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Contos-->DESEJO DA CARNE -- 15/11/2002 - 23:42 (DENIS RAFAEL ALBACH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era inverno quando se deu inicio aquele ciúme de amor. Meados de 1940, junho de dias frios e cortantes esparramava no ar a sensação fria da nova estação. Caia fria a neblina sobre as fazendas do falecido senhor Drummond, pai e tio de duas das mais interessantes mulheres da região. A primeira era Natália, zelosa e tímida na relação com os homens, estável em seu amor, dedicada na vida do campo, não se importava com o desbravamento e ousadia da outra, sua prima, Lorene de Drummond.
O lugar, apesar de demonstrar toda uma aparência de uma vida tranqüila e acomodada, vinha há anos entrar em decadência, mas o luxo de omitir tal fato ficava escondido nos segredos da família. Nos baús já não existiam mais riquezas, nem ouros, nem jóias e relíquias deixadas pelos antepassados. Ao redor do antigo casarão que se decompunha, crescia o mato pelas cercas velhas e descuidadas, tirando da vista a bela paisagem que no passado havia ali. A podridão interior da velha casa, habitada pelas duas jovens, era presságio de que a vida ali envelhecia ao decorrer dos anos, com grande estrago.
Lorene de Drummond, uma das jovens, era quem tinha ganhado o sobrenome patriarca de seus pais, Nestor de Drummond, irmão do Senhor Drummond, pai de Natália, o falecido proprietário daquelas vastas terras esquecidas e falidas onde habitavam as duas primas.
Na varanda da antiga casa, a rede de balanço, rota e cheirando ao desgaste conhecia o calor do corpo dos dois jovens apaixonados. Natália se deliciava com os beijos calientes de seu noivo, Augusto Galo, um antigo vendedor de tapetes holandeses que tinha ficado endividado com os maus negócios na região. Era o noivo escolhido da bela jovem ingênua da família dos Drummond.
A corda presa na grande casa antiga de madeira, rangia com o balançar da dança que os namorados faziam na rede. Os estalos, a partir da hora em que o sol ia se pondo, eram os beijos que traziam a expressão da paixão quase incontrolável. As bocas que se uniam, nem condiziam com a realidade da vida do campo, habitual para as boas moças de família. Ela se prendia na sensação de experimentar os beijos de Galo. Mas, ali adiante, por entre as folhas das bananeiras, o olhar invejoso de Lorene de Drummond, escondia-se imaginando ser dela aquela boca, a boca dele, que a circunstancia a impedia de ter.
Na floresta da fazenda, logo que chegou a noite, e Augusto Galo tinha-se ido, Lorene o seguiu por entre a mata fechada, perdendo-se no desespero de alcançá -lo e poder trocar-lhe algumas palavras escondidas da prima. A tentativa, porém, fora vã pois os passos largos e apressados do outro, deixaram-na para trás, iludida com o intuito de te tê-lo para si.
Outro dia confessou para a prima:
- Amo-o também, mas ele é teu – soltou seu receio – a dor que meu peito sente por não poder beijá-lo e talvez nunca tê-lo, minha prima, fere a minha alma.
Prendida na sua ingenuidade achou tal comentário uma tolice. Não deu ouvidos para as palavras da outra. Continuou normalmente a namorar seu noivo na frente de Natália, sem se comover com o olhar desviado que Lorene repetia para Galo.
Mais tarde, passando-se os dias daquele inverno, Lorene, a prima enciumada, revelava para a outra a sua dor:
- Estou ficando doente. Acho que em breve irei morrer pela falta de não tê-lo.Deixa-me, ao menos uma vez poder beijá-lo?
Natália a olhou com espanto.Devia ser uma loucura ou obsessão que se apossou da alma da prima. Talvez uma inveja profunda ou um ciúme descontrolado, pensava ela, se integrara ao espírito da prima.Na raiva feriu-lhe:
- Deves doer é sua alma. Sua doença é atributo do inferno.Foste possuída pela força do mal. Nunca o terá em sua vida. Teus lábios não tocarão os lábios dele. Nem mesmo ele saberá que tu o amas.
Lorene passou alguns dias sem poder se mexer da cama. Chamava pelo nome do amado que não ouvia sua fala. Clamava com vozes que ele a fosse vê-la, não tinha, porém, nenhuma reciprocidade. Outro dia depois perdeu a fala. Sua febre, aquela paixão desconhecida que fazia cobiçar o namorado de sua prima, feria já seu corpo, seu psicológico, os seus sentidos. Certa vez se levantou, esforçando-se com desempenho a escutar a voz de seu amado, do outro lado da janela. Natália acariciava-o. Beijava seu rosto como se fosse sempre a primeira vez. Lorene via os lábios da outra tocar os lábios de quem ela tanto amava. Desejava aquela boca, depois seu corpo, sua alma, seu espírito...
A noiva enciumada e com forte receio de perdê-lo, narrou-lhe os fatos ao galanteador e bom de lábia, seu noivo, Augusto Galo. Confessou os segredos de amor escondidos da prima por ele. Disse-lhe de seus desejos, de suas falas noturnas chamando por seu nome. O jovem, viu ali, a melhor oportunidade de pedir a mão de Natália em casamento.Não era mais ilícito que se casassem. Enquanto Lorene ainda gemia seu amor platônico pelo homem da outra, para que Lorene se espantasse e sofresse um pouco mais, como castigo de desejar o noivo da outra, Natália informou-lhe sua ultima idéia. No domingo segundo da nova estação, anunciou a data de seu casamento:
- Ele me pertencerá e eu o pertencerei, dessa vez registrado.
