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Artigos-->O NASCER E O MORRER NA CHAPADA -- 25/11/2011 - 13:32 (Orlando Batista dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Assim que o bebê nasce, vira-se a criança de pernas para cima...

A Vida:

As parteiras tem seu aprendizado só cum Deus, ou seja, pela graça de Deus. Durante o trabalho de parto, a parteira ministra banhos ou chás. Faz-se chá com folhas de feijão andu (guandu), folhas de tapera velha e mentrasto. Um algodão embebido em álcool sobre o umbigo da doente também é bom. Usa-se ainda, chá de leite, com canela, com pinga e "miorau". Simpatias como, "3 coquin de quarqué nação (espécie) de parmera, e 3 conta de lágra de Nossa Senhora com um didal de porva, deixa a muié supé lotada de foça".

Durante o parto, orações são dirigidas à Nossa Senhora do Bom parto, ou do Monte Serrat e reza-se a Salve Rainha fazendo três cruzes na cabeça e na barriga da "doente". Quando a placenta é despachada, completa com mais rezas: “Nossa Senhora do Monte Serrat, teve 50 fiu. A madrugada, um. Até o meio dia compretô todos fiu que havera di tê. Cumu Nossa Sinhora de Monte Serrate teve força, agora essa muié tamém vai tê força. Pru sete veis sete, sete veis repitidu. Quem tem fio, cum treis meis ao vento, vai a porta pra fora. Cum Nossa Sinhora do Monte Serrate. Num teve hemorragia, nem vai tê. Nossa Senhora vai trazê José, Maria. Venha vê a clô (cor?) du dia, agora, nesse momento, em nome de Jesuis, amém”.

Havendo dificuldades para a criança nascer, “tando de trevessa, dá 3 viradas na mãe, para um e outro lado na cama de perna para riba e empurra a criança também para riba, no sentido da boca-do-estambo, até o bebê vortá na posição normal”.

Após o nascimento, mais orações: “Águas branca, águas derramada. Sangue parado, veia taiada; agora, nesse momento, teve fio. Nesse momento eu li falo, minha Santa Margarida, não tô prenha nem parida. Fia de Deus, sô servida. Nome de Jesuis, Nossa Senhora de Monte Serrate. Quem tirô o fio, que tira o parto... agora, nesse momento qui sô partêra, nesse mundo i nu ôto...”

Após o parto, passa-se óleo de mamona nas cadêra (quadris), e na barriga da parturiente e enfaixa-a, para aliviar as dores do esforço. Deve-se tomar chá: um cabo (de colher) de cinzas ou, então, três cabinhos de sal, ou nove caroços de pimenta-do-reino, “pra cabá de ficá boa”.

Assim que o bebê nasce, vira-se a criança de pernas para cima, dá-se três balançadas e bate-se em seu ouvido com a palma da mão, para que volte a respiração. Se essa providência não der certo, deve-se bater três vezes do lado, nas costelas e abanar o nariz da criança com qualquer objeto. Se ainda assim não conseguir, vira-se a criança três vezes para os lados, enquanto reza: “Nossa Senhora do Monte Serrate, que venha o fôlego de José e Maria. Que venha a cror do dia”, e repete-se as operações anteriores.

Criança que nasce envolvida em uma pilica (pele fina), é parto difícil, pois torna-se necessário rasgar esse véu. Diz-se que a criança que nasce impilicada, e sinal de que a criança será muito feliz. Criança que chora no útero da mão, torna-se uma pessoa com poder adivinhatório. Quanto à parteira, é chamada mãezinha por aqueles a quem ajudou a vir ao mundo, porque é “mãe de aparação”, e todos solicitam a sua benção, sendo vista como uma pessoa da família.

A Morte:

Ter uma pessoa agonizando em casa, sempre provoca transtorna na família. Logo, chamar uma “ajudante de morrer”, torna a situação menos penosa. É essa pessoa quem olha o doente e o ajuda a morrer. Dá banho e veste o corpo. Reza e leva o corpo para o cemitério e ainda conforta os vivos: “Deus dá, Deus tira; vortô pro Pai Eterno”.

CONSTATAÇÃO DA MORTE: “Antes de morrer uma pessoa dá três termos: primeiro, a pessoa parece que tá dormindo. Espiando bem, o corpo tá repiado. Ela vorta a si e abre o ôio. Segundo: no abrir o ôio, dá aquela ronquera ou pigarro, e, finalmente, no terceiro termo, às vezes a pessoa pede um santo, um crucifixo, uma vela ou pede pra rezá. Aí faz: ahhh! É o úrtimo suspiro”.

Constatada a morte, a “ajudante de morrê” dá banho e veste o morto. Reza a Reza dos Mortos, ou a dos Agonizantes. A mortalha, com que se veste o morto é uma roupa que se faz inteiriça. Se o morto for adulto, um homem ou uma senhora, a mortalha e o caixão deve ser roxo ou preto. Em se tratando de pessoa solteira, ou seja, moça, o caixão deve ser azul ou branco. Branco também é a cor para a criança.

A mesa onde se dispõe o morto deve ficar no centro da sala, e o morto com os pés para a porta da rua (pronto para sair, porque já não pertence mais a este mundo). Quanto ao velório, chega a ser divertido. Depois das rezas, entram em cena os contadores de histórias e de piadas, e brincadeira da cadeira (similar à dança da cadeira) “em derredó do difunto”. Comidas e bebidas também não faltam. Para o transporte do corpo até o cemitério, se o defunto for leve, vai a pé. Se for pesado, arruma-se um carro para levá-lo. Os familiares do morto não acompanham a comitiva. Ficam em casa, porque se forem ao enterro, pode ser que logo morra outro membro da mesma família. Quando o corpo do morto desce à cova, cada elemento da comitiva joga um punhado de terra sobre o caixão.

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Por: Orlando B. Santos

Resumo e adaptação de “Folclore em Chapada dos Guimarães, MT”

(Martha Johanna Haus. Escola de Folclore, São Paulo, 1983)

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