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Artigos-->Evidências da Colaboração de Trotsky com Alemanha e Japão -- 17/11/2011 - 21:00 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Evidências da Colaboração de Leon Trotsky com a Alemanha e o Japão (I)

Grover Furr (professor de História/Montclair State University/New Jersey).



http://clogic.eserver.org/2009/Furr.pdf



Trad: Lúcio Jr



“Se uma pesquisa objetiva dos eventos de todos esses anos fosse feita, livre de dogmas ideológicos, então mudaríamos nossas atitudes a respeito desses anos e das personalidades dessa época. E isso seria uma “bomba” que ia causar certos problemas



--Coronel Viktor Alksnis, 2000



“…é essencial para os historiadores que defendam o fundamento de sua disciplina: a supremacia da evidência. Se seus textos são ficções, e em certo sentido eles são, sendo composições literárias, o material de base dessas ficções é o fato verificável. Porque isso foi tão bem estabelecido, aqueles que negam sua existência não estão escrevendo história, senão aplicando técnicas literárias”.



--Eric Hobsbawn, 1994, p. 57



“…nós podemos demolir um mito somente se ele estiver posto em proposições que se possa mostrar que se assentam em equívocos.”



--Ibid. p. 60.



Esse ensaio é um questionamento a respeito das evidências de que Trotsky colaborou com oficiais japoneses ou alemães, em termos militares e governamentais, durante os anos 30. Trotsky e seu filho Leon Sedov foram julgados in absentia (à revelia) por essa colaboração nos três julgamentos “encenados” ou públicos, julgamentos que aconteceram em 1936, 1937 e 1938 . Trotsky e seu filho Leon Sedov foram réus julgados sem estarem presentes, mas ainda assim, figuras centrais nesses julgamentos. Trotsky mesmo proclamou esses julgamentos falsos, mas não acreditavam nele em todo lugar, como hoje em dia, até 1956. Em fevereiro desse ano, Nikita Kruschev leu o seu famoso “Relatório Secreto” no vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Por motivos que fogem ao assunto abordado aqui, Kruschev insinuou, mas sem afirmar diretamente, que alguns dos culpados desses julgamentos foram punidos injustamente.

Nos anos que se sucederam, ou seja, sob os sucessores de Kruschev, entre 1965 e 1985, a onda de “reabilitações” quase cessou. Posteriormente, durante o período Gorbachev, entre 1985 até o fim da União Soviética em 1991, uma ainda maior onda de “reabilitações” teve lugar. Posteriormente, no presente ensaio, nós vamos discutir qual seria a essência política, mais do que jurídica, dessas reabilitações.

No final dos anos 80 quase todos os réus de todos os Processos de Moscou, mais os réus no “caso Tukachevsky” de maio-junho de 1937, e além disso muitos outros, foram declarados inocentes de todas as culpas. As exceções foram pessoas como Genrikh Yagoda e Nikolai Ezhov, os dois cabeças do NKVD que com certeza foram responsáveis por repressões em massa, além de muitos de seus subordinados. As principais exceções dentre os reabilitados foram Genrikh Yagoda e Nikolai Ezhov. Além desses dois, os únicos oposicionistas que não eram da NKVD a não serem “reabilitados” foram Trotsky e Sedov.

As declarações de que todas as conspirações foram fabricações significam que todos foram declarados inocentes ainda que não “reabilitados” legalmente. Há um consenso entre os estudiosos de que os Processos de Moscou foram fabricações, que os réus eram vítimas inocentes de torturas, e todas as conspirações, invenções da NKVD ou mesmo de Stálin. Esse consenso é uma parte constituinte do modelo, ou paradigma, da História Soviética que é dominante mesmo na Rússia e nas suas fronteiras. Porém, não há material publicado que indique que os processos foram fabricados e as confissões falsas foram fabricadas, assim como as confissões na forma falsificada nunca foram publicadas, enquanto que a maioria dos materiais investigativos que se referem aos Processos continuam sendo secretos na Rússia, inacessíveis até mesmo para os pesquisadores confiáveis.





Os Arquivos Soviéticos “Falam”





Durante a existência da União Soviética e especialmente desde que Kruschev teve acesso ao poder em 1953, poucos dos muitos documentos a respeito dos Processos de Moscou e as repressões do final dos anos 30 foram publicados na União Soviética ou tornados acessíveis nos arquivos de pesquisa. Kruschev, seus historiadores autorizados e muitos escritores fizeram muitas afirmações sobre esse período da história e nunca deu a ninguém acesso a nenhuma evidência a respeito.

