Nunca em prévia consciência li Coetzee e se porventura li terá sido por interposta citação ou possível coincidência paralela, pois sequer da autoria me apercebi. No que à eventual atribuíção do Nobel de Literatura concerne, portuga miolar exacto na fábrica do sonho que pode ou não pode resultar real, sou um arreigado pobreta lusófono a espreitar sobre as actuais hipóteses de António Lobo Antunes, pela prosa, e de Sophia de Mello Breyner Andresen, pelo verso. Sobre Coetzee, ora laureado neste insalubre ano de 2003 - sinto-o assim - apraz-me o apreço analítico que o apresenta como 'um crítico implacável do racionalismo cruel e da cosmética imposta à moralidade da civilização ocidental '... Duas feições onde também estrebucho, embora sem pânico ou temência de ameaça que possa privar-me de mais um dia entre as voltas do redemoinho crucial da existência. E apraz-me, sim, não pelo sujeito ser nobilitado, mas tão só como me aprazaria se anteriormente conhecesse a órbitra do escritor e o conceito por onde percorre a corda bamba sobre o abismo dos vivos. Quem de Coetzee bem conhece pendores, coloca-o lado a lado com as sombras de Kafka e de Beckett, considerando-o também comprometido com o imbróglio político que emana da origem boer em contraposição a esta, o que quanto a mim é tão só uma charada actual, cuja divergência persiste além da sórdida barreira da cor de pele: de preto se pinta o branco para lograr tornar-se invisível na noite e vice-versa em relação ao dia. J.M.Coetzee, relativamente a si, explicita que 'não é preciso compreender minhas ideias para perceber o que escrevo'... Ora, tomando a ponta que infalivelmente existe no interior da meada, replicaria oportuna e azadamente em face dos autores e leitores da Usina de Letras: pagava firme a quem provasse entender o que escrevo!... Ah... Ah... Ah... Quanto me sobraria dos 1,11 milhões de euros que o premiado terá ao seu dispor a partir do próximo 10 de Dezembro. Em português do luso-cantinho, dão-me a conhecer que o actual nobel literário tem no mercado livreiro as obras 'À espera dos bárbaros', 'A ilha', 'A idade do ferro', e 'Desgraça', das Publicações D.Quixote. Pela Difel, pode-se ler ainda 'A vida e o tempo de Michael K.', e pela editora Temas & Debates, 'As vidas dos animais'. - Eduardo e Alexandre... Por favor... Saiam de Menor em mi e muito lento: É... É... É... É... Se uma porta é uma afronta A fechadura é o resto Que prova que a chave é contra Tudo quanto é honesto... António Torre da Guia |