SER PAI
Acho muito interessante a reação dos homens ao se depararem com a paternidade, principalmente a primeira.
As reações são diversas. Alguns reagem até com a rejeição, principalmente se a gravidez não foi planejada e desejada. Mas não é dessa reação que quero falar.
Tenho observado homens que são pegos de surpresa com uma gravidez não planejada, mas reagem de maneira que eles, e a sociedade em geral, acham positiva. Ficam felizes, falam de boca bem cheia: “vou assumir!” Alguns até botam o deus em que acreditam na jogada, chamam aquele simples encontro de um espermatozóide e um óvulo de bênção, de milagre e até de redenção. Fazem planos mirabolantes: vão amar essa criança como nunca amaram ninguém antes, vão dar tudo a ela, vão recebê-la com todo o carinho e com a maior festa. Não estão sendo hipócritas não, são absolutamente sinceros em seus propósitos. E esses planos são até muito justos. Quando a criança nasce, é uma festa que causa inveja a muita gente. Gritam, fazem um barulhão, abraçam todo mundo que está perto, conhecidos ou não. Enchem o peito e dizem: “sou pai!”. E, antigamente, até distribuíam charutos entre os amigos para que todos participassem de sua alegria.
Mas, na verdade, o que aquela criança - concebida com ou sem planejamento - significa em primeiro lugar é a vaidade do homem por tê-la feito, é a sensação de poder que isso significa. Sim, os pais em geral se sentem donos daquela vida. Ser dono é sempre ter poder. Tanto que poucos pais, nessa hora, percebem o peso da responsabilidade que essa criança representa. Pouquíssimos entre eles se perguntam se realmente estão preparados e se aquele ser inocente o merece como pai. Pouquíssimos pais fazem um sério exame de consciência, procuram ver como ele próprio se comporta como ser humano, que educação e, principalmente, que exemplo vai dar ao filho que deverá preparar para a vida. A maioria se preocupa com dinheiro, coisas materiais. Quer dar tudo à criança e esse tudo significa comida, brinquedos, escola como instrução. A formação daquele ser humano para a vida fica sempre em segundo plano, se é que é cogitada.
E aqui falo em homens que tenham já um certo grau de consciência. Dos que não têm, nem precisa falar...
E que mundo, hoje, espera por essas crianças? Certamente este mundo tem mais gente que nasceu por nascer, que não foi desejada, que não teve um pai ou teve um pai que não sabia o que era ser pai na acepção completa da palavra e do sentimento.
Pobres crianças que vêm ao mundo tão desamparadas!!!
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