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Ensaios-->21. 13.o Relato — ANGÚSTIA INTELECTUAL -- 31/12/2003 - 09:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Perversidade, malícia, espírito maligno, desejo de ver o outro às voltas com dificuldades, com dores, com sofrimentos de angústia, de desespero e até de arrependimento, quando não voltado para a superação das provas. Eis o desejo íntimo de quantos seres se perverteram e ora vagueiam por caminhos incertos nas trevas exteriores. Mas não se pense que a maldade satisfaz. Se, na célebre cena em que Fausto contrata Mefistófeles, a peso da alma, para favorecer-lhe os desvarios mentais, pudéssemos bem observar a fisionomia angustiada do representante das trevas, verificaríamos que lágrimas de muita dor lhe rolavam pelas faces, pois à sua dor se acrescia o sofrimento que via crescer na alma do indigitado encarnado. Esse é o símbolo mais alto do sofrimento: aquele que se alimenta da dor, da miséria do próximo.

O riso sardônico com que contemplamos a máscara do Demo é só o reflexo de nossa ignorância, no desejo, digo mais, na ânsia de podermos configurar para nós situação em que possamos estar acima do mal. Há até aqueles que vêem lágrimas no olhar dos anjos, como se a excelsitude pudesse comportar também sofrimento: são os que aspiram estar acima do bem.

Talvez, por excesso de imaginação, alguém possa supor que exista essa possibilidade. Mas tal arrebatamento intelectual deve atribuir a essa criatura apanágios superiores, de sorte a situá-la ao lado do Criador, este sim, iniludivelmente para o humano raciocinar, acima de quaisquer considerações do bem e do mal. Mas quem está ao lado de Deus, sem com ele constituir um único ser? A lógica recomenda que mantenhamos equilíbrio ao conjecturar a respeito da Divindade. Então, somos obrigados a concluir que ninguém, a menos que se possa conceber que, ao ser recebida no regaço de Deus, a criatura simplesmente retorne ao estado de pureza inicial, reintegrando a sua parcela da divina centelha ao fulcro da criação, mantendo-se a univocidade predeterminada como premissa maior.

Todas estas considerações a respeito de tema de tão elevada estrutura filosófica, místico-religiosa e, mesmo, evangélico-espiritual, a partir da averiguação do mero desejar humano de grandeza, objetiva propugnar que as pessoas se atenham a perlustrar o mistério com o poder das mentes, mas sem os recursos da fantasia alimentada nos mananciais cármicos da estrutura carnal. Se nós não pautarmos o raciocínio por razões superiores à humana condição, como o fizeram os maiores filósofos espiritualistas, iremos, titubeantes, ficar arranhando a crosta da Terra, como tantos que assumiram postura antropocêntrica e se sentiram infelizes por perceberem que toda a grandiosidade do homem perece aqui mesmo, na aparência de vida em que se resume a estadia do espírito na carne.



Eu sou um sofredor. Durante milênios percorri as estradas do mundo à busca da verdade. Mas minha peregrinação sempre foi egoísta, ufana, negativa. Eu me melindrava até com a idéia de que o homem pudesse ter sido criado por entidade superior. Não suportava acreditar que, ao adentrar o mundo dos espíritos, as pessoas tinham de desvestir a andrajosa vestimenta de carne. A própria teoria reencarnacionista servia-me de base para a tese de superioridade do ser humano sobre toda a natureza, pois o renascer para mim era a prova de que o homem se eternizava na carne. E a minha visão não ultrapassava esse limiar, sendo-me impossível saber que a porta da catedral é serventia de acesso às grandiosidades dentro encerradas. E ficava a admirar o portal, as magnificências de aparatosa e magistral elaboração, que é a manifestação corpórea do espírito. Incapaz de enxergar nos semelhantes a mesma realidade que via em mim, atribuía as idéias da teologia e da teogonia à obtusidade de quem não queria compreender a grandiosidade do ser humano. Aceitava a tese da existência da alma, mas para favorecer minha teoria evolucionista. E não caminhava um passo na senda da caridade, pois reputava Jesus visionário de superior qualidade, que se assemelhava a outros homens dotados de inteligência altíssima, através dos quais fundamentava outros aspectos da teoria. Jesus, para mim, não significava o caminho, a verdade e a vida, mas tão-só alguém que lutou por comprovar algo não comprovável, tanto assim que se deixou crucificar.

