— “Senhor, tende comiseração por nós!” — é o que clamamos ao Pai, reconhecendo a nossa pequenez e o constante e desavisado reingresso na vida das paixões, dos vícios, dos erros, dos desejos impuros. Se bem pudéssemos refletir a respeito do humano proceder, verificaríamos que bem pouca comiseração temos em relação a nós mesmos, mas ousamos, por saber o Pai de infinita misericórdia, solicitar que nos conceda aquilo mesmo que nós nos negamos, inconscientes e inconseqüentes.
Já os espíritos elevados apresentam extraordinária paciência para nossas faltas e nunca renegam o seu auxílio, o seu amparo, a sua orientação sempre segura, mas nem sempre eficaz, pois cabe a nós receber com amor, com discernimento, com humildade, o aconselhamento superior e nem sempre temos essas qualidades desenvolvidas. Sabem os irmãos da espiritualidade superior que, sem que nos dediquemos eficientemente para superar as dificuldades e mazelas, não será suficiente que a orientação seja inteiramente adequada às nossas reais condições de moralidade, intelectualidade e entendimento. Por mais justas e acertadas que possam ser as inspirações que nos chegam, ainda assim espojamo-nos no lodaçal dos vícios, crentes de que nosso procedimento terá, um dia, o perdão incondicional do Senhor.
É preciso que acabemos com essas esperançosas fantasias. Se Deus perdoar — e não é exatamente isso o que realmente acontece —, podemos contar com que teremos de resgatar as dívidas pois, “se o plantio é livre, a colheita é obrigatória” — e nós só colheremos o que plantarmos.
Eis aí, em síntese, o que significa a divina comiseração: é a oportunidade jamais negada a qualquer ser, por mais abjetas tenham sido suas atividades, por mais culpadas se sintam suas consciências, por mais perniciosas tenham sido suas atitudes, é a oportunidade de superação dos próprios males, através, evidentemente, do justo sofrimento, dada a necessidade de se abandonarem definitivamente hábitos, costumes, viciações que nos parecem extremamente prazerosos. Todo resgate é sacrificial, não no sentido de termos de mourejar indefinidamente sob as condições mais adversas, mas, com a necessidade da aquisição dos valores excelsos das divinas virtudes, no sentido de termos de reformular a personalidade, muitas vezes, perdendo até a própria identidade. Por outro lado, se o desajuste se deu em relação à vida em sociedade, de sorte que oneramos a vida dos irmãos, então o trabalho a realizar-se se dará coercivamente, no sentido de prodigalizar o sustento físico ou moral daqueles que injustamente prejudicamos.
Certamente, os amigos muito têm lido a respeito deste tema. Perdoem-nos, entretanto, mais este desenvolvimento, pois para nós tem sido muito gratificante poder discorrer a respeito dos assuntos espiríticos, à medida que desenvolvemos os conhecimentos de imantação, mediunidade e psicografia. Sabemos que por esta caneta já escorreu muita tinta a garatujar de letras tortas tantas páginas de papel. Mas tenham paciência conosco; exerçam sua comiseração para estes irmãos pequeninos da espiritualidade, que necessitam muito caminhar para poder adquirir o direito de discorrer a respeito de temas mais do interesse imediato de cada um, pois é certo que todos necessitamos de esclarecimentos e de incentivos, para prosseguir na caminhada, com o espírito seguro de que o passo a ser dado na realidade é justamente aquele, naquela precisa direção.
Graças a Deus, temos tido estas oportunidades, sendo que cada um de nós tem ocupado este santo lugar por sua vez! Hoje foi o dia do irmão Valdomiro, cuja intenção outra não foi senão a de que o texto pudesse refletir momento de absoluta isenção das preocupações maiores e mais prementes, sem ferir, contudo, o princípio da moralidade evangélica.
Muito gratos ficamos por mais estes momentos de paciência do escrevente, que se dispõe com tão boa vontade a seguir o nosso movimento vibratório, orientando até a pena no sentido mais próximo de nossas forças e atributos.
Oremos prece em favor do desenvolvimento mediúnico dos que aqui se encontram desejosos de aprender com os caros orientadores.
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