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Ensaios-->56. 30.o Relato — ESCUDO PROVIDENCIAL -- 05/02/2004 - 07:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não espere grandes coisas de mim. Se é certo que pude vagar ao léu, observando o que se passa pela face da Terra, bem pouco pude adentrar no coração humano, de sorte que minha existência tem passado a satisfazer a curiosidade a respeito das causas e efeitos das aparências, sem atinar com as razões íntimas que levam as pessoas a executar as tarefas e a deliberar a respeito do que lhes seja mais efetivo nas circunstâncias em que vivem. Assim, se alguém joga um prato no desafeto, eu sei que este terá motivo para revide, mas fico sem conhecer as razões que o levariam, por exemplo, a não devolver a agressão na mesma moeda. Desse modo, fico na superfície e não consigo aprofundar-me no conhecimento das pessoas.

Perguntam-me se já sondei a minha consciência ou a minha mente.

Aí também sofro do mesmo mal. Sei que pratiquei coisas muito feias. Talvez seja o medo de ficar reavivando essas memórias funestas que me impeça de intentar abrir o próprio coração, para investigar as causas das idiossincrasias. Certamente, o fato de vagar à busca de soluções seja o reflexo desse medo.

Querem que conte o que tanto me atemoriza. Se for sem esmiuçar as coisas, poderei referir-me a alguns fatos relevantes. Estou à vontade para relatar o que quiser, desde que não fira o decoro humano, já que as observações estão sendo anotadas para registro de mais um caso, com a finalidade de estudo e aprendizagem. Vejo que avulta a importância de minha presença aqui e me sinto temeroso de não ser bom exemplo.

Fazem-me perceber que, por mais que tenha cometido crimes, nunca direi nada que possa ser desconhecido dos instrutores. O que se requer é certa delicadeza mental, para não referir-me a certas minúcias chocantes e tristes, de modo a envolver emotivamente os leitores.

Pois bem, penso ter entendido tudo, pois o que não sou é bronco.

Em minha vida pregressa, matei, roubei e estuprei. De volta ao etéreo, sofri a desdita das perseguições. Após longo período nas trevas, inconsciente do que fazia, solicitei nova oportunidade e internei-me na carne. Tive de aturar diversos espíritos malignos na família, de sorte que me vi às voltas com situações lastimáveis de profundas depressões, por me sentir rejeitado e odiado.

Consegui superar os instintos de rebeldia e cheguei ao final da jornada isento de qualquer crime de sangue, embora não tivesse conseguido suplantar a ojeriza que sentia pelos antigos desafetos integrados à comunidade que dirigia como membro mais antigo, detentor do poder e do dinheiro.

Cometi todos os deslizes do ditador que se sabe poderoso por manobrar os interesses subalternos dos que se situam na órbita do astro regente do sistema. Através de estratagemas de caráter financeiro, pude controlar por inteiro a vida de cada um deles, de sorte que distribuí “justiça” ao meu bel-prazer, esquecendo-me por completo que deveria prover-me de amor e ternura.

Se os que gravitavam ao meu derredor foram contidos em sua fúria, enquanto permaneci ditando as normas, assim que se viram libertados de minha influenciação, passaram a objurgar a minha existência com mais ênfase e intensidade que o faziam no plano astral. Mas eu me sentia a coberto da influenciação, pois, miseravelmente, internei-me em asilo suntuoso, buscando refúgio em outro país e despojando a todos da herança que lhes cabia por direito hereditário. O que recebera dos maiores, desbaratei integralmente, aproveitando cada ceitil em meu favor. Ao final, restou aos demais a miséria mais tenebrosa, ficando em condições piores dos que nascem sem nada possuir, pois conheceram muitas grandezas e das alturas se viram arremessados às mais vis condições de vida.

Sob certo aspecto, minha atitude até que foi boa, pois as desagregações que se deram evidenciaram a fragilidade do relacionamento entre as entidades que compunham os vários núcleos familiares. Para outros, foi importante compenetrarem-se da necessidade do trabalho e isto lhes deu firmeza de caráter para manterem os lares constituídos e as famílias unidas em torno de certa fraternidade que o empenho dos pais fez transparecer aos filhos.

Mas todos, indistintamente, reconheceram em mim o vilão que lhes transtornou a felicidade material que haviam programado para a encarnação. Hoje, muitos ainda estão encarnados e vou visitá-los com freqüência, mas temo que o reencontro venha a ser penoso por causa de minhas atitudes.

Estranhamente, pareceu-me ter discorrido como se concebesse inteiramente as causas que deram origem ao meu procedimento. Creio ter sido proficientemente ajudado por esta equipe que trabalha com tanto interesse por revelar aos sofredores os motivos de seus desatinos.