- Por acaso alguma vez já se pertenceram?
- Todas as noites nos pertencemos. Ele toma conta de meu corpo, despe-me, beija-me nua e me possui.Toca em meu corpo, desvenda os mistérios de minha imoralidade, e me deixa quente que até é preciso que façamos amor com as portas semi abertas para o vento nos refrescar.
- Teve dormido com ele antes mesmo do casamento. Infligistes as regras de nossa família. Sujastes o nome dos Drummond, coabitando com este homem, fazendo-se de sua mulher antes que selassem o pacto de amor perante o padre? Mentes para me enganar e fazer que eu acredite nesse seu devaneio.
Natália não lhe respondeu outra vez. Sabia que o instinto de Lorene de Drummond o levaria até o lugar em que o casal fazia amor. Aguçada sua curiosidade, naquela noite, ela mesma pôs-se a sondar por entre as frestas da porta a cena dos dois. As mãos fortes e pesadas daquele homem alisavam-se sobre o corpo nu da outra. A prima a sondava. Cada parte lisa e macia da sensualidade de Natália era tocada pelos lábios molhados do noivo. Lorene sentia desejos. Algo estranho em sua alma.Tudo aquilo que seus olhos viam, sua mente bem guardava. As curvas do casal repletas de ardor e paixão. Lorene, junto com sua febre, bem guardou aqueles momentos que se tornariam inesquecíveis.
Na manhã seguinte, distraída de ter presenciado qualquer cena de sexo selvagem, dirigiu-se para a prima que descansava sozinha na rede. E destemida lhe disse:
- Ele a engana!
Tanto quanto os dias do casamento dos dois se aproximavam, mais a ânsia e o desejo de roubá-lo martelavam em seu coração. Chegou a repetir o nome do outro incontáveis vezes em seu delírio. Mas entre a falta de sorte de não poder tê-lo e vê-lo nos braços da prima, preferiu que ele não mais existisse. Desejou sua morte.
“Se não pertence a mim o ser que amo, por que pode pertencer a outro alguém?”.
A doença agravou-se imediatamente. E nas madrugadas sucessivas de febre e tremor, seu pensamento desejava a morte do amado.O devaneio rondava sobre seus pensamentos.Numa daquelas noites chamou a prima e disse:
- Tenha por certo que ele não mais exista. A força de meu nome poderá fazer com que isso aconteça. O homem que seu corpo pertenceu, pertencerá tão logo a terra. Disseste-me que minha doença é atributo do inferno e que o mal me possuiu. Em partes não posso lhe negar estas verdades. O mal está em mim, nesta doença, e a ele, nos dias do meu delírio foi que pedi o que pedi e me concederá.
Sete dias depois daquela noite, houve a missa de sétimo dia do homem que as duas amavam.Lorene, irritada ao pé do ouvido de Natália, confessava sua raiva:
- Nunca me permitiu tê-lo! Aquele dia em seu caixão não me deixaste tocá-lo ao menos uma vez. Meus lábios não experimentaram dos seus beijos. Tirou de mim o homem que amava e restaram-me somente lembranças.
Já era o tempo de um ano que aquilo acontecera. Poucas diferenças se sucederam na fazenda. As primas enlutadas, solteiras, vivam das lembranças do homem que as duas desejavam. Lorene chegou-se à presença da prima que não havia se recuperado do trauma funesto.
- Já faz um ano que o perdemos. Mas ainda me restam as lembranças. Todas as noites, em meu quarto, antes de dormir em minha cama, lembro-me da noite de amor que vocês tiveram e dos beijos que se deram. Recordo as partes de seu corpo, as mãos dele sobre sua nudez, suas bocas... Não me conformo em não poder ter tido e perdê-lo sem nenhuma chance. Mas sei que alguma coisa ficou.
- De que falas minha prima?
- Um pedaço dele ainda resta em ti. Estes teus lábios guardam a mesma essência daquela paixão. Ele ficou em teu corpo e só há uma força de trazê-lo para mim. Deixa-me beijá-la minha prima e conhecer a intimidade do teu corpo.Deixa-me tocar onde ele tocou e entrar onde ele entrou; Se eu te beijar, saberei que de certa forma estarei beijando os lábios dele. Deixa-me possui-la como ele te possuiu.
Lorene beijou os seus lábios.Deslizou suas mãos sobre a maciez singular da prima, invadindo-se levemente nas partes íntimas de seu corpo. Entre um beijo e outro, sussurrava fracamente em seu ouvido.
- Descobri que a desejo, minha prima, como tive desejado o falecido. Minha mente pesa quando penso em ti, e nas horas aonde me perco no quarto dos fundos, pela fresta da porta, percebendo o sabão escorrer sobre seu corpo quando tomas teu banho, nua. Foi a mesma força de minha paixão idolatrada e não correspondida pelo homem que foi teu que agora a desejo. Ele circulou sobre sua pele indefesa e parte dele está em seu sangue, nas tuas veias, no teu cheiro. Descobri que a amo minha prima, amo-te tanto... Tu, tu também me amas?
- Por que me perguntas?
- Quero saber se me amas como te amo. Amo-te no mesmo delírio que amei ao falecido. Mas antes de me responder, pergunto-te se te lembras da força que tem o meu delírio. Então, responde-me minha prima, tu me amas?





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