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Ensaios-->FRANCISCO MIGUEL E A CRÍTICA LITERÁRIA -- 07/12/2003 - 13:06 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA
E A CRÍTICA LITERÁRIA

M. Paulo Nunes*

Gostaria de não mais polemizar sobre este assunto – crítica literária e crítica universitária ou acadêmica. O mínimo que poderia conseguir seria ampliar uma certa indisposição local contra este modesto e apagado escriba. Talvez, no particular, também fosse útil a lição do velho bruxo do Cosme Velho: a do tédio à controvérsia. Espero, entretanto, sair um pouco pela tangente, lastreando-me na citação de autores célebres. Como dizem que costumo citar muito e só faz citações quem muito lê, o que não é pecado, pelo contrário, talvez possa diluir um pouco com esses autores as colocações pouco ortodoxas que aqui serão feitas.
Começaria com Benedetto Croce (1866-1952), o pai da crítica moderna, da crítica estética ou estruturalista, se assim a quiserem chamar. Croce considera a crítica literária o único método capaz de distinguir, na obra de arte, a expressão individual, independentemente de seu período histórico e dos movimentos ou influências de orientação estética ou literária em que se originou. Levou esse princípio às últimas conseqüências, quando abordou a obra de Dante em La Poesia di Dante, obra publicada em 1921, pondo de lado, como não poesia (e é aí que começa a confusão que chegou aos nossos dias), tudo o que se apresenta naquela obra como político, filosófico ou teológico, para preservar-lhe, tão somente a expressão lírica, com o que não concordaram seus adversários de diversas tendências, entre os quais os tradicionalistas e aqueles que se baseavam em sua própria doutrina, hauridas em sua reinterpretação de Hegel, da unidade e totalidade da obra de arte.
Por sua vez, Francisco de Sanctis (1817-1883), o mais próximo inspirador de Croce e cuja obra foi por ele divulgada, fazia sua crítica baseada em valores puramente estéticos, não admitindo distinção entre forma e conteúdo, sem perder de vista, entretanto, as relações da arte com a vida. Exclui as figuras secundárias da literatura italiana, que era o seu campo de estudos, concentrando-se em Dante, Petrarca, Boccacio, Poliziano, Ariosto, Aretino, Maquiavel e Tasso, em sua obra História da Literatura Italiana, publicada em 1870.
Tendo sua obra incidido na crítica positivista de Carducci, foi reabilitado por Croce, que lhe publicou os escritos inéditos e desde então a influência de seus pensamento não cessou de crescer.
Foram esses autores que iniciaram o movimento de renovação da crítica literária, opondo-se ao biografismo e ao psicologismo de Taine, Sainte-Beuve e Brunetière, em que se radica a crítica literária nacional, até que ela, influenciada pelo estruturalismo de Jakobsen, Todorov, os formalistas russos e sobretudo Roland Barthes, tomou de assalto os arraiais da crítica universitária, onde passou a destilar o seu novo evangelho.
Há poucos dias, o crítico e tradutor italiano Marcos Lucchesi, autor de um livro instigante - O Sorriso do Caos, em entrevista ao caderno Idéias, do Jornal do Brasil, numa apreciação sobre este fenômeno – o da presença do estruturalismo ou estruturalês em nossas Faculdades de Letras, ao responder à pergunta sobre qual deva ser o papel do crítico, assim se manifesta:
“O texto é um organismo vivo. Tem sangue passando nas artérias. Muitas vezes os críticos se transformam em aves de rapina, que apostam na morte do texto. Antes de mais nada, o crítico deve ser um leitor que se comunica com outros leitores. Não quero dizer com isto que a literatura seja lida sem qualquer outro aparato teórico. Mas acho que a crítica produzida nas universidades, ao invés de ser hermética, como se acredita, é na verdade um subproduto de importação apressada de conceitos, na qual o leitor é a primeira vítima. Acho, porém, que estamos vivendo um momento em que a crítica olha para si mesma e compreende suas razões e isso é ótimo. A crítica brasileira deveria resgatar a atuação do jornalismo literário, onde ela se desenvolveu historicamente, sem perder de vista o prazer da leitura.” (Cf. op.cit. P.6, nº de 19.04.97).
