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Ensaios-->8. OS CÂNTICOS DE DAVI -- 15/02/2004 - 06:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando a pessoa se sente forte e engrandecida e pratica atos de superior envergadura moral, costuma atribuir o seu proceder ao Senhor, agradecendo-lhe as boas qualidades de que se vê dotada.

No cântico de Davi (II Samuel, 22:1-51), vemos exatamente isso, mas com relação aos seus feitos guerreiros. Diz ele que combateu, que pelejou, que enfrentou inimigos duríssimos e que todas as vitórias devem ser atribuídas ao favorecimento de Deus à sua pessoa. Mas Davi também pilhou, assassinou, destruiu, tomou, pela força da espada, inúmeras populações, transformando-as em escravas. E tudo isso também atribui ao Senhor.

Ao final da vida, reconhecido pelo lauto banquete que foi sua existência na carne, agradece as benemerências de que se julgou apaniguado e entrega sua alma ao Pai, crente de tê-lo servido na justa medida em que protegeu o seu povo e em que afastou dele a ameaça inimiga. (II Samuel, 23:1-7.)

Teria o comandante supremo dos exércitos judaicos tido realmente o concurso da ajuda do Criador? Poderia vangloriar-se de ter sido criatura privilegiada diante dos olhos do Pai? Poderia conceber sua vida como inteiramente devotada à realização dos objetivos cármicos de crescimento e evolução morais, para fazer jus ao ingresso ao círculo seguinte de adiantamento? Com que olhos os espíritos hoje considerariam o arguto guerreiro, que infligiu aos inimigos as mais contundentes derrotas, exigindo sempre a paga do espólio, sem jamais se ter condoído aos clamores do perdão?

Do ponto de vista judaico, Davi pode ser considerado como o fautor da unidade e do equilíbrio pátrios, mas, aos olhos do mundo, não passaria de reles conquistador e de temível adversário. Ainda hoje, nos conflitos do Oriente, vemos as conseqüências do ódio milenar, pois nem as inúmeras restituições aos domínios da carne foram capazes de fazer tão renitentes espíritos renegarem o seu rancor e ainda agora viceja flamante o desejo de vingança, que ameaça concretizar-se de todas as partes. Mais ódio a somar ao ódio, mais dor, à dor, mais sofrimento, ao sofrimento. Pela região passou a branda figura do Cordeiro, mas lá vicejam as religiões dos deuses guerreiros, entreolhando-se devoradores de almas. Jeová e Alá cruzam, nas mentes e corações muçulmanos e israelitas, os sentimentos e pensamentos mais aguerridos de revolta contra os invasores, pois na Terra não há quem habite fora da propriedade do Senhor. Todos, entretanto, se consideram ali igualmente injuriados e com plenos direitos de domínio sobre a região.

Se o povo está submetido e sofre a desdita do tacão opressor do inimigo incômodo, aí lança aos Céus seus rogos mais comoventes e seus insistentes pedidos de força para afastar o irmão transvestido de inimigo. Se arma conveniente não lhe chega à mão, diz-se desamparado pelo Pai e lembra-lhe o seu direito antigo à proteção pela palavra lançada nos livros sagrados, como se Deus, ele próprio, tivesse feito e devesse cumprir promessas.

Ilustremo-nos com o Salmo de número 80:

“Ó Pastor de Israel, dá ouvidos: tu que guias a José como a um rebanho, que te assentas entre os querubins, resplandece. Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o teu poder e vem salvar-nos.” (Salmos, 80:1 e 2.)

E sobre esse choque milenar, entremeado de mortes, exílios, lágrimas e sangue, paira o fantasma do materialismo mais inconcebível dos que vêm de longe para resgatar o direito à exploração do subsolo, já que se não contentam mais os homens em lutar pelas planícies e pelos vales.

Um dia, o ser humano acordará desse seu sonho de grandeza e de poder e dirá, inconsolável, perante a sua consciência:

— Senhor, que fiz eu? Que males pratiquei, insensato, contra aquele a quem deveria amparar e proteger? Em que espécie de bárbara criatura me transformei, às clarinadas de meu egoísmo, de meu orgulho e de minha vaidade? De que sabedoria me acreditei possuidor para julgar-me indestrutível diante das armas inimigas? Que fiz de mais esta peregrinação infrutífera?

Mas tal tempo de despertar está distante até para quem, vendo o desastre iminente, se julga ao resguardo das responsabilidades por encontrar-se distante do palco dos entreveros, esquecidos de que suas máquinas também consomem do mesmo combustível e de que suas inteligências e braços imaginaram e construíram a civilização que agora perece por força de sua base materialista. Se a cada pequena invenção produzida pela engenharia tecnológica se acrescentasse simples prece de agradecimento ao Senhor e honesta requisição de luz para neutralizar os efeitos deletérios que, como iniludível conseqüência, eram factíveis de perceber, certamente o homem não teria construído as armas com que agora irá destruir-se.

