A vidinha aqui é muito simples. Logo de manhãzinha, nós nos levantamos, fazemos as abluções com a linfa sagrada das fontes e nos alimentamos com o produto de nosso esforço. Muitos de nós passaram pelos setores de abastecimento e de plantio, de modo que podemos ufanar-nos de consumir o fruto do próprio trabalho.
Após o desjejum sumaríssimo, pomo-nos a caminho da “Escolinha”, em pequenos magotes de companheiros, palrando alegremente a respeito das lições e do nosso desempenho ao cumpri-las. Uma que outra vez, sentimo-nos apreensivos por não termos logrado o êxito que esperávamos obter na consecução das tarefas. É quando os debates se acendem em torno dos princípios básicos que necessitaríamos ter melhor assimilado durante as palestras e círculos de estudos anteriores.
Ao chegarmos às classes, aguardamos silenciosos e em prece ou meditação a chegada dos orientadores. Quase sempre surpreendemo-nos com a presença dos mestres, pois dificilmente atinamos com qual deles nos depararemos. Após a prece inicial, na qual se invoca a presença espiritual dos conselheiros superiores e se agradece a benevolência divina para conosco, pobres estudantezinhos de primeiras letras, informamos ao orientador e à classe os resultados de nossos esforços. Quando bem sucedidos, recebemos palavras de incentivo, acompanhadas de elogios pelo discernimento demonstrado. Quando diante de reveses, sofremos calados as advertências amigáveis quanto ao procedimento em falta, ou os esclarecimentos preciosos relativamente às falhas provocadas pelo exercício do livre-arbítrio das criaturas com quem tratamos para dar curso às tarefas prescritas.
Após ponderações de ordem técnica, específicas dos temas em debate, recebemos novas orientações e novas atribuições, após o que nos reunimos em grupos, por livre escolha ou por determinação do mestre, para discussão do projeto de realização das tarefas. Esses debates quase sempre nos remetem para as obras da biblioteca ou para a pesquisa de campo relatada por antigos companheiros, cujos trabalhos se encontram arquivados em biblioteca separada. É preciso esclarecer que o arquivamento nem sempre se faz por registro escrito mas por relatos ilustrados em vídeos, os quais contêm os comentários dos orientadores ou de professores já desligados da instituição. São preciosíssimos, principalmente para apurar o nosso procedimento, no sentido de desbastá-lo de precipitações que provocariam situações de erro que anulariam os esforços.
A essa fase do trabalho dedicamos as horas restantes, até a hora do almoço.
Em seguida, após descanso regulamentar em que estamos livres para adiantamento em assuntos de interesse, reunimo-nos de novo para a realização da tarefa, dispersando-se os grupos conforme a área determinada para a aplicação dos conhecimentos ou para as observações e demais atividades. Na atual fase do trabalho, esta equipe se reúne para trabalhos de psicografia, os quais envolvem diversas áreas específicas do conhecimento espirítico necessárias para desenvolvimento do socorrismo fraterno. Outras turmas se encaminham para locais de trabalho dos encarnados, para áreas de lazer, para centros de estudos e de pesquisas, para simples residências e assim por diante. Há, ainda, os que permanecem na instituição para trabalhos de pesquisa no setor do conhecimento puro.
Devemos ressaltar que a escolha das atividades é determinada pelos orientadores, segundo o nível de adiantamento de cada um, interesse e capacidade de realização. No que respeita à extensão do projeto de aprendizagem, é preciso salientar que todos devem cumprir, a seu tempo, todas as matérias do currículo, não havendo nota mínima nem máxima: quem se considerar aprovado é porque é capaz de realizar o trabalho de modo perfeito. Dado o rigor da triagem para acesso, não há aluno que permaneça na instituição, a repisar os mesmos cursos. O aproveitamento, portanto, é integral. Mas isto não significa que não se exija dos educandos o máximo dos esforços. O que se diferencia das escolas da crosta terrestre é o fato de que as deficiências dos alunos são detectadas com precisão e sanadas de imediato, através do roteiro de atividades que se vai estabelecendo segundo as necessidades. Por isso, não há dois cursos iguais desde que a “Escolinha” foi fundada, havendo mesmo distinção notável entre o projeto de cada aluno, em confronto com o de todos os colegas. Poderíamos dizer que os cursos são individualizados, não fosse a formação dos grupos de trabalho.
Após as tarefas do dia, à noite, somos liberados para percorrer a cidade até seus limites, podendo cada qual escolher o que bem desejar fazer dentre as inúmeras possibilidades que se nos oferecem, desde a freqüência a cultos religiosos e palestras de caráter moral, até simples entretenimento espiritual, em que se esmeram os artistas que para cá se bandearam, no intuito de servir ao crescimento da comunidade.
Às vezes, à noite, somos convocados para incursões no orbe, com finalidades diversas, o mais das vezes na aplicação dos conhecimentos no socorrismo ativo, o que seria espécie de estágio supervisionado, ou para observações de sucessos propícios para futuros desenvolvimentos como temas das conferências dos mentores ou como assunto das discussões e dos trabalhos escolares.
Finalmente, ouve-se o toque de recolher que nos obriga a deixar de lado o que quer estejamos fazendo, uma vez que a ordem e a disciplina reinantes são rigorosíssimas. Apesar disso, desconhece-se qualquer caso de descumprimento. Devemos esclarecer que o rigor do horário não compromete os orientadores que, com suas turmas, visitam em missão os núcleos de encarnados.
E assim se encerra o dia de trabalho. É obrigação nossa, antes de nos entregarmos ao repouso, fazer recapitulação das atividades diárias para bem caracterizarmos os acrescentamentos que fizemos ao cabedal de conhecimentos, bem como os temas que precisam ser melhor compreendidos. Esse extrato servirá para a elaboração dos roteiros do dia seguinte, de modo que são transmitidos telepaticamente ao Centro de Orientação, onde se encontram todos os que administram o saber na casa.
Comentário
Esta revelação é para despertar no leitor a vontade de adquirir méritos para progredir espiritualmente e, um dia, poder assentar-se nos bancos de instituição similar à nossa. Tais méritos não são de difícil conquista: basta que o interessado busque consagrar-se de corpo e alma à realização dos ensinamentos cristãos, fundamentando seu procedimento nos mandamentos da lei de Deus. O essencial é agir com honestidade, com espírito de solidariedade, sempre buscando aperfeiçoar-se. Não há necessidade de se abrir mão da vida em sociedade, nem é preciso adquirir conhecimentos específicos do mundo dos espíritos, segundo o relato das obras mais técnicas ao alcance da mão dos mortais. Basta ter boa vontade e conhecer um pouquinho de si mesmo para saber-se pequenininho diante do Senhor. Só desejar melhorar não será, evidentemente, suficiente, porque o principal é o procedimento.
Poderá ocorrer que, ao chegar aqui, se verifique que o candidato esteja apto a freqüentar instituições superiores, até mesmo na qualidade de aluno-assistente, prestes a integrar o corpo docente da entidade. Mas devemos acalmar o coraçãozinho agitado do leitor, pois são muito raros tais acontecimentos. O mais comum é estagiar o recém-chegado nas trevosas regiões umbráticas, de onde dificilmente será guindado diretamente para as regiões de luz, devendo permanecer nas zonas purgatórias por longo tempo. Mas o amigo, capaz de compreensão de textos como os nossos, saberá evitar os procedimentos irregulares que o perderiam. Rezemos para isso.