Aqui está um exemplo. Numa conferência de historiadores em dezembro de 1962, depois de muitas apresentações defendendo a posição oficial de Kruschev sobre as questões da História Soviética, o membro do comitê central (então chamado presidium) Piotr Pospelov, disse as seguintes palavras:



“Estudantes estão perguntando se Bukharin e os demais eram espiões de governos estrangeiros e o que você nos sugere que leiamos”. “Eu declaro que é suficiente que leiam as resoluções do 22º Congresso da União Soviética para dizer que nem Bukhárin, nem Rykov, é claro, eram espiões e terroristas” (Vsesoiuznoe soveshchanie 298).



As palavras de Pospelov são corretas no sentido literal, mas criam uma falsa impressão. No processo de 1938 de Bukharin e Rykov, eles não foram condenados de espionarem eles mesmos, mas de serem líderes do “Bloco de Direitistas e Trotsquistas” que se envolveu em atividades terroristas. Igualmente o que aconteceu foi que Bukharin e Rykov foram julgados por recrutarem pessoas para se engajarem em atos de violência contra outras pessoas – e isso (engajar-se em atos de violência contra outros indivíduos) seria a melhor tradução da palavra russa terror, que significa algo bem diferente em inglês –mas não estavam, eles mesmos, envolvidos. Então, as palavras de Pospelov são corretas no sentido em que muitos leitores vão entender –um espião é quem ele mesmo espiona, um terrorista é quem ele mesmo comete atos de violência. Mas Pospelov está incorreto desde que ele deseja que sua platéia entenda que os processados e o veredicto contra eles contra eles estariam errados.

Além do mais, a questão era a respeito de “Bukharin e o resto” – ou seja, presumivelmente, todos os outros réus no julgamento de 1938, ainda que Pospelov tenha restringido sua resposta a Bukharin e Rykov somente (deixando a entender que Trotsky e Sedov, por exemplo, seriam culpados). Nessa altura do debate, que imediatamente segue sua fala, Pospelov claramente reitera à sua audiência que os únicos materiais que os historiadores devem ler são os discursos oficiais feito no vigésimo segundo congresso:



“Por que não é possível criar condições normais para o trabalho no arquivo central do partido? Eles não dão acesso a materiais que concernem à atividade do partido comunista da União Soviética”. “Eu já te dei a resposta”.



Com efeito, Pospelov está dizendo: “nós não estamos dando a você acesso a qualquer fonte primária”. Essa situação continuou até que a URSS fosse dissolvida. Graças a documentos publicados no fim da URSS, agora pode-se ver que os discursos no 22º Congresso do Partido continham mentiras descaradas sobre os oposicionistas dos anos 30 – um fato que totalmente explica a recusa de Pospelov em deixar alguém ver as evidências.

Para dar um exemplo do grau de falsificação no 22º. Congresso e sob Kruschev, geralmente comentamos a citação de Aleksandr Shelepin de uma carta de Stálin do comandante de primeira categoria (general, acima de Marechal) Iona E. Iakir, acusado de colaboração com a Alemanha nazista. Na citação de Shelepin da carta de Iakir para Stálin em 9 de junho de 1937, o texto lido por Shelepin está destacado. O texto original publicado em 1994 segue abaixo. A parte lida Shelepin está em itálico e em negrito, o restante da carta, no entanto, foi todo omitido:



Uma série de cínicas resoluções de Stálin, Kaganovich, Molotov, Malenkov, Voroshilov e as cartas e declarações feitas pelos aprisionados testificam o tratamento cruel das pessoas, de pessoas importantes, que se acharam sob investigação. Um exemplo foi quando por sua vez Iakir – o comandante da região militar, apelou para Stálin numa carta onde ele reivindica sua completa inocência. Aqui o que ele escreveu:Meu caro, querido camarada Stálin. Eu quero te enviar esta dessa maneira porque eu disse tudo, entreguei tudo, e me parece que sou um bom guerreiro, devotado ao partido, ao estado e ao povo, e fui por muitos anos. Toda minha conscienciosa vida foi passada em altruísta, honesto trabalho no sentido do partido e seus líderes – então caí no pesadelo, no irreparável horror da traição [...] a investigação foi completada. Eu fui formalmente acusado de traição ao estado, eu admiti minha culpa, eu me arrependo totalmente. Eu tenho fé ilimitada na justiça e na propriedade da decisão da corte e do estado [...]. Agora eu sou honesto em cada palavra, eu vou morrer com palavras de amor para você, o partido e meu país, com uma fé ilimitada na vitória do comunismo.



