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Ensaios-->Um olhar para dentro de si (filis teu) -- 22/12/2003 - 06:22 (Thonni Brandão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um olhar para dentro de si (filis teu)

Ao adentrar-se na cultura da tribo primitiva denominada Cifilização Acidental* percebe-se facilmente o seu aprisionamento aos modelos de comportamento. Agem como se eles mesmos fossem as massinhas moldáveis as quais suas crianças brincam: delineiam estrelas, bonecos, ícones, protótipos, arquétipos e se adequam a eles, mesmo que isso, como sabemos, signifique escravidão. Desfiguram-se e se transformam, concretamente, em massas impessoais, sem originalidade: uma multidão uniforme sem rosto, sem identidade, sem personalidade (com presonalidade*); previsíveis e subservientes aos seus senhores. Frustram-se e passam a vida inteira remoendo a culpa de não poderem ser aquilo que nem escolheram ser, ou pior: curiosamente, quando escolhem entre meia-dúzia de modelos de comportamento meticulosamente formatados pela ordem vigente, dão o nome a isso de Liberdade.

A sociedade Cifilizada é um grupo social substancialmente esquizofrênico. Criam suas leis de acordo com seus pontos de vista, as sistematizam e as chamam de “Direitos Universais do Homem” que, ironicamente, subsiste apenas em suas fantasias, em suas ilusões, já que, na sua realidade, nada disso se concretiza. Garantem direitos como o da propriedade, o da subsistência, o da vida e o do respeito à diversidade, mas, ao fim, tudo isso é apenas fictício, irreal, imaginário. Os cifilizados substituem, portanto, as coisas de fato pelo símbolo das coisas, e o mais estranho e aparentemente inexplicável: acreditam que os seus ideais, ou os símbolos que constituem sua esquizofrenia, são de caráter universal, natural à condição humana, e, logo, devem ser adotados por toda a humanidade! Ou seja, mesmo quando querem “benevolentemente” pôr em prática seus axiomas, seus parâmetros de justiça, de beleza, do que é bom e do que é verdadeiro, ainda assim, impõem o seu modo de vida e, conseqüentemente, sua cultura arbitrária, aos demais povos. Antes o faziam de forma evidente, clara, pelo uso da violência – nos períodos de tempo em que ocorreram os fatos que eles chamam de Cruzadas, Expansão Marítima da Cifilização Epopéia*, Imperialismos Nazista, Fascista e Stalinista, entre outros –; hoje o fazem, designando, ironicamente dito liberal e não-impositivo, com o nome de Globalização. Caracteriza-se, por conseguinte, como uma tribo primitiva com valores arraigados notadamente déspotas, autoritários, tiranos, arrogantes e imperiosos.

Os inadaptdados, aqueles que não se encaixam em seus modelos perfeitos, que não são considerados corretos, íntegros, justos, razoáveis, legítimos, adequados, apropriados, verdadeiros, lícitos, alinhados, dignos, dóceis, honestos, honrados, submissos, adequados, retos; os que são caracterizados como subversivos, subvertedores, sujos, imundos, impuros, pecaminosos, obscenos, depravados, devassos, deturpados, pervertidos, crápulas, vulgares, banais, hediondos, sórdidos, dejetos, imprestáveis, abomináveis, execráveis, putrefatos, desprezíveis, abjetos, detestáveis, baixos, ignóbeis, vis, estúpidos, porcos, perturbadores, agitadores, distorcidos, desviados, vãos, fúteis, inúteis, etc; vivem à margem e são vistos tal como anormalidades: ou em uma só palavra: patologias, e, portanto, devem ser eliminados o quanto antes. Quando não o fazem, encarceram este tipo de gente em instituições denominadas de presídio, penitenciária, casa de detenção, cadeia, xilindró; em suma, um espaço delimitado por grades (ou qualquer outro tipo de obstáculo) onde a imperfeição é aprisionada, sem poder corromper a virtude cifilizada, até que adquiram os valores cifilizados e voltem à normalidade através da punição, da coerção, do castigo, da repreensão, da penalidade, do corretivo.

Um outro modo muito mais eficiente de perpetuar o seu modo peculiar e primitivo de vida para as futuras gerações é o que eles chamam de educação. Em nome dela e, de forma irônica, em nome da Liberdade, adestram seus filhos a se submeterem aos seus padrões, às suas máximas, aos seus tradicionais aforismos; às vezes, com um certo grau de modernização (a esse fenômeno daremos o nome de reforma), mas desde que mantendo os seus princípios elementares. Eternizam a submissão da mulher ao homem estruturando falsos estereótipos do que seria o comportamento sexual adequado para cada gênero, oriundos da natureza humana. Presenteiam seus filhos homens (e, logo, senhores, soberanos, dominadores) com carros de brinquedo (símbolo de poder para um cifilizado) e às meninas dão bonecas, dóceis, meigas, domésticas, domesticadas, caseiras, incentivando, assim, a caracterização da mulher como “do lar”, como objeto reprodutor que vive apenas e tão somente em função dos filhos e do marido, e nunca para si; como, em suma: subordinada, dependente, submissa e obediente ao homem (a autoridade).

Enfim, e com gosto amargo na boca, declaro-me um cifilizado. Sou um sujeito engendrado nessa cultura e que, como instrumento de liberdade, faço uso dos estudos acerca da diversidade humana com a finalidade (sem fim) de criar, ao contrário de reproduzir, tendo consciência da parcialidade limitada ao meu tempo e inerente à minha perspectiva, quebrando com a nossa tradição de enquadramento aos protótipos de conduta. A mim não cabe a invenção de um novo modelo ou de novos axiomas baseados na contestável racionalidade do método científico, mas o avesso: a destruição constante do enquadramento, da adequação, da submissão, da servidão, ou seja, focar o fim da escravidão.

* Neologismos poéticos propositais

Thonni Brandão
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