Usina de Letras
Usina de Letras
80 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62139 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10333)

Erótico (13566)

Frases (50548)

Humor (20019)

Infantil (5415)

Infanto Juvenil (4749)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140778)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6172)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->9. ADÃO E EVA -- 16/02/2004 - 05:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando Deus, na Bíblia, interrogou Adão:

— Onde está você? (Gênesis, 3:9),

obteve por resposta envergonhada que se sentia nu, a descoberto, e, portanto, precisava esconder-se. Estava criado aí o disfarce ou a necessidade de ocultação do crime, porque o homem não se revelasse tal qual era em sua estrutura moral. Até agora agimos assim, embora a expulsão do Paraíso se devesse à afronta que fizemos a Deus, na figura adâmica, símbolo da criatura humana e paradigma bíblico da psique culpada.

Como poderia, de modo mais claro, inscrever nos sagrados livros o autor para nos fazer conscientes de nossa pérfida personalidade? Deveria, com os recursos da época, escrever tratado de psicologia, para declarar o ser humano em débito com a verdade? Quem seriam os leitores suficientemente doutos para compreender algo que ainda hoje provoca polêmicas entre os mais sábios cultores das teses psicanalíticas?

A fórmula mítica usada foi tão perfeita que não há quem não conheça a história da maçã, da serpente e de Eva.

Mas o povo não desejou ver no mito algo que lhe dissesse respeito. Alguns inferiram que o pecado fosse original, de sorte que instituíram, em suas liturgias religiosas, meios para livrar os mortais desse peso consciencial primário, transformando o batismo pela água em sacramento de purificação essencial. O homem batizado estaria livre do princípio da culpabilidade inicial de sua vida, como se perdoado pudesse ser do fato de carrear para a Terra necessidades de expiação de crimes pregressos, o que tornaria todo ser humano puro, para sobre tal tábula rasa psicológica erigir a personalidade imaculada.

No entanto, povos que não se preveniram eclesiasticamente para debelar esse peso inato da consciência conseguem que seus cidadãos ajam de modo basicamente idêntico às chamadas raças de origem cristã. Não há diferenças essenciais entre o procedimento pagão e o resultado da aplicação superficial do aparato sacramental das religiões ditas ocidentais. Não é por ter sido batizado que o homem se torna digno de voltar a habitar o paraíso.

Mais ainda. Uma vez “sábio”, foi proibido ao homem tomar o fruto da árvore da vida, impedindo-lhe Deus, na Bíblia (Gênesis, 3:22 e 23), que viesse a adquirir o direito à vida eterna. Ora, tal concessão lhe havia sido dada anteriormente em estado de pureza. Não está aí o princípio cristão da necessidade de voltar-se o homem para o Pai, de modo a amá-lo acima de todas as coisas? Evidentemente, para fazê-lo integralmente, deverá limpar o coração de toda maldade, o que só conseguirá se extirpar dele todos os eflúvios de malignidade, devendo compor-se como originariamente foi criado, ou seja, no estado da mais pura inocência, de sorte a poder voltar a apresentar-se nu diante do Pai.

Quem, em sã consciência, se julga em tal estágio de perfeição para merecer provar do fruto da vida eterna? Certamente, quem for depurando-se aos poucos, segundo as leis que se instituíram para os seres humanos no momento crucial da expulsão, de forma alegórica mas definitiva e veemente: através do trabalho, para se conseguir sobreviver, e através da dor, para possibilitar aos semelhantes o seu nascimento para a vida. No que respeita ao esmagamento da cabeça da serpente, a interpretação é claríssima: havemos de exterminar o mal, tomando cuidado para não sermos por ele atingido, ou seja, prevenindo-nos para que a víbora não nos alcance o calcanhar.

