Quando as pessoas são admoestadas por imprevidência, quase sempre o são “em nome de Jesus”, pois nada mais fácil do que invocar a autoridade do Mestre, para fazer sentir o peso das advertências. No entanto, muitas vezes, tais palavras de admoestação não têm o sentido que teriam se ditas fossem pelo Nazareno. É que as pessoas não se sentem capacitadas a bem citar Jesus e inventam fórmulas que absolutamente jamais sequer lhe perpassaram pelo pensamento. Melhor fariam se estudassem o evangelho para conhecer com mais propriedade as divinas virtudes preconizadas pelo Senhor.
Seria bom exemplo desse tipo de acontecimento, quando a mãe adverte o filho reclamão dizendo que o “Papai do Céu” não iria gostar nada de ver tal atitude. Ora, Deus não conhece peias para amar a ninguém e, por isso, não iria deixar de gostar do garotinho só porque tem apresentado certas reações do desagrado da mãe. Se houver maldade precoce, que seja severamente corrigida por sua natureza e não pelo que representaria para o Pai, para Jesus, para Nossa Senhora ou outra qualquer entidade que se costuma invocar em igual situação. De resto, o hábito é tão arraigado na educação que as mães proporcionam aos rebentos, que o que mais se ouve delas em tais circunstâncias é a célebre frase: — “Não faça isso, que seu pai não vai gostar.”
Vamos generalizar essa atitude para todas as recomendações que nos cabe fazer em situações de encaminhamento das pessoas que estão sob nossa responsabilidade? Absolutamente não! Vamos adquirir autoridade, que fluirá com toda a certeza do conhecimento da lei, produto do esforço no estudo e na prática das virtudes bíblicas. Se ter fé, esperança e caridade é o fundamento essencial sobre que se deve erigir a personalidade de qualquer pessoa que deseje ascender na vida espiritual, conhecer também as demais virtudes do amor, da benquerença sem hipocrisia, do apego ao trabalho edificante e dos demais itens menores, quais sejam o devotamento às tarefas socorristas, a persistência em perseguir os objetivos superiores da vida, a tenacidade em perlustrar os caminhos da dor, do sofrimento, etc., é vital para o sucesso da encarnação no campo das provações ligadas aos deveres e obrigações assumidos.
Graças a Deus, nossos leitores têm tido real paciência e perseverança em ler os textos e em meditar a respeito dos temas aventados. São desbravadores tenazes do conhecimento, uma vez que não se satisfazem em limitar a curiosidade intelectual e moral a só aceitarem o que, em nome de Jesus, lhes temos trazido à mente e ao coração. Ainda bem que têm o hábito de caminhar ao lado dos evangelistas em suas páginas sacrossantas da revelação do amor de Jesus. Ainda bem que vão abeberar-se nas fontes límpidas das águas lustrais das comunicações da Terceira Revelação, buscando saciar a sede de conhecimentos nas imortais obras de Kardec. Ainda bem que não se contentam em se ater a alguns textos dos mais afamados autores espíritas, mas se dedicam também à leitura das obras menores, das mensagens avulsas, dos periódicos, dos semanários. É preciso vasculhar todas as manifestações da sabedoria humana e captar com profunda harmonia os conhecimentos que formam a coerência do pensamento espírita, para sedimentar a formação, de modo a nunca falar “em nome de Jesus”, mas com a convicção do Mestre, quando recomendava aos hebreus que se sintonizassem com o Espírito Santo, através das atitudes de aceitação do Filho de Deus.
Trazer Jesus no coração é algo a que todos nós aspiramos com veemência. Mas ao abrirmos a boca, que as palavras sejam a extensão de sua sacratíssima sabedoria, de modo que lhe sejamos reais porta-vozes dos ensinamentos, quais novos apóstolos a proclamar a verdade evangélica para honra e glória do Senhor.
