lei, nem se configurando mera aparição mitológica. Eis o princípio da verossimilhança a demonstrar o cuidado com que foi elaborado o texto evangélico.

A se aceitar a hipótese de que o rico pudesse vir aos irmãos trazer-lhes notícia do plano espiritual, tendo em vista o fato de ser espírito imperfeito, arremessado ao limbo das lamentações eternas, segundo o conceito hebraico, teria sido ele o melhor arauto da revelação? Absolutamente, não. Seria preferível, nesse caso, conforme pedido do infortunado, encaminhar Lázaro, apaniguado pela excelsitude e iluminado pela eterna felicidade. Mas teria Lázaro maior autoridade que Moisés e os profetas perante o povo? Sob este prisma, somos forçados a concordar com Abraão quanto à proibição estabelecida. Mais uma vez prima o texto bíblico pela verossimilhança, principalmente à luz do conhecimento espiritista atual.

Infelizmente, temos de concordar, em parte, com a afirmação de que os homens têm tido oportunidades integrais de conhecimento do que os espera no plano espiritual, à vista de sua produção no campo da benemerência e do amor, mas não obtêm o necessário discernimento para verificarem se seu procedimento está sendo conduzido pelas verdades evangélicas.

Qual teria sido o intuito da narrativa, na viva voz do Cristo, à época de sua peregrinação? Certamente a de alertar a população para o perigo das riquezas e para a necessidade de humilhação de caráter espiritual. Teria sido esse mesmo o intuito do evangelista? Este e mais outro: o de encarecer a grandiosidade do Mestre, através de seus ensinamentos, demonstrando, pelo volume e pela profundidade de seu pensamento, que estava com a verdade, de modo a fazer frutificar a ideologia cristã, cumprindo a determinação do Senhor de que os apóstolos fossem os portadores da boa-nova. Enquanto alguns somente pregavam e se sacrificavam pelo cristianismo nascente, outros buscavam ainda sua codificação, para transmissão às futuras gerações.

Nós somos uma dessas gerações. Certamente, já participamos de outras anteriores e, provavelmente, nos revestiremos de carne outras vezes mais, de forma que nos apresentaremos de novo como integrantes de futuras gerações. Nesta vida atual, como repercutem em nossa mente e em nosso coração os ensinos de Jesus? Seremos capazes de lembrar-nos de como recebemos esses mesmos conceitos em vidas anteriores? Se formos capazes de analisar o nosso proceder atual em função de tais critérios de virtudes adquiridas e de viciações desprezadas, por certo poderemos imaginar quais tenham sido as nossas reações e o nosso aproveitamento. Como serão afetados pela atual concepção de vida os encarnes futuros, dependerá exclusivamente de nossa compreensão dos valores e da aplicação deles no comportamento.

Havemos, pois, de entender os objetivos de Jesus e dos evangelistas. Havemos de bem assimilar as instruções dos espíritos superiores que estabeleceram os princípios da codificação de Kardec. Havemos de compenetrar-nos de que, a todo momento, estamos sendo visitados por nossos guias e protetores, para a devida influenciação e amparo. Havemos de rejeitar o conceito expendido por Abraão na parábola de Jesus, não pela verdade histórica nele contida, mas pela possibilidade de transmudá-lo à vista de nossa aceitação dos informes espirituais. Façamos, irmãos, pois, por ouvir a palavra de Jesus com muito entendimento e aliemo-nos a Lázaro em sua abnegada peregrinação pela carne, exaltando o Senhor e bendizendo as leis por ele estabelecidas, fazendo por compreendê-las, para que nos ponhamos em condições de subir na vida espiritual. Oremos com humildade para obter de Deus o favor de enviar os seus melhores mensageiros, para nos ajudarem, e roguemos para que nossos irmãos possam obter os mesmos esclarecimentos.

Fiquemos agora em paz por termos tido oportunidade de mais esta manifestação, à revelia da palavra do Abraão mítico. Para coroar esta longa dissertação, causando um pouco de perturbação e acendendo polêmica no espírito do caro leitor, perguntamos: se a palavra de Abraão estivesse correta, não estariam equivocados os evangelistas quando disseram que o Cristo, no alto de um monte, foi visto em companhia de Moisés e Elias? (Mt., 17:1-8; Mc., 9:2-8; Lc., 9:28-36.)

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