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Ensaios-->16. SOBRE O “LEVÍTICO” -- 23/02/2004 - 07:25 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nenhuma obra humana é tão clara nos deveres da população para com o Pai e os sacerdotes que este livro redigido por Moisés, sob imposição de Deus, segundo o seu testemunho, conforme consta em inúmeras passagens.

Moisés era egípcio de nascença mas de raça misturada, conforme diversas descrições de sua genealogia, havendo até mesmo obra de Rochester em que o espírito colocado na figura do narrador diz ter convivido com o legislador hebreu à época de seu retorno ao Egito, após ter-se exilado nas montanhas . É certo, portanto, que tinha conhecimento de diversas culturas e que, pelos seus feitos, era pessoa de extraordinário talento.

Escreveu o “Levítico” para imprimir ao espírito do povo judeu o temor a Deus e a forma de apaziguar a sua ira, ao mesmo tempo que objetivava exaltar o valor do sacerdócio, de protegê-lo e de preservá-lo, uma vez que a dedicação aos ministérios eclesiásticos e litúrgicos o impedia de possuir fazenda própria. Garantir-lhe a existência e o conforto era eficaz meio para manter o povo sob controle moral e religioso, de sorte que se instituíram determinados laços que conservaram o povo judeu, o mais possível, unido, se não em congraçamento ideal, pelo menos em função da origem comum e dos objetivos elevados. Daí a força que tal gente possui até hoje, pois, se uma que outra vez se puseram em armas contra si mesmos, sempre conseguiram meios de harmonizarem-se, tendo em vista os inimigos comuns. Grande parte dos méritos dessa união encontra-se nas obras de Moisés, dentre as quais se destaca o “Levítico”, pelas razões acima aventadas.

Mas a nós, o que nos importa agora é saber se há verdadeira presença do Senhor nos dizeres, recomendações e leis ali estabelecidas.

Tem início o texto, aliás bem repetitivo, com as recomendações em torno dos holocaustos, ofertas e sacrifícios destinados a glorificarem o Senhor. Tais orientações se colocaram na voz de Deus, conforme a transcrição:

Chamou o Senhor a Moisés e [...] lhe disse... (Lv., 1:1.)

Mais uma vez a manifestação se atribui ao Pai. Mas terá sido mesmo o Criador quem tenha determinado a ordem dos oferecimentos, segundo a necessidade de agradar a Deus de cada cidadão? Teria ele determinado, por exemplo, que fossem imolados animais de todos os portes e espécies para satisfazer-lhe alguma necessidade? E o teria feito de acordo, rigorosamente, com o poder aquisitivo de cada um, estabelecendo exatamente quais as partes dos animais a serem queimadas em sua honra e quais as que deveriam pertencer aos sacerdotes? Que necessidades teria o Ser excelso, que sabemos onipotente, onisciente e soberanamente bom e justo? Não poderia Deus, se assim determinasse sua vontade, obter da criação tudo quanto almejasse?

Bem pequeno seria Deus se se preocupasse em sentir prazer com a dissipação das fumaças gordurosas da queima dos cadáveres. Muito menos ainda se considerarmos como sua a determinação da matança dos seres inferiores. E dizer que até holocaustos humanos foram oferecidos ao Pai! É inconcebível e não iremos desgastar-nos mais, argumentando contra a possibilidade de ter sido o texto inspirado por Deus.

Teriam, então, sido espíritos superiores, categorizados entre os querubins e serafins, quem poderia ter-se feito passar por Deus e inspirado a Moisés, ordenando-lhe o registro das leis? Não, certamente, pois muitas das ordenações contrariam frontalmente o bom senso e, rigorosamente, ao manterem o estado atual da organização social, estabelecem princípios absolutamente injustos de desigualdades entre os mortais, o que não se poderia admitir em seres adiantadíssimos. Aliás, mesmo que imaginássemos espíritos não tão superiores, mas de luz fulgurante, a ditar tais preceitos, incidiríamos em erro muito elementar, pois, em termos de influenciação moral ou de qualquer ordem, nenhum deles possui alvará para realizar o que quer que seja por vontade própria. Entre os espíritos de nível elevado, a hierarquia é indefectivelmente respeitada e nenhum pode realizar algo que não tenha recebido prévio consentimento de seus maiores.

Resta-nos conjecturar que, se inspiração houve, só poderia ter sido de espíritos grosseiros, demasiado apegados ao plano material, mesmo que altamente interessados em programar, como vimos, a união das doze tribos originais. No caso desta suposição, precisaríamos ainda pressupor que Moisés não fosse a mente atilada que era, pois ficaria na inteira dependência dos esclarecimentos espirituais.

Ora, o codificador hebreu era homem de larga experiência ao tempo da elaboração das leis e não trabalhava sozinho, senão que sob a vigilância estreita dos poderosos da época, que lhe forneciam as idéias que desejavam inscritas no texto legal. Por outro lado, o arguto legislador sabia conciliar os interesses, de modo que, após as discussões, se recolhia para meditar a respeito da melhor fórmula que respondesse à maior parte das expectativas de todos, o que obrigava a cada um a abrir mão de pequena parte de seus interesses, em favor de verem consignados os seus privilégios maiores. Não poucos podiam imaginar que o que não conseguissem pelos meios consignados nos textos, talvez conseguissem por outros meios... De qualquer forma, ao recolher-se para a formulação do texto ideal para a satisfação do seu povo, Moisés receberia todo tipo de influenciação espiritual por via mediúnica, não ficando, portanto, ao desamparo de seus guias.

