Usina de Letras
Usina de Letras
216 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62165 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20027)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4753)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140790)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->A Maravilha Que É o Livro -- 31/08/2003 - 17:55 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A Propósito do Livro
(Por Domingos Oliveira Medeiros)


Quando o homem pisou na lua, pela primeira vez, algumas pessoas apostaram: o homem iria dominar as galáxias; e provar que as religiões não passavam de teorias sem qualquer sentido. Que o sobrenatural e o divino nunca existiram. Que o homem era o próprio Deus. Criador e criatura, cuja evolução da espécie se daria a partir de um processo biológico normal. Ledo engano!

Depois, vieram novos avanços tecnológicos. E o homem continuou com o seu desejo, enraizado em sua obscura mente, de um dia poder provar que ele seria o único ente de inteligência superior deste planeta.

Lembro-me da televisão. Em preto e branco. E, logo em seguida, a cores. E, novamente, o grito do falso rei: o cinema não durará muito tempo. Ledo engano! Quem haveria de deixar de assistir, em sua própria casa, com direito a suco, pipoca e banheiro particular, o filme de sua preferência? Resposta: quase ninguém. E a televisão e o cinema, desde então, caminham juntas. Cada qual com sua “personalidade” e atrativo próprios. Uma não substitui a outra.

Do mesmo modo, pensava-se em relação ao livro quando os microcomputadores tornaram-se populares, invadindo residências, escritórios, bancos, escolas, universidades e mercados de todos os recantos deste planeta. Ledo engano! O livro convive em perfeita harmonia com a internet. Não são, felizmente, mutuamente excludentes.

O livro mantém a sua magia. Muito mais, até, eu diria, do que o próprio mundo virtual dos computadores. A começar pelo formato do livro. Pela facilidade de transportá-lo. Por permitir contato direto com o leitor; que o sente em suas mãos; que o folheia, com rapidez; e pelo seu cheiro característico. Seja ele um livro novo ou velho, todo livro tem odor próprio. “Personalidade” , se me permitem a força de expressão.

Vou mais longe. O livro ainda leva grande vantagem em relação ao milagre da comunicação, a internet. No mundo virtual, por exemplo, o cheiro é igual para qualquer leitura. E a leitura, via telinha, até para textos pequenos, torna-se incômoda. Fastidiosa. Mesmo que se imprima o texto, não se tem solução adequada. Com relação ao tato, além de menor, é quase nenhum. E o que se diz nas entrelinhas do texto, o que se comunica, na verdade, nem sempre é o que se imagina. De fato, nem sabemos, ao certo, com que estamos trocando nossas idéias.

No livro, ao contrário, a coisa muda de figura. Realidade e fantasia se misturam num mundo único e verdadeiro. Mundo, aliás, onde não existe o fator tempo. Presente, passado e futuro pode,acontecer a qualquer momento. E todos sabemos com quem estamos trocando nossas idéias. Independente de sua idade; e, até mesmo, se nosso interlocutor está vivo ou morto. Contextos, autores, leitores e personagens se misturam.

Na semana passada, por exemplo, estive conversando com o poeta Manuel Bandeira. Falamos sobre sua amizade com o rei de Pasárgada. Trocamos idéias sobre a cidade que ele tanto ama. E falamos, também, da preta velha, a Irene, sempre de bom humor, segundo o poeta. A Irene é aquela pessoa que, de tão pura e bondosa, não precisa pedir licença para entrar no céu, quando chegar a hora da sua partida. Coisas do poeta Bandeira.

Outro dia, o Mário Vargas Llosa, conhecido escritor peruano, esteve aqui em casa. Conversamos bastante. Falou-me de sua impressão e admiração pela Madre Teresa de Calcutá. Ele conheceu, de perto, a obra daquela pequena gigante da fraternidade e da caridade. Mostrou-se encantado com o trabalho, apesar de que ele deixou transparecer que, a exemplo do Saramago, escritor português e Nobel de Literatura, não acredita muito na existência de Deus. Coisas de determinados intelectuais.

O Mário falou-me do seu último livro, cujo título é “A Linguagem da Paixão”. Até me deu um exemplar. O livro é bem interessante. Reúne textos publicados em sua coluna “Pedra de Toque”, no jornal El País, de Madri, entre 1992 e 2000. Os assuntos são diversificados. Discutimos sobre os temas ali abordados. Não houve concordância entre o meu pensamento e o do referido autor, em relação à algumas idéias do autor. Cheguei a apresentei-lhe as minhas razões. E ele ficou calado. Provavelmente num gesto de humildade ou de respeito às minhas opiniões.