Não tenho feito outra coisa na vida senão advertir para isto e lembrar a grande contribuição que o jornalismo literário de autores como Mário de Andrade, Tristão de Athayde, Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Sérgio Miliet, Antônio Cândido e Wilson Martins trouxe à crítica literária brasileira.
No relançamento do livro Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho, 25 anos após a publicação da 1ª edição, do ilustre acadêmico Francisco Miguel de Moura, figura eminente do nosso meio intelectual, jornalista, crítico literário, historiador da literatura, romancista e poeta, achei oportuno trazer essas idéias à meditação do distinto auditório para que se possa repensar a função da crítica, de seus valores e dos estudos literários em nosso país.
Considero este livro, em boa hora incluído no plano editorial desta Universidade, de fundamental importância para o estudo da obra notável de O.G. Rego de Carvalho, a respeito da qual há pouco manifestei-me em seminário sobre ela realizado, em que a relacionei com o romance de Machado de Assis, de que a considero uma vertente.
Ao mesmo tempo, quero salientar, no estudo de Francisco Miguel de Moura, feito com a maior competência e a mais absoluta isenção, qualidades que eu desejaria encontrar nos estudos literários de nosso país e não apenas de nossa terra, o que seria uma referência menor.
Estribado nos melhores teóricos da crítica literária, da estilística e da comunicação como Antônio Gomes Penna, Álvaro Lins, E. M. Forster, Fausto Cunha, Hélio Pólvora, Massaud Moisés, Luís Costa Lima, Rodrigues Lapa e Wilson Martins, entre outros, este estudo não se esgota, entretanto, no teorismo vago e abstruso dos que escolhem um modelo e querem dentro dele encaixar (perdoem o termo extraliterário) a obra analisada. Longe disso.
Francisco Miguel, este nosso grande crítico, não esclerosa o seu texto em análises especiosas, mas, ao contrário, o vivifica, através de uma interpretação plena de empatia, de lucidez e de estesia para com o autor de Rio Subterrâneo. Nunca vi um crítico que tanto se identificasse com o autor estudado e o interpretasse com tão grande simpatia.
Em nota anterior a respeito do autor deste livro, eu dizia que os grandes escritores, para adquirirem maior notoriedade, sempre contaram com um crítico de renome para explicitarem as qualidades maiores da obra realizada. Eça de Queiroz, acrescentava, talvez não fosse o grande Eça, se não contasse com críticos do porte de Teófilo Braga e Ramalho Ortigão, que despertassem o público ledor para a alta relevância de um dos maiores escritores da língua portuguesa. O mesmo teria ocorrido com Graciliano Ramos, se não tivesse contado, no início de sua carreira literária, com a contribuição crítica e o estímulo literário de um Álvaro Lins, de um Otto Maria Carpeaux ou de um Antônio Cândido, que revelaram, em artigos densos de compreensão literária, as potencialidades daquele romancista, um dos maiores de nossa literatura.
Quero crer que O. G. Rego de Carvalho tenha tido o seu intérprete definitivo em Francisco Miguel de Moura, intelectual competente e sério nesta nossa província deserta, da imagem do poeta H. Dobal, figura de realce em nossa vida intelectual.
Foi através desse brilhante ensaísta, homem de leituras inumeráveis, íntegro e reto, de uma permanente disponibilidade para colaboração na difusão da cultura, em nossa terra, com um dom permanente de servir, uma aguda sensibilidade para o fenômeno literário, que tivemos a meu ver o estudo definitivo a respeito da obra magistral que é hoje patrimônio da nossa cultura, do romancista O. G. Rego de Carvalho.
Bem haja pois este grande crítico e historiador de nossa literatura, neste instante de grande significação em sua vida de escritor.
Desejo expressar assim, e o faço com a mais profunda emoção, o meu apreço e a minha admiração por este autêntico representante da cultura piauiense, a quem saúdo, de maneira calorosas, neste instante solar de sua vida literária, para glória nossa e felicidade do povo piauiense.

________________________
*M. Paulo Nunes é professor universitário aposentado, Presidente do Conselho de Cultua do Piauí e membro da Academia Piauiense de Letras.


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