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Ensaios-->Não, ao excesso de estrangeirismos -- 06/10/2003 - 22:00 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


QUESTÃO DE OPINIÃO
(por Domingos Oliveira Medeiros)

O anteprojeto de lei do deputado Aldo Rebelo (PC do B - SP) que pretende proteger a língua portuguesa do uso de termos estrangeiros, pode ter, no varejo, alguns defeitos. Porém, no atacado - na minha opinião e de muitos estudiosos do assunto - ele é bastante oportuno e positivo. A proposta recebeu aplausos gerais dos que estão preocupados com a invasão ianque ao território do idioma pátrio. E é nesse sentido, principalmente, que o projeto ganha força. Ou seja, a proteção da língua como uma questão de defesa da soberania nacional, onde ela, a língua, tem, inegavelmente, essa função simbólica. Pergunte aos americanos. Eles sabem disso melhor do que nós. Claro que em relação ao inglês; o idioma que eles sabem proteger como ninguém.

Nunca vi um presidente ou autoridade americana discursar em português, cá no Brasil. Mas estou farto de ver nossos presidentes, ministros e até jogadores de futebol esforçando-se para “fazer bonito” no exterior, falando em inglês, preferencialmente.

Ninguém é contra os empréstimos lingüísticos que, evidentemente, fazem parte da história de um povo. De certa forma, e dentro de limites considerados razoáveis, esses empréstimos acabam por enriquecer o próprio idioma, abrindo espaços culturais, por conta de novos significados, idéias e expressões que são intercambiadas entre os povos.

Assim aconteceu com os empréstimos lingüísticos do árabe, cuja alface (de origem árabe) já faz parte da nossa mesa; e das línguas e dialetos africanos; dos italianos, alemães e assim por diante. Mas estas influências, vale dizer, se deram dentro dos limites do razoável. Não vieram substituir expressões aqui utilizadas. Ao contrário, agregaram novas idéias, novas expressões. Diferente de trocar “apagar” por “deletar;.
de “entrega em domicílio” por “deçivery”; de “e-mail” por “correio eletrônico”; de “fashion” por “na moda”; de “sale” por “liquidação”.

O professor da USP, o lingüista José Luiz Florin, em entrevista concedida à imprensa, revelou-se totalmente contra o supracitado anteprojeto de lei. Segundo ele, “Não existe razão linguística que justifique o projeto, que é inviável do ponto de vista de formação do léxico e politicamente equivocado.” E mais adiante ele afirma “a língua não está sob ameaça”.

Permito-me discordar do eminente mestre. Em que pese o fato de que o anteprojeto de lei, aqui e acolá, possa ter cometido um ou outro excesso de apego à legislação; no geral, ele é bom para o país. Se é verdade o que diz o ilustre professor, a nossa língua pode não está sob ameaça, mas, convenhamos, a soberania já começa a ser arranhada.

Se é verdade que inexistem razões do ponto de vista de formação do léxico, para a aprovação da proposta, por outro lado, o projeto não é politicamente equivocado. Preocupa, sim, o uso excessivo de expressões estrangeiras, vale dizer, da língua inglesa.

Basta dar uma olhada em volta. Lojas, Padarias, Bares, Restaurantes, comércio em geral, a impressão que se tem é que estamos em outro país.

Na terra do Tio Sam. Inscrições em camisetas, calças, calçados, chinelos e até adesivos em carros que dizem de “I Love Rio até “I Love Pombal”, no sertão da querida Paraíba. Que não diria o cangaceiro Lampião a respeito?

E não pára por aí. A televisão, a imprensa escrita, enfim, os meios de comunicação em geral, alimentam esta overdose de invasão americana no Brasil. E pior, não se fazem com o que de melhor poderia ser incorporado. Haja vista os programas do tipo Big Brother.

Não se trata de “excluir os estrangeirismos”. O problema não é este. Aliás, o anteprojeto de que se fala não caminha nesta direção. O problema é o uso excessivo de expressões de origem inglesa. A despeito de o citado professor pensar de forma diferente, isso atrapalha e dificulta, e muito, a comunicação, principalmente entre o homem simples do povo, que é maioria neste país, e que nem aprendeu direito sua própria língua.

No exame do Ensino Médio (ENEM) os jornais publicaram pérolas colhidas nas redações elaboradas pelos alunos ditos “alfabetizados”:
“...no país em que vivemos, os problemas cerrevelam”. // ...hoje endia // os desmatamentos dos animais precisam acabar //...por isso eu luto para atingir os meus obstáculos// e, por fim, “...é um problema de muita gravidez”. Com certeza, que sim.

Por outro lado, tentar justificar a invasão do inglês alegando que isso deriva do fato de que a língua que fornece mais palavras por empréstimo é aquela que pertence a um povo hegemônico, num determinado período da história, desculpe-me, mas isto sugere submissão. Hoje é o inglês. Amanhã será o Chinês? E quando chegará a nossa vez?

A verdade é que estes “empréstimos” lingüísticos acabarão saindo, para nós, os brasileiros, muito mais caro do que os empréstimos em dinheiro, que estão sendo feitos pelos fundos monetários internacionais. Que, por sinal, além de terem seus contratos redigidos em inglês, usa a moeda americana como referência. O contrato é assinado em português e a conta é paga em real, convertido em dólar, ao preço do dia. Conclusão: sempre estamos perdendo.

O citado professor estabelece uma série de ações com vistas a melhoria da promoção de nossa língua, que não foram contemplados no anteprojeto de lei em questão: criação de mais bibliotecas públicas, em todos os municípios, onde deveriam circular todos os jornais, modificação de métodos de ensino do português, reciclagem de professores., utilização dos meios de comunicação para o ensino da língua, comunicação de massa, bolsas de estudos e divulgação na língua no exterior. Embora concorde com as medidas propostas pelo ilustre professor, a crítica não procede em relação ao anteprojeto em tela, posto que não é esse o seu objetivo.

Chega de tantos games, match points, sale, delivery, delet, print, times new roman. Não quero mais, pela manhã, um breakfast. Uma média com pão e manteiga já resolve. Nem preciso de um almoço delivery, no ambiente de trabalho. Se precisar, telefono para alguma empresa que entregue em domicílio, o meu, digamos, hot dog, O cachorro quente até que a gente . Mas só se for com guaraná; e não com coca-cola.

De qualquer modo, o anteprojeto virou projeto de lei número 1.676/99, e está sendo objeto de discussão na Universidade de Brasília. Quem sabe, o mesmo será aprimorado? Finalmente, estou com Fernando Pessoa: “Minha pátria é minha língua”.
Brasília, 06 de outubro dd 2003






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