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Ensaios-->LEITURA E CRÍTICA, I, II e III -- 29/12/2003 - 21:58 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEITURA E CRÍTICA

I

Francisco Miguel de Moura *


Precisamos de bons leitores, e quem forma leitores são as escolas e os pais, em casa. Infelizmente os pais de hoje vivem grudados à televisão e não dão melhor exemplo aos filhos. A escola, coitada, manda os alunos ler livros como trabalho, como dever. Isto não incentiva a leitura. Outra seria a leitura por prazer, para contar o que foi lido aos outros, para reescrever a história, para inventar outras, com fundo ou sem fundo moral, críticas ou humorísticas, tristes ou alegres, conforme o temperamento de cada um. Nesse exercício, conheceriam a língua, que é a nossa pátria, nossa alma, para fazer um juízo crítico do mundo.
Formar leitores despretensiosos, críticos, pessoas conscientes de sua época, de sua comunidade, de si mesmos está implícito no exercício da leitura, além de ser um passa-tempo gostoso. É dever afastar as crianças e jovens da televisão, com suas novelas encharcadas de plebeísmos, gíria e má colocação de pronomes, sujeitos e verbos, de má pronúncia, de importação do que há de pior nas línguas de influência, o inglês, hoje, por exemplo
Quando falamos em leitura não nos estamos referindo apenas ao jornal, à revista, aos infames livros de auto-ajuda (embora nem todos) e formas de divulgação do discurso de intelecção, impessoais por excelência. Queremos nos referir também ao romance, conto, novela, crônica, poesia e aos ensaios de crítica dessa ou daquela arte. Acrescentamos que, embora dogmáticos, a Bíblia, os poemas de Homero e mais alguns podem ser recomendados, pois contêm outros ensinamentos de arte, folclore, fábula, símbolo.
Precisamos da leitura pessoalizada, em que o leitor entra em contato com o escritor, ou o personagem histórico, no caso das biografias e memórias quando bem escritas.
“Para sermos capazes de ler sentimentos humanos descritos em linguagem humana precisamos ler como seres humanos – e fazê-lo plenamente. Só nos reconhecemos num livro quando ele vier com a afirmação desta humanidade, que não existe sem a presença forte do autor, este ser que transcende sua condição e adquire o direito de viver conosco no momento da leitura, insinuando-se, com mais ou menos intensidade, neste ou naquele personagem. O grande romance estará sempre contaminado pela figura do autor, embora, logicamente, nunca haverá um correspondência total entre eles, porque os dois habitam universos distintos. Negar esta conexão, no entanto, é um atentado contra o poder humanizador da literatura,” diz José Saramago, em Cadernos de Lanzarote”. E acrescenta: “Pergunto-me se o que move a leitura não será a secreta esperança ou a simples possibilidade de vir a descobrir, dentro do livro, mais do que a história contada, a pessoa invisível, mas onipresente, que é o autor. O romance é uma máscara que oculta e ao mesmo tempo revela os traços do romancista. Se a pessoa que o romancista é não interessa, o romance não pode interessar. O leitor não lê o romance, lê o romancista.”




