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Ensaios-->CLIMA DE TERROR II -- 27/08/2003 - 10:13 (medeiros braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Trecho de Capítulo de 'INSURREIÇÃO NO CAMPO'
Do Autor Medeiros Braga


Mas, nem por isso, as milícias deixaram de crescer. Quase todos os latifundiários contratavam pessoas para a guarda das suas propriedades. Vinham de várias partes e eram constituídas por gente de formação as mais diferentes. Porém, no geral, eram pessoas arrogantes, desrespeitosas, precipitadas e violentas, até.

Havia entre elas um tal de Joaquinzão, um capanga perigoso que trabalhara em uma usina de cana-de-açúcar e que não se cansava de contar as suas basófias, principalmente, quando se encontrava em uma mesa de cachaça:

-Meu amigo, eu vou contar a você o que a gente fazia lá numa usina onde eu trabalhei como segurança. Trabalhador lá não tinha colher de chá, não!... era “escreveu não leu, o pau comeu”. Olhe, eu dei lá muita surra em cabra safado, bronqueiro. Tinha nego que se mijava todinho!...

Ele ai dava estéreis, alongadas e estridentes gargalhadas. E retomava a conversa:

-Sabe?... tinha um canavieiro lá, que quando eu levantava o chicote, ele se mijava todo.

Fazia uma pausa para novas lapadas de cana e gargalhadas e recomeçava tudo:

-Teve um empregado que botou o patrão na justiça. Eu disse a ele que não botasse e ele teimou e botou. Eu não gostei nadinha do que ele fez e tive que dar uma lição. E não é que eu exagerei um pouquinho?... Que Deus lhe proteja!

Um amigo seu entrou na conversa:

-Aqui também tem uns cabrinhas que tão precisando de uma boa lição. Lá na Fazenda Mata Grande tem um cara todo sisudo, metido a besta... é um que anda num cavalo alazão. Ele...

Joaquinzão interrompeu:

-Ah, eu sei quem é, Severino!... É um tal de Afonso. E ele é meio cismado pra o meu lado. O negócio é o seguinte: ele tem uma filha de uns quinze anos que é bem bonitinha. Pois, não é que ele descobriu que eu tava dando em cima?...

Um outro capanga interveio:

-É esse mesmo, homem!... e eu não vou muito com a cara dele, não! Qualquer dia eu pego aquele cabra!...

Mas, Joaquinzão com o seu ar de valentão:

-Ah, não!... quem vai pegar sou eu!... e eu vou fazer um bom serviço nele. Vocês vão ver... no mínimo ele vai sair todo mijado!... isso eu garanto!

Na mesa ao lado havia uma outra turma bebendo e um deles era amigo de vários trabalhadores lá da Fazenda Mata Grande. Participou, inclusive, dos trabalhos de arrecadação de gêneros alimentícios quando da ocupação da Fazenda Mata Grande. E ele estava ali, sem que ninguém percebesse, prestando toda atenção no que os capangas conversavam. Posteriormente, na primeira oportunidade, foi avisar a Afonso sobre o que ouvira de Joaquinzão.
Além do descarte dessa surpresa, Joaquinzão imaginava, equivocadamente, que Afonso era um simples trabalhador. Um desses trabalhadores rurais pacatos que sempre viveu só para o roçado e para a família. Não sabia ele que Afonso bem antes de chegar à Fazenda Mata Grande trabalhou, por mais de dez anos, como vaqueiro de uma fazenda de gado, em uma região muito perigosa, exatamente, por conta de roubo. Por isso, os vaqueiros eram treinados na forma de melhor usar uma arma de fogo para enfrentar perigosíssimos ladrões de gado.

Os dias foram se passando, menos a vontade de Joaquinzão em pegar Afonso – muito pelo contrário. E como diz o ditado que “quem espera sempre alcança”, Joaquinzão terminou alcançando o que há muito esperava, É que na estrada que liga a Fazenda Mata Grande à cidade de Rochedo, numa aba de serra, encostado a um pé de angico, estava Afonso com o seu alazão. Aproximava-se dele, exatamente, Joaquinzão, que ao reconhece-lo foi logo dizendo:

-Oh, que coisa boa!... eu tava doido pra falar com você... a gente tem uma continha pra acertar!
E foi logo se desmontando do seu cavalo. Mas, Afonso não se intimidou:

-Eu também, achei muito bom. A gente precisa acertar essa continha... continha, não... conta grande!

E Joaquinzão:

-Olhe, seu cabra safado, eu jurei que ia lhe dar uma surra tão grande que você ia se mijar todo.
Afonso advertiu:

-Pois, tenha cuidado que eu tou armado!...

E Joaquinzão subestimando:

-Pois, antes de morrer você vai apanhar é armado mesmo.

E foi logo, de chicote em punho, descendo-o sobre o ombro esquerdo do seu oponente. Afora o aviso, Afonso não deu a menor chance. Ao contrário de Joaquinzão, ele sabia com quem estava lidando. E eis que, quase à queima-roupa, disparou a sua arma contra o capanga. Este, atingido no coração, foi caindo e morrendo. Só deu tempo de dizer:

-Ai, eu tou morrendo...

Foi um incidente fatal, relâmpago. Afonso, conhecendo que o seu desafeto já estava sem vida, montou no seu cavalo e desapareceu mata adentro.
O incidente fatal que se deu em um trecho da estrada com razoável movimento, chegou rápido ao conhecimento do povo de Rochedo, principalmente, da polícia e do dr. Lacalgoz para quem trabalhava.

O delegado e mais dois policiais se deslocaram até lá. Encontraram Joaquinzão estendido ao solo em desnível, cabeça para a parte baixa, boca escancarada, braços abertos, corpo todo ensangüentado. A polícia ficou atordoada, sem saber a quem atribuir aquele crime de morte, principalmente, praticado contra um homem tão habilidoso no uso de arma de fogo. Ela fazia a sua investigação, mas, jamais poderia imaginar que fosse coisa de trabalhador rural. Por conta disso, ficava perdida na pista, sem saber por onde começar.

Os dias foram se passando e com eles os comentários desse crime que foram dando lugar à divulgação da grande manifestação programada para o dia treze de setembro. Toda a atenção sobre o crime era desviada, porque além da perspectiva de um público numeroso, havia uma incerteza da sua efetivação levantada pelo lado avesso `a realização do evento, é claro. Mas, os meios de comunicação de Rochedo, entre os quais a própria difusora com seus potentes auto-falantes colocados ao alto dos postes, neutralizavam essas falsas informações. Mas, nem por isso, a dúvida deixava de pairar no ar.
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