Os distúrbios mentais podem ocorrer de um momento para outro em qualquer indivíduo, mesmo naqueles que têm por apanágio a extrema paciência em todas as circunstâncias da vida: basta que haja perturbações orgânicas humorais, para que o sangue se sature de adrenalina e de outros elementos químicos nocivos à estabilidade do sistema nervoso. Pessoas existem que não demonstram os desequilíbrios, mas isto não quer dizer que não passem por indisposições mentais. Outros seres têm o chamado “pavio curto”, pois, com muita freqüência, perdem o controle das ações, por derramamento de bílis provocado por reações de difícil sopitamento, dado o hábito de se deixarem estimular pelas emoções. Existem até aqueles que provocam situações de confronto porque é, através do desequilíbrio, que procuram firmar socialmente a personalidade. Finalmente, casos há de mais grave contextura em que as pessoas só conseguem sobreviver à custa de muito medicamento paliativo das constantes depressões, as quais os indivíduos não buscam conter por visão muito pessimista da vida.
Em todos os casos, contudo, é bom observar que existem fatores externos a se conjugar com a desarmonia mental e orgânica. Se bem considerarmos, tudo provém de como se encara o ato de viver e o modo pelo qual transcorrem os acontecimentos que envolvem as pessoas. Afora casos de total alienação, por razões irreversíveis de caráter teratológico, ou por lesões ou por tumores cerebrais, no mais das vezes tudo decorre do ponto de vista filosófico e dos princípios morais através de que se encara a existência.
São esquizofrênicos, pois, todos os que se desesperam e se voltam contra si mesmos ou contra a sociedade, encarada como conjunto de pessoas e entidades ou como seres individualizados com quem se devem manter relacionamentos.
Como barrar tais reações tão levianas do ponto de vista espirítico?
Não existem remédios morais específicos, pois só a vida, através de multíplices experiências, é que pode ensinar o caminho da recuperação. Entretanto, ajuda conhecer o indivíduo e a natureza de seus problemas, orientando-o, na medida em que aceite a colaboração dos companheiros, no sentido de se analisarem e de se buscar compreender as necessidades orgânicas e os meios de superar os estados emocionais desencadeados pelos diferentes ingredientes químicos, na ausência ou acúmulo. Tais ajudas são, evidentemente, absolutamente técnicas e exigem profissionais médicos altamente especializados.
No que se refere aos aspectos morais, é preciso colocar-lhe nas mãos as obras de evangelização, caso não tenha ainda tido oportunidade de conhecer a doutrina espírita. Integrá-lo a grupo de estudos dos problemas mais corriqueiros do dia-a-dia das pessoas também poderá vir a ser fator de superação de diversas facetas do desequilíbrio, principalmente se for possível demonstrar-lhe que os problemas que o afetam se encontram em outras pessoas. Esse congraçamento é importante no sentido de partilhar o sofrimento e, talvez, no de fazer que as pessoas tenham a personalidade valorizada, à medida que determinadas obrigações e responsabilidades lhes sejam destacadas. Por menos que se faça, sempre é melhor do que deixar o indivíduo entregue às divagações e anseios.
Caso seja você, caro amigo, a pessoa atacada por mal tão desconcertante, podemos recomendar-lhe remédio de excelentes resultados: a contenção do desespero pela prece. Acostume-se, leitor amigo, a considerar como de iniludível vantagem o conhecimento dos bens espirituais proporcionado pela doutrina espírita, bem como aja como se estivesse constantemente amparado e acompanhado por diversas entidades e guias do plano espiritual, mantendo íntima conversação com eles, a todo momento, discutindo os problemas e solicitando ajuda através de sugestões, que lhe chegarão por via intuitiva, de como procederiam naquela determinada situação.
