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Ensaios-->Por avenidas, ruas, vielas e becos da relativização -- 06/10/2003 - 18:10 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se gosta de poesia e faz poemas... Talvez lhe interesse...

Como me sinto um tanto ou quanto tramado e sobretudo injustiçado pelo critério da daqueles que de fora presumem ver o que lhes apetece dentro de mim, e tal como eu muitos outros que enfrentam o mesmo latente preconceito, por minha parte e a título de contributo elucidativo ao complexo que equaciono, em breve resenha, descrevo alguns pormenores que darão ideia - e por aí traduza-se, intua-se e desenvolva-se quanto possível a síndrome que abordo - sobre a forma como vejo de mim para fora e daí para dentro de outrem por via de sucessivos exercícios relacionais que frequentemente ensaio e onde a poesia ocupa importante lugar.

Habituei-me, inculquei ou viciei-me até - como queiram - a partir dos 20 anos de idade, a relacionar tudo-tudo ilimitadamente, numa altura da minha vida em que me iniciei a escrever versos para canção e fado.

Por exemplo, como se despoleta um exercício mental de relativização? Imagine-se que se retira um dos parafusos da ponte de D. Luís e com ele propositadamente se produz algumas dezenas de cordas para guitarra, cujos bordões têm resistência suficiente para sustentar um indíviduo que se enforcasse, e isto com muito mais eficiente execução do que se optasse pela clássica corda de sisal. A partir daqui estará pois aberta uma clareira infinita para relacionar qualquer assunto sob motivo com lógica e razão naturalmente plausíveis.

Prosseguindo, lembro-ne que numa dada altura de minha infância, com uma grossa corda que havia na casa de meus avós, improvisei uma espécie de pneu para a minha bicicleta por na altura não ter possibilidade imediata de reparar um furo que ocorreu. E andei uma tarde inteira de velocípede sem amolgar o aro da roda graças àquela espontãnea habilidade. Temos tendência a conseguir o imprescindível quando os recursos habituais nos faltam.

Fã incondicional em enlevo máximo de Disney, pelo lado da espiritualidade, e de Einstein, pelo lado da física, dos quais recolhi preciosos conhecimentos e me inspiraram interessantes métodos e ideias logo que captei no poema de Frederico de Brito, 'Canoas de Lisboa' o processo dual de obter duas imagens sobrepostas no mesmo verso - a da superfície e a do subentendido, tal como as canoas de Lisboa acobertam poeticamente as mulheres de rua, nunca mais parei de fazer relacionar e subentender em meus versos os efeitos de multiplicidade interpretativa. Produzi assim centenas poemas que têm mais de 50 chaves concretas de subentendimento além da leitura directa. Muitíssimos intérpretes que não me conheciam bem e se atraíam pelos meus trabalhos, ao lerem e relerem os versos, nunca foram além de se aperceberem de uma ou outra chave poética e mesmo sob indicação prévia foi necessário indicar-lhes os diversos elementos que compunham os poemas na sua face invisível.

Ninguém a meus olhos, fechados ou abertos, consegue iludir-me na essencialidade do que considero o quadrado vital da vida: fome, sede, sexo e sono.Consoante abordo ou me abordam, conheço e qualifico as pessoas em relação a essa inevitabilidade e aguardo que o relacionamento se espanda até que voluntariamente se predisponham a deitar algo do ego cá para fora. A partir daí parto eu para dentro de cada qual. É evidente que para lograr êxito neste processo, o controlo sob o desenvolvimento da confiança é rigorosamente essencial, senão a experiência goira-se de todo.

Sem rebuço algum, por empatia espontânea, por interesse pessoal ou por afeição, confesso que, mesmo sabendo de antemão com certeza absoluta que vou ser imparavelmente enganado mais dia menos dia, entrego-me mesmo assim esplendidamente e com prazer ao esperado engano. Tenho a sensação que as pessoas vão jogar a corda comigo e desde logo, numa espécie de 'vejo-e-sinto', descubro de imediato a altura e a velocidade a que acorda se exercitará e também como o jogo irá finalizar.

Quanto a relativização poética, para exemplicar breve e me fazer entender quanto possível, tomo dois versos, o de superfície e o subentendido:

Flor de caule robusto plena de viço e cor.
Mulher de corpo sádio cheia de cio no rosto.

D - Flor ==== Mulher
1 - de caule robusto === de corpo sádio
2 - plena de viço === cheia de cio
3 - e cor ==== no rosto

Estas breves e suscintas indicações são suficientes, a quem bem atentar e possuir alguma capacidade de imaginação e de discernimento, para permitir larga cogitação e o prosseguimento relacional nos mais diversos e múltiplos sentidos sobre o motivo que porventura equacione.

O demonstrado pode pois obviamente ora ser ensaiado sobre pessoas, ora aplicar-se em poesia sobre versos ou qualquer outro sujeito. Pode-se relativizar seja o que for na teoria e na prática.

Praza que deste singelo apontamento algo inspirado se produza e resulte  proveitoso.

António Torre da Guia

PS = Há muitíssimas pessoas que são dotadas do conceito apresentado sob absoluto domínio mas não lhes ocorre utilizá-lo por falta de mera lembrança dos tópicos iniciais de relacionação.

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