Quanto ao fato de a história bíblica referir-se a dois seres distintos, ou seja, Adão e Eva, não consignando à mítica unicidade do ser, para estabelecer referência à espécie, mas dualizando, para configurar a duplicidade dos gêneros, evidentemente, é para lembrar que a forma pela qual se reveste o espírito na carne lhe propiciará alternativa de contextura psicológica, havendo, portanto, que se diferenciar o procedimento masculino do feminino, tendo em vista as funções orgânicas diferenciadas a partir do aparelho reprodutor, o que determina necessidades bem díspares de crescimento moral. Aliás, a própria notação bíblica estabelece distinção entre o procedimento feminino, muito mais voltado para a realização individualizada, do masculino, endereçado à concretização de ideais mais extensos e abrangentes.

Cabe lembrar, de passagem, que os espíritos não têm sexo, de modo que não estamos interessados em demonstrar superioridades ou inferioridades, uma vez que todo ser humano deverá suplantar as deficiências que apresentar, segundo seu encarne seja masculino ou feminino, o que variará pelos tempos, conforme as necessidades pessoais.

Esta “lição” não visa a derrogar a visão bíblica da entidade humana em seu aspecto primitivo. Ao contrário, vimos intentando sancioná-la, desvestindo-a, porém, de seus aspectos mítico-literários, para revelar o homem em seu estado natural. Se bem compreendida a noção ali escondida, como sugere que esteja o próprio texto em que se demonstra que o homem tem necessidade de se vestir para apresentar-se em público, poderemos, inclusive, enaltecer o texto bíblico, atribuindo-lhe aspectos de elevada inspiração, como se sugerido fosse por seres de estratificação superior na escala evolutiva.

No início, ao nos referirmos ao autor do mito, não inscrevemos o nome de Moisés como sendo quem deu vida à lenda, embora saibamos que de sua lavra são os cinco primeiros livros da coletânea sagrada. No caso da criação do mito de Adão e Eva, Moisés somente argamassou os elementos para edificar a obra, uma vez que a história estava divulgada em seu meio, tendo chegado ao seu conhecimento por via da tradição oral. Sabem os eruditos que o mesmo entrecho se conhece nas tradições milenares de diversas outras seitas religiosas, sendo cediço comentar aqui o fato de que a mesma inspiração possa ter-se revelado a médiuns postados à cabeceira das diferentes tendências míticas humanas, ao influxo das necessidades espirituais de caráter superior, para encaminhar os encarnados, no sentido de vasculharem a sua consciência com o objetivo de aliviar os seus sofrimentos por via da compreensão da vida e da existência. Não há negar a possibilidade ainda de as diversas teorias terem origem comum, mas aí iríamos perlustrar caminhos desconhecidos para a história da humanidade.

O que nos importa, neste instante, é dar a conhecer ao querido leitor a possibilidade de a Bíblia, neste capítulo, estar falando de Deus mas referindo-se a seus enviados de luz, o que é fato que se repete constantemente, como denunciamos nas mensagens anteriores.

Não há, pois, que desmerecer o mito de Adão e Eva, mesmo se suprimirmos da lenda a presença da Divindade. O que avulta em importância é ter ele precisão psicológica, imponderável para a criatura incapaz de aceitar a obra como inspirada mas humana, contudo perfeitamente natural e realista para quem acrescentar à sua cultura o aprendizado mais atual do conhecimento da mente, como resultado da pesquisa mais isenta de crendices.

Ver em Adão e Eva, indissoluvelmente ligados pela psique, a natureza mesma da criatura humana é perceber algo de grandioso que só a onisciência divina seria capaz de conceber em seu ato de criação. Agradeçamos, pois, ao Pai a possibilidade que nos deu do conhecimento, embora, através dele, Adão e Eva “tenham pecado” e por isso sido expulsos do paraíso. Sem esse perscrutar da mente humana, jamais iríamos ter a possibilidade de retornar ao paraíso, que nos parece muitas vezes perdido. E esse conhecimento do interior consciencial deverá fazer-se à luz do evangelho, sob os auspícios da doutrina espírita, de modo que poderemos ir desde logo purificando o nosso proceder e ofertando ao Senhor o resultado de nossos labores, conquanto regados por muita lágrima e sangue. Cumpramos o carma bíblico para satisfazer os princípios estabelecidos pelo Senhor para nossa sobrevivência e saibamos esmagar a cabeça à víbora das viciações.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui