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Ensaios-->5. O SONHO -- 18/09/2003 - 06:41 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sonhava que era um trovador. Marchava, dedo em riste, acusando desafetos de terem copiado minhas trovas e arreganhava os lábios, entremostrando os dentes para quantos se atrevessem a perlustrar comigo as sendas do pouco amor de que me via possuído. Todavia, aos poucos, minhas forças iam enfraquecendo e eu ia reconquistando a voracidade habitual, de modo que não chegava a tempo para a realização, a concretização de qualquer obra imaginada. E assim caminhava só, sem estar na companhia de ninguém, a não ser de fantasmas de antigas figuras, vestidas e coloridas em modas de antanho. E as festas se faziam por toda parte e eu me entregava aos prazeres medievais dos cânticos e das bebidas, dos jogos e das disputas. E ali, perto de mim, a repercussão de minha música, enfadonha e lúgubre, a rememorar versos de amor e de desprendimento, a suscitar momentos de enternecida paixão e profundo desalento, até que acordava confuso, sem ter, realmente, compreendido o significado daquele emaranhado de acontecimentos.

E um suor frio escorria-me da testa, porejando plasmaticamente a angústia do desentendimento do irreal. Aos poucos, a confusão se desvanecia nas sombras do inconsciente e eu acabava despertando lúcido para o dia de hoje, para o momento atual da vida. E o sonho se repetia, noite após noite, a ensandecer-me a alma, que, de desatino em desatino, mergulhava inconsolável na dor, no atroz sofrimento do insondável.

Fruto dessa angústia, o desespero conduziu-me para paragens obscuras do cérebro, regiões nebulosas onde guardava bem escondidos os acontecimentos que um dia foram realidade em encarnação anterior. Com muito esforço de penetração no desconhecido, fui revelando a mim mesmo a penosa significação do mal subentendido.

As roupagens, as cores, as festas medievais um dia tinham sido verdadeiras. Via-me alijado da atual intelectualidade mas inflado de sentimentos. Bardo de canções de amor e felicidade, vivia amores fugazes e prazenteiros, que deixavam marcas à minha passagem, mas que não sentia em mim. Ninguém a meu lado a compartilhar do afeto momentâneo e fugaz. Ninguém a acompanhar-me de cidade em cidade, onde os desatinos só se acrescentavam, aumentando enormemente o círculo das inimizades. Passagem célere e cada vez mais, de modo a facultar-me contactos cada vez mais efêmeros. A velhice chegou sem afetos. A morte surpreendeu-me em débitos superiores às minhas forças. E o sonho a retornar esquisito no atormentado convívio com o passado de luxúria e irresponsabilidade. No torvelinho das desilusões do presente, a euforia dos disparates do passado. Acrescia, ainda, a pobreza moral transvestida de força intelectual e eis-me inteiramente falido diante dos valores eternos, o evangelho a acusar-me, os inimigos a perseguirem-me, a consciência a atormentar-me. Num bólido de cataratas em catadupas de desarmoniosa deselegância vocabular e estética, as palavras passaram a jorrar-me tenebrosamente ameaçadoras de profundo abalo cerebral: estava endoidecido. E a peregrinação terminou em profundo abatimento e foi assim que me desliguei da densidade corpórea, desiludido, em frangalhos morais, sem esperança, na tediosa expectativa de devir magoado e opresso.

Nunca prognóstico algum foi mais verdadeiro. Carreei comigo a frustração, a desesperança, o incalculável ódio, a profunda dor de ver duas inteiras internações na carne jogadas às larvas dos cemitérios. E eis-me aqui, agora, finalmente, cheio de comiserações pessoais, a relatar acontecimentos em forma de enigmas misteriosos, cheios de gananciosa e falaz expectativa de sucesso.

Se não fora capaz de me ater ao bem no compromisso das anteriores encarnações, como desejar agora, sem adequado preparo, expor, com segurança, idéias de bem arrematadas considerações? Se não fora capaz de equilibrar o espírito à luz da razão, como querer exarar texto na plenitude do conhecimento superior? Finalmente, a sós comigo mesmo, após milênio de profundo sentimento de egolatria e após perfeito perdão das aceradas dores que pratiquei, pude constatar, amarfanhado e infeliz, que o prisma da bem-aventurança é a saudável angústia do bem a praticar, sem esmorecimento, no desejo de ver o irmão prevalecer sobre o sofrimento e de ver a verdade enfim pairar soberana nas consciências. Hoje, integrado a grupo de estudos, sonho com o dia em que poderei sobrepujar as crendices e mesmices, na desvelada esperança de progredir rumo à eternidade do bem maior.



