I
O grupo “Irmãos de Fé” gostaria de registrar a sua formação. Trata-se de alunos de primeiras letras do mediunismo, mas que não são neófitos nas coisas do espírito, pois muitos foram professores, médicos, advogados, dentistas, profissionais liberais de vários tipos, havendo até quem tenha exercido o ministério religioso. Como dissemos, um de nós participou de mesa espírita na qualidade de médium bem desenvolvido, estudioso da doutrina e conhecedor da teoria.
Entretanto, não temos entre nós quem se tenha dedicado às ciências exatas, como a matemática, a física e a química. Evidentemente, rudimentos dessas matérias todos temos, mas sentimos a falta de quem possa orientar-nos especificamente no que concerne a temas estatísticos e a assuntos que demandem cálculos e conhecimentos aprofundados da natureza da matéria. Para esse tipo de atividade, contamos com a atenção dos orientadores, muito particularmente do querido mestre Homero. Apesar disso, muitas vezes nos vemos na necessidade de recorrer à biblioteca ou de assistir a aulas no plano carnal, para o que nos dirigimos a escolas de vários níveis.
Estamos fazendo referência ao fato porque o médium suscitou problema que já vimos levantado muitas vezes por muitos, em ambos os planos, qual seja o da necessidade de se conhecer a fundo a essência da matéria onde vibram as energias dos encarnados para poder ascender na escala da angelitude. Claro está que, pelo que estamos sofrendo, se pode deduzir que, em função dos trabalhos específicos, há necessidade de conhecimento integral da área de aplicação. Assim, como estamos lidando com mediunidade, precisamos saber como se opera a fluidificação energética, para acesso à mente no âmbito da freqüência do mediador, precisamos conhecer a região do cérebro diretamente relacionada ao fenômeno da transmissão e descodificação das idéias, precisamos conhecer tudo que se refira à preparação do ambiente, etc. Trata-se de verdadeiro curso exaustivo.
Caso o poder espiritual determine, poderemos ser convocados para outros setores da assistência, que demandarão novos estudos, e assim por diante. Entretanto, não há necessidade de o espírito perpassar por todos os setores para adquirir condições para fazer jus a progredir na escala ascendente que conduz às esferas superiores. Nenhum de nós (Homero nos diz que nem ele) tem condições de informar se nessas esferas há necessidade de conhecer, de modo perfeito, todos os setores da essência existencial em que se situam, para poder continuar progredindo. Especulando a respeito, podemos imaginar que haverá momento em que o ser superiormente dotado terá domínio completo de tudo que esteja abaixo de si, para poder galgar posições mais elevadas.
O que sabemos com certeza é que, no aspecto moral, não há meio de progredir sem ter conhecimento e, acima de tudo, sem praticar todas as virtudes evangélicas. Não adianta disfarçar, pois os dados ficam indelevelmente impressos na consciência individual e, mesmo que exteriormente o indivíduo se faça passar por dotado de excelsitudes, interiormente tem a convicção da realidade. Ao se dar a conhecer para ingresso em plano mais elevado, não deixa transparecer qualquer luminosidade e isto declara, inequivocamente, sua condição inferior.
Portanto, amigo leitor, se, de sã consciência, desejar progredir, dedique-se principalmente ao conhecimento espirítico das virtudes cristãs mas não deixe também de perlustrar os caminhos da humana compreensão da realidade. Sabemos que existem imensas limitações materiais e que seria impossível apreender, em única, encarnação todo o conhecimento acumulado pela humanidade, mas também sabemos que muitos apetrechos intelectuais ficaram bloqueados durante a presente vida, de sorte que pode ocorrer que tenha armazenada grande cópia de conhecimentos.
Não se aflija, pois, se lhe forem desfavoráveis as atuais condições. Limite-se a vasculhar o que lhe for possível, com muito boa vontade, e não se deixe embalar pela ociosidade. Faça tudo para abiscoitar o máximo de sabedoria: você terá de que agradecer a si mesmo, pois o sacrifício aparente de hoje redundará na facilidade de amanhã. Nada se perde na memória metafísica do perispírito, só o que se constituir em entrave para o progresso, como sejam os vícios, os maus hábitos, as culpas não redimidas.
A absorção de conhecimentos favorecerá o crescimento mental e propiciará mais elementos para superação dos males que se constituem em obstáculos para o progresso. Sendo assim, renegue as comodidades e as falsidades da suposta perfeição terrena e, mesmo que à custa de ilusória paz de espírito, entregue-se ao estudo da realidade, não discriminando setor algum, dentro dos limites, evidentemente, de sua capacitação. Esforce-se, porque o lucro é todo seu.
II
Outro ponto que gostaríamos de esclarecer é o porquê do fato de, nas mensagens, não utilizarmos os conhecimentos concretos das ciências que dominávamos enquanto encarnados. Assim, dificilmente um médico irá discorrer a respeito de enfermidades e das respectivas curas, um advogado irá pronunciar-se a respeito da legislação vigente ou articular peça de acusação ou defesa de qualquer indiciado na justiça comum dos terrícolas, e assim por diante. Isso se dá porque não temos permissão para nos enfronhar nos assuntos pertinentes à vida do homem na carne, pois cabe a ele, e só a ele, desincumbir-se de suas tarefas, no cumprimento das obrigações cármicas.
Evidentemente, se do cotejo das realidades nascer necessidade de paralelismo simbólico, estaremos aptos a utilizar nossos conhecimentos para fazer ressaltar o pensamento, embora possa haver sério senão, qual seja o fato de o intermediário apanhar o ditado conscientemente, sem ter a necessária desenvoltura vocabular no aspecto técnico-científico das matérias que não sejam de sua especialidade. Se precisarmos, conseqüentemente, de termos e expressões extraídos da medicina, da veterinária, da jurisprudência ou de qualquer ramo científico desconhecido para o escrevente, necessitaremos indicar, através de pistas, aquilo a que nos referimos, a fim de que, munido de dicionários e enciclopédias, possa reescrever o texto à luz dos conhecimentos específicos, o que resultará em pasticho dificilmente condizente com a intenção do comunicador.
Entretanto, se for realmente relevante, poderemos superar as dificuldades por meio da escrita mecânica, para o que induziremos o médium a outro tônus energético. Como o que nos interessa não é propriamente elaborar textos de equívoco valor técnico ou científico, mas aprender a manipular o fato mediúnico, aliando-se a isso a boa orientação moral dos consulentes, não iremos jamais empreender obra daquela natureza. Bastam-nos os termos do léxico comum, inteligíveis, compreensíveis, segundo as condições culturais médias dos presumíveis leitores. Aos mais exigentes, indicamos as obras dos irmãos de magnitude espiritual superior, as quais se encontram difundidas no meio espírita. Não vamos destacar nenhuma, pois existem em todos os campos de interesse da doutrina.
Esperando ter despertado o amigo para as considerações de ordem moral que se fazem subjacentes nas explanações desta data, despedimo-nos felizes por mais uma realização, que reputamos perfeitamente satisfatória, tendo em vista termos conseguido concretizar o projeto confeccionado para esta sessão.
Oremos para que sempre possamos obter o mesmo nível de imantação e a mesma facilidade de transmissão.
Muito obrigado, Senhor, por tudo que nos tendes ofertado. Esperamos, humildemente lembrando o nosso esforço, ter conseguido algum mérito para ocupar lugar nos grupos socorristas que se organizam na “Escolinha”. Fazei de nós vossos servos. Assim seja.
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