Folhas outonais alçam derradeiro vôo
embaladas pelo ritmo do último suspiro,
o bafejo de outono acaricia-me ao rosto
em mórbido sobejo.
um súbito desapego invade-me alma
a inércia incita-me devaneios,
meus ouvidos vêem longínquos
agouros soturnos.
o desvario funde-me a alma aos lampejos
o torpor aos poucos me dilacera, pasma!
os sentidos aos poucos me abandonam
pérfidos, vagabundos.
sou agora o que tudo vê,o que tudo sente
sou um todo: nem pés, nem cabeça,
sou único, ouço com os pés e vejo
a tudo com todas as células.
sou em todo vida e sentido:
sou a chuva que viaja ferindo o
ventre sobre a terra.
o raio inflamado que cai,
reluzindo a floresta escura
sou a própria floresta que me
aplaco as chamas em meus braços.
sou aquele boi que berra.;
temendo em mim mesmo meu sacrifício,
escondo-me de min.
sou a noite lasciva que seduz meu caminhar,
e, caminhando em círculos
perco-me em mim mesmo.
desejo com ambição o céu.;
vivo ardentemente à terra!
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