Comentário

Hermético, fechado sobre si mesmo, egoísta e egocêntrico, o irmão Leonel se encontra em difícil fase de adaptação ao trabalho do grupo. Tendo total possibilidade de produzir texto compreensível, desejou escrever algo como que o reflexo da mente perturbada, para fazer sentir aos leitores e aos companheiros de curso as suas mentalizações e incertezas. Despojado de interesses estético-literários, mas profundamente interessado em revelar-se tal qual é, o irmãozinho conseguiu externar com fidelidade a emaranhada contextura mental sob que se vê pressionado, como se preso estivesse em teia, sob ameaça voraz de terrível anfitriã.

Se sonhos houve na derradeira encarnação que desvendassem segredos da passagem anterior, tais revelações permaneceram misteriosas e totalmente indecifráveis, até o ponto em que, excitada ao máximo, a imaginação pôde trabalhar livremente os dados apresentados, de molde a elaborar delineamentos da vida anterior, sem a contextura da realidade. Esse afastamento do momento presente, esse vivenciamento indevido de meros reflexos de problemas que se infiltravam no consciente, provindos da penumbra do mais profundo dos recônditos escaninhos da memória, descambaram para misticismo insuflado por desarranjos da derradeira encarnação, que redundaram em desvario e perda do equilíbrio emocional. Acabou totalmente insano.

Essa experiência em vida repercutiu dolorosa na mente após o desenlace, de sorte que perdura até hoje a impressão de sucessivos crimes passionais e de total segregação dos grupos de espíritos com quem manteve contactos para integração familiar. Esse vazio dá-lhe agora a idéia de que, por culpa sua, se afastaram os espíritos que lhe eram afins, perdendo até a confiança nos instrutores e orientadores.

A custo foi conduzido ao grupo, sob influenciação de antigos desafetos, hoje plenamente restabelecidos dos males que sofreram e cônscios da necessidade de recobrar o irmão perdido, ainda agora impossibilitado de reconhecê-los e de ver neles o companheirismo restabelecido. Graças a Deus, tem estudado muito e tem participado das sessões de restauração da verdade, momentos esses cercados dos devidos cuidados fluídicos para serem evitados os estados de choque emocional.

Hoje, refeito da loucura, foi guindado à condição de escrevente, tendo-se desincumbido com proficiência da tarefa. Esperamos que o seu texto-mensagem conduza o caro leitor a meditar a respeito das preocupações com sonhos e pesadelos, o que tem despertado em muitos angustiosas ilusões a respeito das realizações, quer em passadas aventuras, quer na condição de espírito livre dos liames carnais, quer ainda como expectativa de sucessos futuros. É preciso reconhecer no sonho aquilo que realmente é: a representação imagética de estado mental, provocada, geralmente, pelos acontecimentos do dia-a-dia, refletindo preocupações, esperanças, alegrias, angústias, sofrimentos físicos ou morais etc. Que o exemplo de Leonel sirva de lição, mas é importante frisar que ocorrências desse porte são raríssimas e constituem casos da teratologia psíquica complexa.

Oremos para que a Divina Providência nos dê forças para auxiliar o irmãozinho a superar a condição de infelicidade.

Ao escrevente, agradecido abraço por nos ter permitido transmitir texto com tanta aparência de desrespeito pela inteligência do leitor. Certos de sermos compreendidos, nós e o texto, subscrevemo-nos desejando-lhe todas as venturas do mundo.

Homero, pelo grupo de alunos que realizou o estudo do caso Leonel e fez questão de partilhar da mediação desta mensagem.



Explicação

Leonel está constantemente sob o influxo vibratório dos amigos, que se revezam para auxiliá-lo, sendo essa sua principal missão no momento. É como se fosse caso de obsessão às avessas, no bom sentido. Esse constante amparo é que lhe tem permitido prosseguir equilibrado e lúcido.

Evidentemente, o resgate dos débitos dependerá de atitudes próprias de superação do estado de letargia moral, mas, enquanto não estiver inteiramente consciente das faltas e da extensão dos trabalhos a serem realizados para o resgate delas, precisará manter-se sob a assistência especial.

É interessante notar que sabe disso e, por isso, empenha-se a fundo no estudo das virtudes evangélicas, procurando manter padrão vibratório condizente com sua capacidade de energização. Faz o máximo que pode em agradecimento do interesse dos companheiros. Sendo assim, vemos para breve sua liberação dos vínculos fluídicos, mas tememos que sua estadia em organização hospitalar conveniente venha a ser prolongada. Não importa: se o benefício da cura for o resultado do trabalho sacrificial dos amigos, ficaremos todos imensamente felizes por ter contribuído, modestamente embora, para essa recuperação.

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