Não sei por que bloqueei de mim mesmo os crimes e perversidades. Dizem-me que o medo foi importante elemento restritivo da perquirição consciencial, mas que há outro elemento muito poderoso: é a grave emissão de fluidos e energias de caráter negativo que endereço aos antigos companheiros de jornada, a quem jamais perdoei por todas as atitudes de rebeldia contra as decisões que tão voluntariosamente eu tomava contra eles. Esse vibrar em desamor obscurece-me a aura e perturba-me o procedimento. Poderei vagar ainda mil anos, mas se não superar essa dificuldade, jamais vou conhecer-me perfeitamente e jamais irei crescer moralmente.

Agradeço estremecidamente toda a atenção de que fui alvo. Espero não ter relatado nada que possa ferir susceptibilidades à flor da pele, embora, confesso, tenha tido vontade de desancar sobre alguns dos inimigos, exibindo o que de profundamente injusto e brutal fizeram para comigo. Estou referindo-me propositalmente ao fato para comprovar a observação dos doutrinadores a que acima aludi.

Sinto-me mais confortado e confiante de que poderei receber orientações capazes de me fazerem entender o quanto e o como deverei caminhar para refazer os vínculos que um dia rompi. Hesito em atribuir a ruptura só a mim, pois sei que os demais forcejaram em muito para que tal ocorresse. Espero em Deus que possam todos eles receber a mesma assistência que estou tendo e que possam, igualmente, elucidar-se quanto à necessidade de suplantação do atual estado de coisas.

Ao irmão escrevente, desejo sucesso em seu caminhar nesta belíssima tarefa a que se propôs e agradeço-lhe enternecido por traduzir em palavras de elevada significação o que tão broncamente (ao contrário do que antes afirmei) lhe vibrava. Reconheço que, se meu intelecto foi capaz de lucubrar maldades, revestindo tudo maliciosamente de segurança financeira, para finalmente vingar-me de todos os malfeitos, o coração permaneceu inalteravelmente rígido, argamassado na mais terrível filosofia baseada na lei de talião, cerrado para qualquer prurido que fosse de algum sentimento outro que não o ódio.

Vejo que atribuí aos adversários a falha mais característica de meu caráter e percebo que vou ter de penitenciar-me por ter pecado tão dura e tenazmente contra todas as leis do amor. Reconheço que foi uma bênção ter-me envolvido de esquecimento e de impossibilidade de penetração na consciência, pois o monstro que ali estou entrevendo está começando a me apavorar. Socorro, irmãozinhos! Salvem-me de mim mesmo e desta visão desoladora! Por favor!



Comentário

Nesta altura da manifestação, resolvemos administrar ao irmãozinho alguns sedativos, para que não desperte integralmente para a realidade da consciência. Se a luz que recebeu para interpretar o seu papel nesta sessão foi benéfica para evidenciar-lhe a necessidade de aprofundamento do conhecimento de si mesmo, acabaria por ser-lhe prejudicial, se mais além fosse, uma vez que não existe passar do estado consciencial mais letárgico para o da plenitude do conhecimento, sem incidir em falta de comiseração e de compaixão.

Se, muitas vezes, os indivíduos despertam de chofre para a realidade, fazem-no ao influxo das vibrações negativas dos inimigos ou por ocorrência de atenuantes a que se apegarem. Quando o trabalho de descerramento se faz por meio do socorrismo ativo, nunca se procederá “ex abrupto”, para não possibilitar ao remédio ser mais prejudicial que a doença.

Fique o irmãozinho leitor tranqüilo que o grave senhor que aqui aportou com certa sobriedade não se transformou em alma penada ao deixar o nosso círculo. Está recebendo o influxo benéfico das energias sagradas para reconstituição perispiritual e, em seguida, será encaminhado para o competente setor de triagem que o destinará para a área hospitalar correspondente à sua situação.

Quanto ao que disse, para que não pairem dúvidas, tudo foi extraordinariamente verdadeiro, correspondendo exatamente aos relatos que temos e ao estudo que lhe fizemos da aura. Podem-se, pois, inferir as conclusões concernentes ao padrão vibratório e ao modo peculiar de ver a vida e a existência. O resultado a que se chegar, certamente, remeterá o caro leitor a analisar o próprio proceder em relação aos semelhantes, aos familiares, de forma a possibilitar-lhe, desde logo, o enfronhar-se na própria personalidade, para alteração de tudo que lhe parecer insólito, mal formado ou positivamente errado.

Fique com Deus, caro irmão, e ore muito para não ver a consciência tão impenetrável quanto à do irmãozinho assistido. Vá em paz e retempere as energias, solicitando dos maiores, dos guias, dos amigos e irmãos na espiritualidade, que lhe propiciem as vibrações de amor e de afeto que faltaram ao amiguinho.

Graças a Deus!

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