Aqui Shelepin lê a carta de um homem leal e honesto protestando sua inocência. Na realidade, Iakir totalmente admitiu sua culpa. (Há o problema das duas elipses acima. Algo do texto de Iakir foi omitido mesmo nessa versão publicada. Desde que Iakir confessou sua traição ao estado é possível que ele se refere à colaboração com a Alemanha, junto de Trotsky, ou talvez de outros serviços de inteligência. Isso é sugerido numa interessante citação do caso de Uritsky que foi discutida, de passagem, mais adiante nesse ensaio. Iakir era um dos militares envolvidos tanto com a colaboração com a Alemanha quanto com Trotsky.)

A falsificação vai mais longe que os discursos do 22º Congresso. As evidências de arquivo agora permitem-nos ver que Kruschev, e depois Gorbachev, e os historiadores que escreveram sob essa direção, também mentiram constantemente sobre os eventos nos anos de Stálin numa extensão que é dificilmente imaginável.

Um número considerável de documentos dos arquivos soviéticos que formalmente eram secretos foram publicados desde o fim da União Soviética. Isso é uma pequena proporção daquilo que nós acreditamos que existe. Especialmente em relação à documentação histórica dos anos 30, os Processos de Moscou, os “expurgos” militares e as repressões massivas de 1937-38, a vasta maioria dos documentos ainda são ultrassecretos, escondidos e inacessíveis até mesmo a privilegiados historiadores oficiais. Mas todo sistema de censura tem falhas. Muitos documentos foram publicados. Mesmo esse pequeno número nos permite ver os contornos da história soviética nos anos 30 de uma forma bem diferente da versão “oficial”. Durante a última década (o artigo é de 2009, n. do t.) muita evidência documental emergiu dos arquivos formais soviéticos para contradizer o ponto de vista canônico que vigora desde o tempo de Kruschev. Pode-se então dizer que os réus nos Processos de Moscou e a conspiração militar que ocorreu no “Caso Tukachevsky” possivelmente não foram vítimas inocentes forçadas a fazer confissões falsas. Nós publicamos e escrevemos um grande número de trabalhos ou, ao pesquisar para publicar, podemos dizer que agora temos forte evidência de que as confissões não eram falsas e que réus dos Processos de Moscou pareciam ter sido verdadeiros em confessar as conspirações contra o governo soviético. Esse fato nos leva a realizar o presente estudo.



Hipótese



Leon Trotsky e seu filho Leon Sedov foram condenados in absentia em cada um dos três Julgamentos de Moscou. Se as acusações contra e as confissões de outros réus foram basicamente acertadas, como nossa pesquisa buscou embasar, isso tem implicações para as vozes que supõem que Trotsky estava aliado com a Alemanha fascista e o Japão militarista. Essas considerações nos levam a formar a seguinte hipótese para o presente estudo: que se fossem publicados mais documentos dos arquivos soviéticos iriam surgir mais evidências da colaboração de Trotsky com a Alemanha e o Japão do que qualquer outra evidência encontrada nos três Processos de Moscou.

Nós vamos adotar essa hipótese do mesmo jeito que Stephen Jay Gould descreveu como a forma como seu colega Peter Ward decidiu testar a “hipótese Alvarez”, a chamada cretáceo-terciária catastrófica extinção que contradisse a amplamente aceita teoria da morte gradual de tantas formas de vida por volta de 60 milhões de anos atrás . No curso das leituras de muitos documentos dos arquivos soviéticos, identificamos muitos que parecem dar evidências da colaboração de Trotsky com a Alemanha. Parece-nos que existe muito mais evidência documentada poderá ser encontrada se atualmente procurarmos por elas. Na realidade, se ninguém procurar por essas evidências, elas provavelmente nunca serão encontradas e nunca serão conhecidas. O fato é que formamos uma hipótese e isso não significa que nós predeterminamos o resultado de nossa pesquisa. É preciso partir de uma hipótese ou “teoria” que é necessariamente pré-condição para qualquer questionamento. Gould nos lembra da sensível observação que Darwin fez em 1861:



“Como é estranho que ninguém vê uma observação se ela não é útil, mesmo sendo a favor ou contra uma determinada visão”.



