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Ensaios-->22. 14.o Relato — DESPERTAR DA FÉ -- 01/01/2004 - 07:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Durante séculos perambulei pelas trevas, carregando comigo o fardo de minhas viciações. Nunca tive momento mínimo que fosse de descanso. Ansiava por voltar à Terra, encarnando-me fosse na mais miserável criatura, como ouvira falar por companheiros que partiam, na esperança de reencontrar a felicidade perdida.

Exaustivo seria narrar todas as peripécias de minhas maldades. Aliadas à desfaçatez característica de minha personalidade, agrupavam-se outras viciações do mais profundo vilipêndio às normas do Senhor: fui injusta, sovina, egoísta e demais apodos que se possam juntar para caracterizar a pessoa que tudo fazia para poder levar vantagem. Perto de mim, os brasileiros de hoje eram “fichinhas”, “café pequeno”. Perdoe-me, leitor, a gíria que conheci na última encarnação. Aliás, é a respeito desta que gostaria de discorrer mais precisamente.

Aqui chegada, por honra e graça de alguns amigos — incrível que pudesse tê-los! —, fui logo compenetrando-me das tarefas que deveria realizar e, dentre elas, destacava-se a necessidade de narrar os feitos do derradeiro encarne.



Luzia foi meu nome. Era mãe afetuosa de diversas criaturas a quem tinha de ministrar os melhores cuidados, por força contratual de caráter espiritual. É o que se chama de “carma resignado”, imprescindível para se superar a dificuldade de reconciliação, pois aquelas criaturas eram antigos desafetos.

Naturalmente, tendo tudo facilitado por economia regrada e por finanças abastadas, foi fácil conduzir os pequerruchos nas sendas do amor familiar, enquanto se utilizavam ainda de calças curtas. Aliás, minha inteligência, por solicitação minha, também não era grande e podia contentar-me com a segurança de lar bem constituído. Pensava assim:

— O que importa é ter o marido sempre em casa; o que ele faz fora é responsabilidade dele.

E fechava os olhos para tudo. Por isso, engordei além da conta. Sem ter necessidade de trabalhar e sem ambições de parecer bela para a sociedade, alargava as roupas domingueiras da missa, ia a uma ou outra festa de casamento; mas o que queria mesmo era ficar em casa.

Meus filhos cresceram nesse ambiente morno, sem grande cultura, sem grandes virtudes, sem inquietantes vícios, até que...

Eis que sempre chega aquele dia fatídico em que as coisas se precipitam. Soldado que sai à guerra sem armas não pode retornar vencedor. E foi o que ocorreu com meus pequenos: um a um foram adentrando os caminhos dos vícios. Eu, matrona assentada no lar como refúgio inexpugnável, não sabia operar com diligência e sabedoria e fui fechando-me em minha fortaleza, cega pelo egoísmo, insensível para a compreensão de que meu mal maior estava “colocando as manguinhas de fora”. Mas a desdita de cada um de meus filhos foi calando-me fundo na alma.

Um deles baleou um policial durante tiroteio em que a polícia averiguava certo ponto de cocaína. O infeliz se deixou prender e transtornou toda a família.

Outro atropelou um pedestre, arremessando o carro contra ele durante corrida noturna pelas avenidas da cidade. Não contente com isso, desgraçou a vida de duas moças, precisando fugir para outro Estado, dadas as ameaças da parentela.

Meu terceiro teve de ser internado em clínica especializada para viciados em drogas. Definhou em pouco tempo e, tendo contraído doença pulmonar, faleceu.

Por essa época, meu marido, após inúmeras discussões comigo, em que me inculpava por não ter bem educado as crianças, abandonou-me e foi viver com a amásia. Penso que tudo foi desculpa para a resolução que de há muito havia tomado. Ainda bem, porque minhas preces começavam a ser ouvidas. Devota do santo padroeiro do bairro, Santo Estêvão, comecei a rogar pela devolução da antiga estabilidade emocional, que se armara sobre a tranqüilidade enganosa da vidinha modorrenta que levara.

Companheira de preces, um dia, minha amiga Isaura, aqui presente nesta oportunidade, pois nos tornamos inseparáveis, convidou-me para ir em visita a famoso médium, o qual talvez pudesse trazer-me notícias do Alfredinho, o querido filho desencarnado. Tendo ouvido contar os maravilhosos “milagres” operados pelo santo homem, pus-me a caminho da cidade mineira.

Lá chegando, estranhei a multidão que aguardava ser atendida e levei três dias para poder arrumar lugarzinho na sala das sessões. Naquela noite, arrepio-me ainda agora, presenciei os primeiros contactos mediúnicos de minha vida. Para felicidade minha, estava presente o espírito de meu filho, que me deixou escrita longa mensagem de amor e saudade. Foi a minha transformação. Não resisto à imagem de que foi meu filho que me deu à luz da fraternidade espírita. Debulhada em lágrimas, muito beijei a mão de meu benfeitor e prometi-lhe volver à minha cidade com a firme decisão de trabalhar em benefício dos semelhantes.