E esse ir e vir no campo das idéias fortaleceu-me o raciocínio. Bastaria que pequenina pedra se colocasse no caminho para fazer-me acreditar em que as teses estavam mal fundamentadas. E essa pedrinha foram as lágrimas que vi escorrerem dos olhos imaginários da fantástica figura mefistotélica. Se o Diabo chora e não ri, que proveito tira das perversidades, da malignidade, do tormento a infligir aos mortais? E, no entanto, persiste, eternamente, no sofrimento. O homem sofre (outra pedrinha), então não é perfeito e sua eternidade está na imperfeição, do mesmo modo que o sofrimento eterno do Demo está a comprovar-lhe a inferioridade.

Fez-se a luz nesse instante de reflexão, quando, alheio à minha pessoa, me pus a meditar a respeito do devir humano, a partir da dor. Esquecia-me da minha grandiosidade para refletir na pequenez das pobres criaturas que se deblateram na crosta, engalfinhadas em seus tormentos, em sua angustiosa expectativa de dissolução absoluta da personalidade, como se nada fosse e nada sempre tivesse sido. Irrisão dolorosa! Drama cruel! Evidenciava-se-me pelo raciocínio, o apanágio mesmo de minha “grandiosidade”, que sempre estivera errado.

Daí para o socorrismo, apenas pequenino passo. Mas as pernas estavam adormecidas e não podia caminhar. Tântalo a ver a água chegar aos lábios, morria sedento da verdade que pensara ter encontrado no mundo material e que sabia agora ao alcance de pequenino descortino.

Este foi o meu sofrimento. Precisei retroceder nos caminhos que percorrera. Caminhei para trás durante tempo indefinido. Reconstituí cada migalhinha de pão desprezada. Reencontrei cada fiapinho de lã deixado a esvoaçar ao vento. Recoloquei cada minúscula poeirinha de areia que, inadvertido, revolvi do primitivo lugar. Foi obra que demandou largos anos, paciência infinita, discernimento total. E me vi em cada existência, sempre com o mesmo coração silenciado, sempre com o mesmo cérebro repleto de fantasias, sempre com o sangue fervilhando da humana vontade de engrandecimento.

Em suma, para não exaurir a paciência dos amados leitores, precisei restabelecer a pureza primitiva em todos os seus aspectos naturais, transformando o intelecto em tábula rasa, para sobre ele iniciar a edificação de nobre teoria espiritualista.

Sei que este tormento mental não é exemplo vívido para o leitor desacostumado com raciocínios tão intrincados, mas devo suplicar-lhe que me perdoe o desequilíbrio da explanação, pois encontro-me tão-só no início do restabelecimento perispiritual, através de minha integração nesta “Equipe da Luz”.

Quanto aos leitores mais categorizados, mais sábios e menos afeitos a explicações desta ordem emocional, peço-lhes relevem-me a ousadia de imaginar que algo lhes possa valer do meu arrazoado, para permitir-lhes nova diretriz metodológica para seu raciocinar filosófico. Para eles, espero em Deus, que a crise não seja tão pungente quanto foi a minha.

Aos amigos da espiritualidade superior, em cujo seio enquadro todos os que se conduzem pelas normas evangélicas do Cristo, trazendo na consciência impressa a lei maior e seu corolário de amor, o meu mais sentido agradecimento pelo amparo vibratório com que me mantiveram durante todo o trajeto desta leitura.

Ao amigo escrevente, o mais humilde pedido de perdão por não ter tido suficiente força intelectual para permitir-lhe tradução exata de minhas vibrações energéticas, impedido que estou por espessa camada caliginosa de acendrado egocentrismo. Se me permitir, em outra ocasião, gostaria de volver a este posto para manifestação mais coerente com os princípios da mediunidade e da evangelização. O mais que lhe posso solicitar agora é que se concentre em prece ao Senhor, para aceitar a espiritualidade como manifestação maior da grandiosidade divina.

Um intelectual fracassado, que espera um dia tornar-se fiel servidor do Cristo.

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