O presente estudo é um “teste” no sentido que Gould deu a essa palavra: “um fino exemplo da teoria” –Gould fala em teoria, mas quer dizer hipótese aqui, confirmada por dados que ninguém poderia coletar antes que a teoria demandasse tal teste.



Note-se a diferença entre fazer um teste e dar o resultado pronto anteriormente. O teste pode falhar, comprometendo a teoria. Boas teorias podem passar por um teste, mas isso não determina o resultado.



É um princípio possível para provar o contrário. Se Trotsky não colaborou com os alemães ou japoneses não existirá evidência de que ele fez isso. Diferente da situação com a história natural, de outra forma, com a história humana surge a possibilidade de fabricadas ou falsas evidências. No presente artigo devotamos um pouco de atenção a esse problema.

Nós procuramos onde se pode encontrar mais evidência de que Trotsky colaborou com os alemães e japoneses. A certa altura de nossa pesquisa, a quantidade cresceu até o ponto em que era garantido e certo de que era possível estudá-las e vê-las juntas. O presente artigo é o resultado.

Existe uma boa quantidade de evidências envolvendo atividades clandestinas ligadas ao envolvimento do grupo de Trotsky e suas atividades opositoras dentro da URSS durante os anos 30, longe da colaboração com a Alemanha e o Japão. De acordo com o testemunho dos réus nos Processos de Moscou, nós temos também arquivos sob a forma de testemunhos interrogativos para confirmar essa atividade. Rever isso está muito além do escopo desse artigo. O presente trabalho se concentra somente nas evidências da colaboração de Trotsky com agentes governamentais e oficiais militares. Nós deixaremos os outros níveis de colaboração sem examinar interrogatórios de investigação para confirmar tal atividade. Rever tudo isso está muito além do âmbito deste ou de qualquer artigo. O presente trabalho se concentra exclusivamente em evidências da colaboração de Trotsky com funcionários governamentais e militares japoneses e alemães. Nós deixamos algumas acusações levantadas contra Trotsky sem serem examinadas. As acusações de colaboração com os alemães e japoneses foram as mais chocantes. Elas sempre foram consideradas com muito mais ceticismo.

Na maior parte do texto, vamos só citar e analisar evidências diretas sobre Trotsky e os alemães ou japoneses. Esta é uma abordagem muito específica que exclui uma grande quantidade de outras, reunindo evidências que tendem a adicionar credibilidade à evidência direta de culpa de Trotsky em colaborar com os fascistas. Por exemplo, Nikolai Bukharin teria ouvido detalhes de Karl Radek sobre as negociações de Trotsky (seus acordos com a Alemanha e o Japão). Bukharin nunca diretamente comunicou-se com Trotsky ou Sedov a respeito disso. No entanto, não há razão alguma para duvidar de que Radek contou a ele sobre a colaboração de Trotsky.

Pode-se dizer que esse ponto reforça o testemunho de Radek. Bukharin concorda que Radek disse a ele sobre a colaboração de Trotsky com os alemães. Bukharin também tende a validar indiretamente o que Radek disse sobre Trotsky, assim como Radek alegou ter obtido informações sobre isso em primeira mão, ou seja, do próprio Trotsky. Isto é, o que Bukharin testemunhou confirma que Radek estava dizendo a verdade, e isso aumenta a credibilidade do próprio testemunho de Radek sobre outros assuntos, inclusive de seus contatos com Trotsky e o que ele lhe comunicou. Mas aqui nós não vamos examinar nem Radek, nem o testemunho de Bukharin. Encaminhamos o leitor interessado ao nosso estudo anterior a respeito de Bukharin (FURR e DOBROV 2007). Em alguns lugares iremos citar algumas evidências que, reforçando essa hipótese, servem principalmente para preparar o contexto para citar as evidências diretas.