Mas o que foi bom para o povo judeu ao tempo de Moisés poderá servir ainda hoje para os diversos povos da Terra? Surpreendamos pequeno extrato significativo:

Se um homem coabitar com mulher e a sua menstruação estiver sobre ele, será imundo por sete dias; e toda cama sobre que ele se deitar, será imunda. (Lv., 15:24.)

O entrecho visa, evidentemente, a resguardar a saúde das pessoas, quer da mulher em período de menstruação, quando se criam em seu organismo condições favoráveis para proliferação de diversos agentes biológicos, promovendo o aparecimento de microorganismos potencialmente perigosos para sua saúde, quer do homem, que correria o risco de contaminação. A lei de resguardo se estende por sete dias, tempo considerado suficiente para término do fluxo menstrual, havendo ainda a restrição da utilização da cama para se evitarem os possíveis contágios.

Hoje, colocaríamos nós, em forma de texto de lei, recomendações que, à primeira vista, parecem tão plausíveis? Evidentemente, não. O progresso científico nos induz ao procedimento mais adequado ao organismo humano, esclarecendo-nos quanto aos problemas reais que ocorrem durante a menstruação e quais os riscos que a coabitação em tais circunstâncias poderia oferecer. Já não se toma mais à unha o proceder íntimo de cada criatura, oferecendo-se condições de segurança para a saúde humana, instruindo-se a sociedade por meio dos recursos de assistência médica preventiva, para o que se desenvolveu amplo programa educacional, que municia cada indivíduo de conhecimentos mais específicos, de sorte a bem se compreenderem as orientações relativas aos cuidados que todos devem tomar com a saúde.

Sabemos que estamos discorrendo em função da coletividade como um todo, a qual age e reage segundo critérios estabelecidos à vista da ordem geral. Blocos sociais existem, entretanto, onde a vida transcorre em condições pré-mosaicas, para as quais as recomendações do Levítico seriam tidas como totalmente desprovidas de fundamento. Para essas pessoas, vale a lei natural, certamente mais avançada que qualquer outra, se cumprida sem interferência das crendices e superstições que costumam obstar a sua aplicação mais conveniente.

Pois bem, atualmente o legislador não mais teria a preocupação de inscrever nos textos vigentes o mesmo espírito que prescreveu o tópico transcrito, pois está na consciência de cada qual realizar em harmonia com os preceitos das leis naturais o seu ato de coabitação. Sabemos, no entanto, que, à falta dessa determinação expressa na lei — e se ali estivesse registrada, seria o mesmo —, os homens praticam o coito em tempo de menstruação e que muitos adquirem, à vista desse fato, certas infestações microbiológicas, cuja etiologia é algo variável mas de caráter benigno. Observada a doença, corre-se ao médico, ao farmacêutico ou à pessoa mais experiente e se obtêm os recursos necessários para a purificação, para utilizarmos termo do texto bíblico.

Não deveria ter havido o intercurso em condições adversas. Houve. O homem ou a mulher adquiriram a doença. Foram punidos na justa medida de sua ignorância, imprevidência ou impudicícia. Medicaram-se e recompuseram sua saúde. Que tem a lei de ver com isso? Mais ainda, que sacrifícios deveriam oferecer a Deus para “limparem-se de seu pecado”? Pois Moisés responde a ambas as inquirições em seu texto, demonstrando cabalmente que o que nos parece hoje absolutamente de foro íntimo, era, em sua época, necessariamente, problema de caráter social.

Da mesma forma que não aceitaríamos o Levítico como códice de leis, devemos rejeitar o texto como de influenciação divina, pois Deus não trataria das coisas efêmeras, mas das eternas, não se preocuparia com as coisas mutáveis, mas com as perenes, não se dedicaria aos fatos da realidade dos homens, mas à espiritualidade em sua excelsitude. Deus não faria leis tão mesquinhas quando já estabeleceu as leis universais, aquelas que regem todas as causas e todos os efeitos.

Para que nosso texto não se comprometa demasiado com os aspectos filosóficos do problema relativo ao “Levítico”, vamos acrescentar apenas mais algumas considerações a respeito do valor dessa obra.

Longe de nós sequer desrespeitar qualquer posição de vírgula ou de pingo em i. Mas o que não podemos é admitir como verdadeiras as afirmações de que Deus ditou as leis e de que estabeleceu os princípios dos sacrifícios como forma de se chegar a ele. Ao texto mosaico devemos honrar com nosso respeito e consideração, colocando-o historicamente como passo importantíssimo para a evolução do povo judeu. Nada além. Diante da codificação das leis modernas, mais adequadas para a regulamentação do procedimento, e diante da codificação kardequiana, indubitavelmente mais segura no que respeita aos deveres que temos para com a existência e para com Deus, vamos obter junto ao “Levítico” tão-só a inspiração para percebermos que nunca o homem esteve ao desamparo do Senhor, mesmo quando o seu nome foi tomado em vão ou os interesses materiais humanos se confundiram com os divinos. Dizer-se que Deus escreve por linhas tortas será deveras apropriado para a compreensão de sua presença no “Levítico”, mas não nos deixemos extasiar pela letra do texto. Abramos mais uma vez os olhos para a verdade ali contida e saibamos localizá-la com a ajuda de nossos orientadores espirituais.

A análise que procedemos é muito pálida e sujeita a inúmeros acrescentamentos, mas acreditamos que possa servir de estímulo para que nosso leitor se anime a percorrer a vista sobre o texto bíblico, buscando haurir com clarividência os sábios ensinamentos ali preservados.

Fique o irmãozinho com Deus e compenetre-se de que a justiça divina se fará de modo a um dia prescindirmos de todas as nossas leis.

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