Se é bem verdade que elegeu o Pai como árbitro de seu proceder, como comprovam as preces que repete a toda hora, em todos os campos em que se aprestam os soldados, não há negar que tais orações eliminam de vez a figura do irmão que se encontra atrás das lindes divisionárias. Cada qual pede proteção para si mesmo, esquecido de que tal manto só o agasalhará se, ao mesmo tempo, estender-se também para os inimigos.

Vamos, pois, todos nós, esquecer as vitórias de Davi, quer sejamos fiéis seguidores de suas leis, quer encontremo-nos ao lado dos perjuros, sofrendo as mágoas da derrota. Saibamo-nos todos perdedores diante de Deus e clamemos a ele compreensão para o nosso ato de viver. Saibamos limitar a nossa posse pelo limite da de nosso vizinho e respeitemos os seus direitos, em nome do divino amor, para que por ele também vejamos respeitados os nossos.

Se não nos for possível tão já compreender a palavra do Cristo, se ainda séculos nos separam do Consolador, pelo menos abramos o coração para a excelsitude do perdão e logremos do Senhor a inefável bênção de podermos compreender que o bem que desejamos que nos seja feito deva ser exatamente aquele que reivindicamos para todos os mortais. Se ainda nos é difícil respeitar a lei do amor e da justiça, se nosso labutar nos propugna o benefício de nosso lar e a proteção de nossa família, que, pelo menos, sejamos instruídos no sentido de admitir a lei da defesa como direito de todos, de modo que, ao nos protegermos contra os males, não nos tornemos nós mesmos os carrascos de nossos adversários.

Transformemos a nossa fraqueza em força de resguardo, admitindo em nossos irmãos separados de nós pela ideologia religiosa e pelo rancor nacionalista a mesma investidura de filhos de Deus. Aceitemos a necessidade do progresso, que tão bem compreendemos para a vida social, como princípio de nossa organização espiritual, de sorte a adquirirmos o poder de ponderar a respeito do equilíbrio cósmico como realidade tangível e, portanto, como meta de realização. Não nos atenhamos a meros sectarismos religiosos, nem nos deixemos empolgar pela astúcia da palavra dos líderes que nos conduzirão à morte; antes, rebelemo-nos em nosso coração, de modo a formar escudo vibratório de defesa, para que ensejemos às forças da espiritualidade superior que atuem em favor de nosso progresso, evitando a estagnação a que nos condenaria o ódio e o crime.

Sejamos coerentes com o beneplácito da vida que recebemos e, do mesmo modo, ajamos com relação a todos os semelhantes.

Se nos é difícil referirmo-nos ao bem sem referências às virtudes evangélicas e sem aludirmos aos conceitos cármicos trazidos pela doutrina espírita, que dizer, então, dos pobres fiéis em seus templos de incrustação e fermentação do ódio?! Haveremos, pois, de compreender os irmãos que se iludem pelas palavras bíblicas, de modo a muito orar por eles, para que recebam com algum discernimento as intuições que seus guias de luz lhes enviam, com a finalidade de despertarem para o conjunto das verdades que se contêm nos livros sagrados, fazendo-se capazes da separação do joio do trigo.

Perdoe-nos o amigo leitor se tão longe fomos buscar na história as causas do desastre que se avizinha no Oriente Médio e que graves repercussões terá para o restante dessas pátrias econômica e militarmente interligadas. Todavia, se bem for analisada a situação, poder-se-ão ver nos campos de luta os mesmos exércitos, os mesmos líderes e os mesmos sufragistas. O que já não se encontra ali são as inocentes vítimas dos conflitos, as santas criaturas que oraram fervorosamente a Deus pelo fim do ódio e do espírito de vingança, os que reconheceram que a continuidade das guerras era o mal maior a impedir o progresso, transformando-se todos eles em espíritos protetores, alguns assistindo a multidão dos círculos superiores, outros rogando à Divindade pelo término das hostilidades, a maioria produzindo legítimas vibrações de amor para obstaculizar as negras influenciações dos perversos que ainda mantêm o ódio como chama viva de sustentação existencial, acreditando ver nos inimigos a causa de seus sofrimentos, quando são tão-só o resultado da sua própria iniqüidade.

Ergamos aos Céus a nossa prece mais comovida, rogando a Deus compreensão para mais este conflito dentre tantos que vêm ensangüentando o solo neste século de horrores. Que possam os espíritos de luz transformar em arranque para a bem-aventurança os graves sofrimentos que a muitos atingirão, procurando ganhar para a espiritualidade o que, certamente, se constituirá em grossa colheita para a morte. Saibam eles, com o auxílio da divina providência, reverter esse processo que nos parece tão doloroso e circunscrever a área de perversidade e de malignidade, abrangendo apenas os seres mais empedernidos, de modo a desarticulá-los, para favorecer, também a eles, o ingresso nas hostes do Senhor.

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