Objetividade e persuasão



O preconceito político ainda predomina no estudo da história soviética. Conclusões que contradizem o paradigma dominante são rotineiramente descartadas como resultado de preconceito ou incompetência. Conclusões que lançam dúvidas sobre as acusações contra Stalin, ou cujas implicações tendem a fazê-lo parecer ou "bom" ou até menos "mal" do que o paradigma predominante pretende ter sido, são chamadas de "stalinistas". Qualquer estudo objetivo da evidência disponível agora é obrigatoriamente chamado de "stalinista", simplesmente porque ele atinge conclusões que são politicamente inaceitáveis para aqueles que têm um forte viés político, seja anticomunista que em geral ou especificamente trotskista.

O objetivo do presente estudo é examinar as alegações feitas na URSS durante a década de 1930 que Leon Trotsky tenha colaborado com a Alemanha e o Japão contra a URSS à luz das evidências disponíveis agora. Este estudo não é um "breve julgamento" contra Trotsky. Não é uma tentativa de provar que Trotsky é "culpado" de conspirar com os alemães e japoneses. Nem é uma tentativa de "defender" Trotsky contra tais acusações.

Fizemos um grande esforço para fazer o que um investigador faz no caso de um crime em que ele não tomou partido, mas apenas deseja resolver o crime. Isto é o que os historiadores que investigar o passado mais distante, ou a história de outros países do que a União Soviética, fazem o tempo todo.

Nós queremos convencer o leitor imparcial, objetivo para o qual realizamos uma investigação competente e honesta. Temos feito o que segue abaixo, a saber, depois de coletadas todas as provas que se possam dar apoio ao argumento de que Trotsky colaborou com os alemães e japoneses:



• coletadas todas as provas "negativas" - qualquer "álibi" de Trotsky ou seu filho, chefe político e assessor Leon Sedov possam ter tido. Temos feito isso, principalmente mediante prestar uma séria atenção ao testemunho de Trotsky nas audiências da Comissão Dewey em 1937, onde ele expôs sua defesa;



• estudamos todas as provas com atenção e honestidade.



• elaboramos nossas conclusões com base em que evidências.



Queremos convencer um leitor de olhar objetivo que temos alcançado nossas conclusões com base em provas e sua análise e não em qualquer outra base, como os preconceitos políticos. Nós NÃO somos a favor de elogiar ou "condenar" Trotsky. Continuamos dispostos a ser convencidos de que Trotsky NÃO colaborou com a Alemanha e o Japão se, no futuro, aparecerem provas indicando que essas acusações são falsas.



O papel do ceticismo apropriado



Ao longo deste ensaio, tentamos antecipar as objeções de um cético crítico. Isso não é mais do que qualquer pesquisador que toma cuidado e que é objetivo deve fazer, e exatamente o que tanto a acusação e a defesa devem levar em conta. Qualquer investigação criminal deve confrontar evidência e interpretação.

Temos uma longa discussão de provas no início do ensaio. No corpo do ensaio seguimos cada apresentação de provas com um exame crítico. Na seção final, subtítulo "Conclusão", o leitor encontrará uma análise e refutação das objeções, ou seja, uma crítica afiada que se pode fazer de um ponto de vista justo.

Estamos conscientes de que existe um subconjunto de leitores para quem a prova é irrelevante, para quem - para dizer educadamente - isso não é uma questão de prova, mas de crença ou lealdade.

Discutimos os argumentos normalmente levantados a partir desta terceira parte na subseção intitulada "Objetividade e negação." Em qualquer investigação histórica, como em qualquer investigação criminal, "crença" e "fidelidade" são irrelevantes para a verdade ou falsidade da hipótese. Por definição, uma crença que não é racionalmente fundada em evidências não pode ser dissipada por um argumento sólido e por evidências.

No entanto, aqueles que não podem pôr-se a questionar as suas idéias preconcebidas podem, contudo, ser levados por aqueles mesmos preconceitos a olhar criticamente especialmente as provas para encontrar pontos fracos em nossa interpretação que pode escapar a outros leitores para quem há menos em jogo. Isso às vezes faz as objeções de tais setores digna de atenção. Fizemos um grande esforço tanto para antecipar e lidar com tais objeções em uma forma satisfatória.



Evidência



Antes de continuar a citar e estudar os novos documentos de arquivo, precisamos discutir a questão da prova em si. Considerando que "documentos" são objetos materiais – em nosso caso, a escrita no papel - "evidência" é um conceito relacional. Estamos preocupados em investigar uma acusação: a de que Trotsky conspirou com as autoridades alemãs ou japonesas.