Saiba, bom amigo, que não lhe estamos fazendo promessas néscias, mas que estamos indicando-lhe salutar revelação do caminho real a seguir. Do mesmo modo que você pode atestar a presença dos espíritos nas mensagens que muitos médiuns têm apanhado, assim deverá efetivamente crer na presença constante, segura, oportuna, ao seu lado, das entidades encarregadas de ajudá-lo no cumprimento da missão ou no desencargo do sacrifício. Para tanto, basta manter o tônus de sua freqüência moral elevado, buscando proceder em harmonia com os ensinamentos de Jesus, mesmo que isto lhe custe muito desassossego e indecisão, por não ter inteira convicção de quais sejam suas reais responsabilidades. Não importa o titubeio: o que irá revelar a você mesmo o caminho certo será sua firme deliberação de tentar realizar o melhor, sem dar vazão a rancores, a ódios e a indisposições contra o vizinho, o amigo, o parente.
Rememorando: se você se desequilibra emocionalmente com facilidade, afaste-se imediatamente das causas que promovem a fragilidade das reações, buscando acalmar-se em ambientes tranqüilos. Procure, a seguir, algum médico que lhe possa orientar o tratamento físico do sistema nervoso. Se não participa de nenhuma casa de orientação espiritual, procure algum templo, seja de que religião for, e exponha, coração na mão, o desejo de superar as deficiências. Neste caso, é preciso cuidar para que o orientador seja pessoa honesta e conhecedora dos benefícios morais que advirão do proceder reto e judicioso. Qualquer pedido de pagamento para serviço de caráter espiritual revelará que a casa escolhida não é confiável. Procure, ainda, ler e compreender as obras mais significativas do kardecismo, para adquirir visão filosófica adequada. Finalmente, faça dos amigos espirituais os companheiros de toda hora, para quem confidenciará as dúvidas e incertezas e de quem receberá a ajuda e o apoio indispensáveis para o restabelecimento.
Fique certo, caro amigo, que você, mais dia, menos dia, conseguirá superar as dificuldades e deixará para trás os momentos de desespero e desilusão, pois em Jesus você encontrará o caminho, a verdade e a vida.
Comentário
Procuramos trazer texto de orientação específica. De certa forma, preocupamo-nos com o fato de estarmos a revelar o quanto os encarnados estão desviando-se dos caminhos, sem, contudo, estender-lhes as mãos. Por isso, a mensagem buscou enfatizar a presença dos amigos da espiritualidade no dia-a-dia dos leitores, a fim de estimular-lhes confiança e fé em que os problemas estão sendo levados à conta de responsabilidade partilhada.
Não pensem que nós, enquanto encarnados, praticamos religiosamente todos os deveres do espiritualismo cristão. Quando muito, alguns conheceram certos princípios evangélicos, mas, dotados de extraordinária versatilidade moral, conseguiam “ludibriar” as obrigações, de sorte que a colheita não nos foi farta. É esta a causa da apreensão, a qual nos leva, muitas vezes, a vergastar os males sem oferecer roteiros firmes para superação deles.
Hoje enveredamos por trilha segura e esperamos ter colaborado para que os leitores se compenetrem da necessidade de se socorrerem uns aos outros, da mesma forma que tomamos consciência dos deveres para com os semelhantes. Dia virá em que todos nós nos encontraremos deste lado da realidade e poderemos, então, expender mais detidamente considerações a respeito de tantos temas que nos assoberbam a mente e de que não temos permissão para falar.
Como é belo, no entanto, saber, conhecer, produzir segundo as normas evangélicas e pautar todo o procedimento pelas excelsas leis do amor, da justiça e do trabalho! E como, muitas vezes, isso é tão dificultado pela ignorância, pela pretensiosa visão do Universo, pelo imodesto amor-próprio, pelo orgulho, pelo egoísmo! Como quiséramos poder dizer: superamos as deficiências e estamos preparados para a angelitude!
Pois não vamos desfalecer na caminhada. Que a visão do porvir seja, em si mesma, tão estimulante que jamais nos impeçamos de prosseguir pelo nosso “mau-caratismo”, pela nossa imperfeição! Que nossa estultícia de agora seja o ponto mesmo do desafio e que possamos em breve, com corajosa deliberação, enfrentar a nós mesmos com as armas do estudo, do trabalho, da dedicação ao irmão necessitado, do respeito aos superiores, e no amor do Cristo—Jesus!
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