Sete sílabas por verso
Sete versos por estrofe
Poesia e regabofe
No popular universo
Do Cordel trovador
Em palavras submerso
Ou emerso por amor
Ora tecido em louvor
Ora enrolado à navalha
E às vezes quando calha
Numa espada ou em flor
O Cordel é desfiado
Como contas multicor
Entre Deus e o Diabo
De curto ou longo rabo
A sua matéria prima
É o gorjeio da rima
Entre o ritmo marcado
E a lucidez da ideia
Em cada verso entrançado
Em gostosa melopeia
Consoante se enleia
E também se vai torcendo
Vai o Cordel aparecendo
À luz viva da candeia
Que os poetas acendem
Tal e qual a lua cheia
Das musas que se não rendem
Se há motes que ofendem
Outros há que se enlevam
E de esplendor relevam
Aqueles que bem entendem
Que a vida só vale mais
Se as benesses que pendem
Pra todos forem iguais
Nobres são os ideais
Dos poetas que labutam
E com franqueza permutam
Conhecimentos totais
Sob a arte milenar
Dos trovadores e jograis
Que não cessam de cantar
Cordel ?... Via sem par
Sete sílabas... Sete versos
Fio de sonhos dispersos
Que o povo sabe entrançar
Em sete estrofes e a troco
Quero eu mesmo puxar
A corda onde me enforco !...
António Torre da Guia