LEITURA E CRÍTICA

II




Não falamos ainda no leitor comum, aquele que lê apenas pelo prazer da leitura, aquele que não tem um projeto prático em vista – tipo de leitor que muito falta ao Brasil, pela condição econômica ou pela cultural. Por enquanto, veja-se o leitor categorizado, aluno ou professor universitário. São os autores de trabalhos de conclusão de curso, teses de mestrado e doutorado, que muitas vezes se transformam em livro, ou vão parar nas páginas virtuais da internet. Como, por exemplo, a Profa. Moema de Castro e Silva Olival, de Goiás/Tocantins. Comente-se o seu ensaio sobre Moura Lima, “A Voz Pontual da Alma Tocantinense”, co-edição UNIRG/FAFICH, apoio cultural da Fundação Cultural de Tocantinas, 2003 – um trabalho que prima pela simplicidade dentro do padrão da complexa crítica universitária, em vista do alcance das teorias da literatura e da linguística modernas. O trabalho é curto, sucinto, bem documentado com exemplos da melhor bibliografia e transcrição de trechos significativos da obra estudada, como este que serve de fecho:
“Entendendo por linguagem da obra tudo o que nela significa, até o próprio silêncio, retiramos esse trecho de grande poder poético-descritivo de Moura Lima, quando nos oferece cenas de notável precisão, cineticismo e riqueza imagética. Imagens extraídas da realidade sertaneja, transfiguradas metaforicamente e cristalizadas em nossa mente e em nossa emoção. Ei-las: ‘Chifre pra riba, os cascos ribombando no chão como socada de mão-de-pilão, quartos roçando uns nos outros, seguia pachorrenta a boiada estrada afora. De vez em quando, um tucura atrevido, na traquinagem, enganchava nas ancas do boi da frente e andava em cima dele um estirão. O cupim apontava por cima na ondulação serpenteada dos lombos, aos saracoteios das ancas em movimento.’ (P.27, de “Chão das Carabinas”).”
Moema Olival é uma crítica estrutural no melhor sentido e diz, finalmente, que “a narrativa é ágil e os diálogos bem construídos, garantindo o romancista um lugar de referência na literatura regionalista de âmbito nacional”.
Em apoio à Profa. Olival, na sua análise sobre Moura Lima, cabe-nos lembrar o que disse Dalton Trevisan: “Romance muito dialogado demonstra fraqueza do escritor, pois nas descrições e dissertações é que o autor mostra sua capacidade”. Outra referência importante seria a de Autran Dourado, que aqui cito de ouvido: O prosador, ao escrever seus romances, deveria ser poeta (sem a rima) e o poeta ser prosador, pois é desse tempero que sairá o melhor estilo.
Na literatura, importa o que se diz mas somente se isto é dito com beleza, com arte. É triste e trágico não se encontrar nada disto nos chamados best-selleres, tipo de leitura própria do leitor comum, já mencionado. Quem lê esse tipo de romance não é bom leitor. Poderá, um dia, vir a tornar-se quando receber melhor orientação.



LEITURA E CRÍTICA

III



É difícil fazer a crítica da crítica. Por isto me limito a mostrar um dos mais recentes trabalhos, o da Profa. Moema Olival, sobre um escritor de província, mas não provinciano – Moura Lima. Por ter sido o segundo sobre esse autor. O primeiro fui eu: “Moura Lima, do Romance ao Conto”. Há alguns anos, eu havia escrito “Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho”, de cujo escritor fiz a crítica de conjunto pioneiramente. Assim, seria um dos primeiros responsáveis por sua ascensão a escritor de renome nacional, pois que é função da crítica intermediar os leitores, os editores, os professores no sentido da reflexão sobre determinada obra. Fiquei satisfeito quando me revi, em citações, no livro da Profa. Olival, embora tenha tido, antes, certo receio de que ela viesse a escrever um trabalho parecido com o meu. Saiu um ensaio original, creio até superior, em alguns sentidos. Sinto-me gratificado também quando me vejo em várias citações de outros trabalhos escritos sobre O.G. Rego de Carvalho.
Os críticos devem encaminhar seus leitores à obra estudada, nunca pensarem que a leitura de sua crítica possa satisfazê-los. Seu trabalho é apenas teórico, de sugestão e de esclarecimentos de minúcias ou biobibliográficos. Mas a estética e a teoria crítica pouco ajudam na compreensão da obra, se não forem acompanhadas da sua leitura.
Com relação aos leitores de best-selleres, muito sensíveis à mídia, são uma espécie de “maria-vai-com-as-outras”. Se a relação dos dez mais não indica, eles não compram nem lêem. No mínimo são leitores de Paulo Coelho, o melhor da caterva. Há remédio para os seus males: Passar por um curso de artes ou de literatura, onde possam compreender que a arte é muito mais bela, a forma é tão importante quanto a história, e uma história mal contada é um fiasco.
Leitura em casa. Passou-se o tempo em que, à noitinha, os pais liam perante os filhos atentos, a Bíblia, além de outras histórias de proveito e exemplo, contos de Eça e Machado, educando-os na observação e gosto dos clássicos.
Passou o tempo também do rodapé de jornal, em que críticos como Álvaro Lins, Wilson Martins, Alceu de Amoroso Lima, Nelson Werneck Sodré, Fausto Cunha, Fábio Lucas, entre outros, e os próprios escritores davam suas opiniões sobre leituras e livros. Mas não é fora de tempo entrar-se numa livraria para ver os bons livros, colher algumas informações em suas orelhas e até “filar” um primeiro capítulo. O melhor lugar para saber das boas leituras é a própria livraria. Seria ótimo se tivéssemos bons livreiros, que acolhessem com urbanidade os prováveis compradores.
Completo esta série, acrescendo: Antes de escrever é preciso ler mil bons livros. E só quem os lê não é preguiçoso. Preguiça não é pecado, mas um vício que nos levará a outros vícios, inclusive à mania de virar telespectador compulsivo.

_______________________
*FANCISCO MIGUEL DE MOURA é escritor, membro da APL e do CEC e reside em Teresina, Piauí.

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