Aqui em casa tem aparecido gente de todos os tempos e idéias. Ontem mesmo, estive conversando com o Machado de Assis. Falou-me de seu livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas. E o Monteiro Lobato, aquele do sítio do pica-pau amarelo. Fiquei impressionado com o autor. Ele consegue reunir fantasia e realidade, sem que a gente perceba a diferença. Verdadeira aula de responsabilidade, amizade, felicidade, criatividade, respeito aos mais velhos e, sobretudo, um mar de belos sonhos que inunda a imaginação das crianças.

E não pára por aí. O amor que ele sente pelo Brasil é contagiante. A sua luta para a preservação de nossas riquezas, como o petróleo, é muito atual, corajosa e persistente. Além de escrever para um público infantil, o Lobato escreve sobre temas para adultos, com a mesma precisão, talento e originalidade. Ele me lembra o francÊs Antoine Du Sant Exupéry, autor de “Terra dos Homens” e “O Pequeno Príncipe”. Que também já esteve aqui em casa, se não me engano, ano passado. Ele voltou a falar na mensagem de um de seus livros, segundo a qual todos nós, de certa forma, somos responsáveis pelo que cativamos. Fiquei sabendo, também, que o Antoine gosta de pilotar aviões.

Por essas e outras razões é que o livro, de modo geral, é insubstituível. Até porque ele guarda muitas semelhanças com o ser humano.

O livro, do mesmo jeito que nós, é gerado com muito amor. A inspiração para escrever um livro é, na verdade, a fase de concepção. Depois vem a fase embrionária, a partir da qual o livro começa a nascer. A tomar sua forma e a crescer.

Sua maternidade é passada na gráfica, o seu hospital. Que lhe presta os primeiros atendimentos. Editoração, revisão e impressão. E nasce mais um filho nosso. A capa do livro é a sua cara. E a capa, por isso mesmo, deve ser a cara do pai. Do autor de seus dias, junto com sua mãe, a inspiração. Com todos os seus traços genéticos. Jeitos e trejeitos.

Desde a fase de sua concepção, de modo semelhante aos bebês de carne e osso, começamos a pensar e a selecionar um nome para o livro. O livro tem que ter nome bonito; e bem sugestivo. Para dar o toque de sua “personalidade”.

Finalmente, é bom lembrar que nós, os pais, devemos ter muito cuidado com a criação e educação de um livro. Do mesmo que fazemos com nossas crianças. O miolo do livro tem que ter bom conteúdo. Boa formação escolar. De modo a enfrentar as adversidades da vida.

É preciso ensiná-lo a “falar” e a escrever corretamente. Dotá-lo de boa cultura. Para que ele possa expressar-se, com clareza, e sobre todos os assuntos, com sabedoria e preocupação com o próximo.

Só desse modo ele estará em condições de alcançar algum sucesso. Primeiro, nas livrarias, repassando, para o público interessado, suas idéias e opiniões. E receber, com humildade, as críticas e sugestões. A fim de que possa ir aperfeiçoando o seu estilo. Agregando valor e conhecimento, na sadia e necessária troca de informações com outros autores de outros livros.

E saber envelhecer. E ver os netos - no caso as edições e re-edições - continuarem a nossa geração de pensamentos e entretenimentos sempre úteis e positivos.

Nesta hora, já bem idoso, talvez estejamos em alguma prateleira de alguma escola ou universidade, ou no asilo - os sebos -, nas lojas que vendem livros usados. Ou, se a sorte for maior, e a cultura local assim permitir, ainda com saúde e com boas idéias, possamos alongar nossa permanência nas grandes livrarias ou outros locais afins.

O importante é sabermos que, quando chegar a nossa hora, a hora da morte material, ficarão, cá na terra, como exemplos para as gerações futuras, as nossas idéias e os caminhos por nós sugeridos.

Por isso, é sempre muito bom aprender a ler e a escrever. A saber o que ler e o que escrever. Em benefício do mundo em que vivemos. E das gerações que estão por chegar.


Brasília, 30 de agosto de 2003





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui