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Ensaios-->América e Europa - o Encontro e a Problemática da Identidade -- 09/09/2003 - 00:39 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1492. Nas terras futuramente chamadas América, arquipélagos de grandiosas civilizações edificavam um tempo cíclico de glórias, à espera do prometido retorno de seus “pais fundadores” (das terras distantes nas quais se refugiaram em tempos imemoriais), ao mesmo tempo que oceanos de sociedades coletoras e caçadoras subsistem como podem (dadas suas relações com o ambiente físico e simbólico no qual estão inseridas). Nas terras anteriormente chamadas Hispânia, a grande civilização islâmica vivia seus últimos desdobramentos na defesa de seu derradeiro enclave – Granada – ilhado num oceano de pequenos reinos cristãos particularistas. A vitória desses últimos, mediante um olhar retrospectivo, aparentou ser o início da derrocada de todos os demais.

Da terra conquistada aos muçulmanos (doravante conhecida como Espanha) partiram naus que rasgaram o “Mar Oceano”, levando consigo todo um árduo processo de “reconquista” territorial de 800 anos. Seus tripulantes provinham de diferentes regiões da península (e da Europa, incluindo seu comandante), possuindo, portanto, diferentes visões de mundo. Unia-os a fé cruzadista, o espírito belicoso/oportunista dos aventureiros e um imaginário repleto de seres fantásticos e terras exóticas além-mar, características comuns aos povos europeus, os quais a Espanha “protegera” durante a invasão muçulmana e agora representava, empreendendo tamanho esforço civilizatório. Sim, pois esses poucos homens de armas, navegadores, fidalgos arruinados, missionários etc. foram os responsáveis pelo “salto” da Europa até as terras a Oeste. O Ocidente europeu se projetou, alcançando o “Extremo Ocidente”...

Enquanto isso, a Oeste, nas “zonas nucleares descontínuas” as grandes civilizações pré-colombianas (Astecas e Incas) submetiam vizinhos mediante tributos, construíam imponentes monumentos e intrincados sistemas sociais, consolidavam sociedades sem Estado mas com governos fortes, calcados no controle simbólico (religioso/tradicional) que lhes conferia legitimidade. Sua base produtiva se assentava sobre processos agrícolas altamente sofisticados (muito mais do que, sem dúvida, as “coivaras” que haviam contribuído para a decadência predecessora dos maias); seus artefatos materiais e culturais (estradas, monumentos, sistemas de drenagem/irrigação, calendários, cosmologias, arte etc.) eram sumamente ricos, tão ou mais dos que os seus equivalentes além-mar.

Não houve, com efeito, um “encontro de 2 mundos” quando da chegada dos espanhóis/europeus às terras do “Extremo Ocidente” – havia tantas diferentes civilizações indígenas quanto havia reinos na miríade do solo espanhol. Culturas orgânicas, de múltiplas partes complexamente arranjadas, experimentaram a existência do “Outro” – diga-se, de forma totalmente inesperada. Houve perplexidade inicial, diálogo entre surdos, bem como situações inesperadas – eram os deuses barbudos navegantes? Como viveria aquela estranha gente “sem fé, sem lei e sem rei”?

O corolário desse desencontro/encontro de ordenamentos simbólicos distintos (alimentado pela empresa cruzadista espanhola e pelas profecias indígenas) foi a incompreensão, gerando a intolerância e descambando na violência. Os europeus se sobrepuseram aos nativos (não sem resistência) e sua cultura foi fincada sobre os destroços da cultura dos vencidos. Estaríamos falando de aculturação, europeização, se a dinâmica da existência humana se detivesse nesse ponto. Ocorreu, no entanto, uma apreensão diferenciada e (até certo ponto) controlada dos referenciais simbólicos europeus pelos nativos, que os reinterpretaram à luz dos referenciais de sua própria cultura. Ao mesmo tempo, a Europa voltou-se para si mesma, buscando nas sombras do seu anterior “universalismo” elementos que a diferenciassem do “Outro” recém-descoberto. A busca por uma consciência européia não culminou, infelizmente, no reconhecimento do direito do “Outro” à diferença; antes, o europeu enxergou no “Outro” um reflexo distorcido de si mesmo, um estágio primitivo – a alteridade se resumindo na ancestralidade. Daí em diante os povos do “Extremo Ocidente” passariam a ser vistos através olhar evolucionista e autocentrado do europeu. A incorporação dessa visão pelos próprios “observados” permitiu a perpetuação desse “eurocentrismo”. Não apenas ao “Outro” foi negado o direito à diferença, como esse “Outro” se torna objeto de um “processo civilizatório” visando torná-lo (a despeito de todos os seus “males de origem”) um europeu, tão ou mais “perfeito” do que os europeus originais...
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