A pregação espírita é motivo de muito orgulho para quem se atreve a ocupar a sagrada tribuna nos centros de assistência espiritual. No entanto, a responsabilidade que tal atrevimento envolve é tão grande que é preciso estar bem amparado espiritualmente, quer através da assistência contínua dos protetores e mentores individuais, como ainda através da inspiração do guia a quem cabe administrar espiritualmente a casa. Nesses momentos de euforia verbal, é preciso conservar a calma dentro dos princípios da razão governada pelos conhecimentos hauridos dos estudos e da meditação. Não ficar gaguejando idéias próprias, mas revestir as idéias comuns com mantos de sua confecção, eis o estilo mais adequado para quem deseje instruir em bloco grande número de pessoas. Nessa situação, nunca falar “em nome de Jesus”, mas discorrer com segurança a respeito dos temas previamente combinados, como se fora o Mestre a disseminar as lições nos corações opressos e inseguros dos que necessitam de encaminhamento espiritual.
Adquirir tal confiança não é tarefa de poucos méritos, entretanto, é perfeitamente realizável, dados os princípios norteadores que têm sido formulados por inúmeros e lídimos guias da espiritualidade superior. Fiquem, irmãos, tranqüilos na hora do testemunho, pois estarão amparados pelos amigos que lhes dão sustentação mediúnica, de modo que, certamente, obterão êxito.
É tão certo o sucesso que o que deve preocupá-los é a sensação de grandeza que advirá depois. É preciso estar preparado para reagir condignamente ao influxo das idéias de enlevo do amor-próprio. Por isso, recomendamos que as falas sejam limitadas a poucos minutos e que as palestras sejam reservadas para pessoas mais largamente experientes em se expressarem a grandes aglomerados. O treinamento irá, aos poucos, ampliando-se e cada qual terá ensejo de investigar no coração as repercussões morais que advirão daqueles pequenos momentos de glória. Se a vaidade ameaçar fazer morada no coração, reajam incontinênti e busquem sufocar por todos os meios qualquer afago mais temerário em seu amor-próprio. Lembrem-se de que somos muito pequenos diante da vida e que, para adquirirmos qualquer significação no universo, precisaremos atingir os píncaros da evolução humana, momento esse em que seremos guindados a outras esferas, onde o desenvolvimento da angelitude prosseguirá quase indefinidamente.
Tudo o que procuramos transmitir neste texto foi produto da meditação e do esforço conjunto de várias entidades espirituais que freqüentam as aulas iniciais da “Escolinha de Evangelização”. Esperamos ter feito texto de orientação capaz de despertar os amigos para vários aspectos dos ensinamentos que dizem respeito ao procedimento dos encarnados inteiramente cônscios da espiritualidade superior. Ficaremos imensamente felizes se pudemos ter feito devida advertência, sem que tenhamos onerado a magnitude do sacratíssimo nome de Jesus.
Homero (pela equipe).
Comentário
Esta comunicação foi alvo de comentário dos orientadores do grupo diretamente, sem que houvesse necessidade de retransmiti-lo psicograficamente. Entretanto, dada a importância da meditação que se contém nela, recomendamos aos leitores que, nos grupos de estudo, discutam as verdades ali encontradas, para sentirem até que ponto se julgam isentos de falar “em nome de Jesus”.
Aliás, é preciso mesmo estabelecer como princípio se é realmente retrocesso proceder dessa forma costumeira ou se não seria atrevimento demasiado aceitar o fato de se expressar como se fora o Mestre.
Eis tema fascinante, doutrinário, acadêmico por certo mas extremamente útil para reequilíbrio interior, através do julgamento mais profundo do que é a verdade sob o ponto de vista evangélico. Quem quiser crescer interiormente que se atreva a expor as idéias mais íntimas a respeito de toda manifestação “em nome de Jesus”, de sorte que se devem até relacionar as circunstâncias em que o fato ocorre no dia-a-dia das pessoas.