Mas meu modo de ser não me permitia muitas coisas. Comecei por juntar-me à amiga Isaura e com ela fui ouvir as preleções e receber os passes de prestigiosa casa de atendimento espiritual do bairro. Lá fiz amizades puras e com aquele pessoal convivi durante largos anos. De meu filho, não recebi mais nenhuma notícia espiritual, mas aprendi que o importante era saber o que se passava do outro lado. A duras penas, fui superando os desgostos pela perda do preferido (digo-o agora, quando meu amor já se distribui igualmente por todos) e passei a cuidar dos outros na medida de minhas forças. Um belo dia, meu marido desejou retornar e me encontrou de braços abertos, não tão “compreensiva” como antigamente, mas condescendente e arguta para os compromissos cármicos que nos assinalavam a passagem pelo orbe.

Devo, a bem da verdade, dizer que meu filho mais velho, ao sair da prisão, não mais tolerou viver comigo e, desiludido diante das recomendações de sacrifícios que lhe fazia, caiu no mundo e se desgraçou. É a ele que mais dedico o tempo hoje em dia.

O que fugiu para outra cidade, após algumas estrepolias, acabou serenando, casou-se e montou residência, não sem antes obter ajuda financeira do pai, que tudo fez para limpar-lhe o nome na praça, até assegurar-se de que conseguiria andar pelas próprias pernas. A este dediquei também minhas preces e pude fazer chegar-lhe algumas noções espíritas, de sorte que hoje, em idade madura, educa convenientemente os filhos, segundo as normas evangélicas que vai assimilando junto a companheiros do centro espírita que freqüenta. Devo enfatizar o fato de que foi a carta do Alfredinho que lhe deu o impulso inicial para a fé que o agasalha atualmente; aquela mesma carta que foi ridicularizada pelo irmão.

Em idade provecta, abandonei a carcaça e me apresentei do lado de cá, para receber as recomendações e conselhos de como prosseguir na nova jornada.

Aqui se encontrava a minha companheira, que se tornou o meu anjo tutelar. Acostumada a adentrar as cavernas logo que regressava de cada encarnação, desta feita estranhei muito a sensação de calma sonolência que se apossou de mim após o desenlace. Devido à idade avançada é que pude não sofrer muito na transição entre os planos, conforme me explicam os amigos presentes.

Com efeito, não demorou para que pudesse rememorar toda a vida e perceber claramente todas as vicissitudes. Como a dificuldade maior a ser superada era terrível chaga moral, reconheci logo que o plano de existência para mim formulado tinha sido perfeito, embora por largo tempo estivesse ameaçado de não concretizar-se.

Hoje, pensando sobre tudo o que me aconteceu na vida, considero aquele instante maravilhoso do contacto mediúnico com meu filho como o do verdadeiro despertar da fé, motivo pelo qual intitulei este escrito com essa frase.

Sei que as pessoas que lêem estes textos transmitidos por via mediúnica reagem das formas mais disparatadas possíveis. Por isso, fiz questão de mostrar as opiniões tão díspares de meus dois filhos, um incapaz de reconhecer o irmão naquelas candentes manifestações de afeto e carinho, o outro mergulhando fundo na contemplação da verdade revelada.

Escrevo para as mães que, não tendo compreensão da realidade da vida, sofrem por terem perdido os filhos em tenra idade e hesitam em entrar em contacto com seus espíritos.

Não importa a fé religiosa de sua convicção; faça um esforço e dedique alguns instantes para interrogar o coração a respeito da possibilidade desse encontro da forma que descrevi. Não precisa ir a Uberaba nem a qualquer outro centro para interrogar o etéreo a respeito das condições de sua existência espiritual; basta, no fundo do coração, aceitar como boa a informação de que a vida persevera após a morte do corpo físico. Só essa convicção será o consolo mais eficaz, mais sólido, mais eficiente, para perceber que a magnanimidade de Deus transcende as expectativas fundamentadas nos pontos de vista carnais, materialistas.

As mães, em geral, são religiosas e se amparam em suas crenças para superar as dificuldades de compreensão da vida, mas deveriam fazer um pouco mais: deveriam despertar a fé para a possibilidade de a vida prosseguir no plano espiritual, segundo o procedimento na carne, de modo a favorecer crescimento íntimo da visão cármica, que facultará, inequivocamente, transformação de seu panorama da existência e resultará em atitude mais positiva em relação à espiritualidade.

Vamos tentar?

O início já está dado na aceitação destes informes como leais, honestos e sinceros. Daqui para frente, é ler, é dedicar-se ao socorrismo fraterno, é participar de grupo de estudos, é vasculhar no coração os defeitos, é alijar de lá as viciações, é adquirir hábitos morigerados, é amar, praticar a caridade, confiar em Deus e ter fé em que, um dia, todos estarão reunidos de novo, para novas alegrias e novos cometimentos, sempre no sentido de se buscar a perfeição.



Pede-me o bom amigo médium para que informe a respeito do Alfredinho. Como lhe tinha induzido a intuir, está de novo encarnado, na família de meu querido filho espírita. Quanto ao meu marido, não está comigo, pois tem por missão (e expiação) cuidar da segunda família. Quanto ao meu atual serviço de velar pelo filho perdido nas trevas da ignorância, devo dizer que bem pouco tenho podido fazer, não desfalecendo por força do incentivo que tenho de todos e pela confiança que deposito em Deus.

Fique em paz, amiguinho, e saiba que suas vibrações foram por mim recebidas como influxo de muito amor e de muita luz.

Luzia — humilde membro da “Equipe da Luz”.

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