Nosso objetivo é reunir e estudar as evidências que sugerem que Trotsky agiu como alegado acima. Não há alguma coisa como uma prova absoluta. Todas as provas podem ser falsificadas. Qualquer declaração - uma confissão de culpa, uma negação da culpa, uma reivindicação de que foi torturado, uma reivindicação de que foi coagido de alguma forma - pode ser verdadeira ou falsa, uma tentativa de apresentar a verdade como o orador (ou escritor) se lembra, ou uma mentira deliberada. Documentos podem ser forjados e, no caso da história soviética, muitas vezes têm sido. Documentos falsos que na ocasião foram inseridos em arquivos, a fim de ser "descobertos". Ou, pode-se alegar que um dado documento foi encontrado em um arquivo quando não foi. Fotografias podem ser falsificadas.

Testemunhas podem mentir, e em qualquer caso, testemunhas oculares são tão frequentemente equivocadas que, dentre outras, tal tipo de evidência é o tipo menos confiável. Em princípio não há uma coisa como uma "arma fumegante" - prova de que é tão claramente genuína e poderosa que não pode ser negada.

Os problemas de identificação, coleta, estudar e tirar conclusões corretas a partir de evidências são semelhantes em investigação criminal e na pesquisa histórica. Isto é especialmente verdadeiro quando, como no nosso caso, a pesquisa deve determinar se uma espécie de crime teve lugar no passado. Mas há diferenças importantes, e é vital ser claro sobre elas.

Em um julgamento criminal o acusado tem certos direitos. O julgamento tem que ter uma determinada duração, após a qual o acusado é ou condenado ou absolvido para sempre; [na investigação histórica, não]. O réu deveria desfrutar da presunção de inocência e o benefício de qualquer dúvida razoável. O réu tem direito a um defensor qualificado, cujo único trabalho é interpretar todas as evidências à sua maneira, de modo a beneficiar o seu cliente. Enquanto isso, o juiz e até mesmo o Ministério Público deveria se preocupar não apenas sobre como proteger uma convicção, mas também sobre a justiça.

Uma vez que estivermos razoavelmente convencidos de que o réu é inocente é o seu dever de demitir as cargas e descarga do acusado, embora eles possam ser capazes de influenciar o júri a condenado. Essas práticas destinam-se a impedir que um réu seja condenado inocente de uma injusta sentença e pena.

Os historiadores estão em uma situação bastante diferente. Mortos não têm direitos (ou qualquer outra coisa) que precisam ser defendidos. Portanto, o historiador não tem que se preocupar com qualquer presunção de inocência, "dúvida razoável", e assim por diante. Ao contrário de um veredicto legal, nenhuma conclusão é final. A investigação histórica nunca precisa acabar. Ele pode, e vai, ser retomado novamente quando novas evidências são descobertas ou novas interpretações de velhas evidências são atingidas. Este é de fato o que estamos fazendo no presente artigo. Estamos investigando a questão de saber se Trotsky colaborou com funcionários alemães e japoneses à luz de novas evidências, enquanto ao mesmo tempo deve-se reconsiderar evidências que há muito tempo estão disponíveis.

Identificar, localizar, recolher, e até mesmo estudar e interpretar evidências são habilidades que podem ser ensinadas para todo mundo. A habilidade mais difícil e mais rara na pesquisa histórica é a disciplina de objetividade. A fim de chegar a conclusões verdadeiras - as declarações que são mais verdadeiras do que outras declarações possíveis sobre uma determinada questão - um pesquisador deve primeiro questionar e duvidar de qualquer ideia preconcebida que ele possa ter sobre o assunto sob investigação. São as próprias idéias preconcebidas e preconceitos que mais provavelmente vão influenciar em uma interpretação subjetiva da evidência. Portanto, o pesquisador deve tomar medidas especiais para assegurar isso não aconteça.

Isto pode ser feito. As técnicas são conhecidas e amplamente praticada na Física e nas Ciências Sociais. Elas podem ser adaptadas para a pesquisa histórica também. Se tais técnicas não foram praticadas pelo historiador, ele inevitavelmente será influenciado pela suas próprias concepções, preconceitos e preferências preexistentes, no momento da compreensão da prova. Isso vai garantir que suas conclusões sejam falseadas, mesmo que ele esteja na posse das melhores provas e de todas as habilidades necessárias para analisá-las.

Em nenhum outro lugar a devoção à objetividade é mais essencial e menos mostrada do que no campo da história soviética do período de Stalin. Como é impossível descobrir a verdade na ausência de uma dedicação à objetividade, este artigo se esforça para ser objetivo. Suas conclusões podem desagradar, mesmo ultrajar, muitas pessoas boas que não são dedicadas à objetividade e a verdade, mas em proteger a lenda de Trotsky como um revolucionário honrado ou a defender a Guerra Fria - paradigma anticomunista da história soviética.

É claro que não tenho a pretensão de ter encontrado todas as evidências relevantes que existem. É esmagadoramente provável que haja muito mais evidências, já que a vasta maioria dos documentos e fontes primárias que tratam das oposições da década de 1930 ainda estão classificadas como confidenciais na Rússia e os Estados pós-soviéticos de hoje e são inacessíveis a quaisquer pesquisadores. Mas o que temos agora é suficiente. Em nosso julgamento é mais do que suficiente evidência de que Trotsky, de fato, colaborou com a Alemanha e o Japão, mais ou menos como o governo soviético acusou na década de 1930. Porque Trotsky pode ter feito isso é uma questão digna de consideração. Nós adicionamos alguns pensamentos sobre isso ao fim deste ensaio.



Telegrama de Trotsky para a liderança soviética



O primeiro documento que queremos apresentar é aquela que ilustra tanto a proposta quanto os problemas de interpretar as evidências nos documentos.

Junho de 1937 foi uma época de grande crise para a liderança soviética. Em abril, Genrikh Yagoda, o comissário (cabeça) do NKVD até o mês de setembro de 36 e Enukidze Avel, ambos até bem pouco tempo membros do Comitê Central e altos membros do governo soviético, começaram a confessar seus importantes papéis em um plano de dar um golpe de estado contra o governo. O mês de maio começou com uma revolta interna contra o governo. O mês de maio já tinha começado com uma revolta revolta interna contra o governo republicano espanhol em que anarquistas e trotskistas participaram. A liderança soviética sabia que essa revolta tinha envolvido algum tipo de colaboração entre as forças a favor de Trotsky da Espanha, a inteligência nazista alemãs e os franquistas.

No início de junho, oito oficiais militares dos mais altos escalões, incluindo Mikhail Tukachevsky, um dos cinco marechais do Exército Vermelho, haviam sido presos e estavam fazendo confissões de conspiração junto a Trotsky e aos trotskistas, a direita liderada por Bukharin, Yagoda e Rykov, e - o mais sinistro de todos - com os nazistas do Japão e da Alemanha.

Em 2 de junho Nikolai Bukharin de repente voltou atrás e confessou ter sido um dos líderes dessa mesma conspiração (Furr & Bobrov). Nesse mesmo dia Lev M. Karakhan, a principal diplomata soviético que ao mesmo tempo tinha sido intimamente ligada à Trotsky, também confessou . Marechal Tukhachevsky e os outros líderes militares, evidentemente, continuaram a fazer confissões mais diretas até 09 de junho. Em 11 de junho, veio a julgamento, onde confessou mais uma vez, e depois foi sua execução. Vários altos Bolcheviques e membros do Comitê Central estavam associados a eles.

Antes e durante a reunião do Comitê Central que se realizou de 23 a 29 de junho daquele ano, 24 dos membros do Comitê Central e quatorze candidatos a membros foram expulsos por conspiração, espionagem e atividades de traição. Em fevereiro e março, Bukharin, Rykov e Yagoda também tinham sido expulsos. Nunca antes tinham ocorrido tais expulsões em atacado da liderança do Partido.

Inquestionavelmente, um evento de tal gravidade nunca tinha vindo a público. Pode-se dizer que esses eventos, principalmente a conspiração militar, pareciam constituir a mais grave ameaça à segurança - na verdade, à existência- da União Soviética desde os mais sombrios dias da Guerra Civil.

Trotsky e seu filho Leon Sedov tinham sido condenados à revelia no primeiro Julgamento de Moscou em agosto de 1936 No Julgamento de Moscou segundo de janeiro 1937, Karl Radek tinha explicitamente identificado Leon Trotsky como o líder daquela importante conspiração anti-soviética. Ele havia mencionado especificamente a Espanha como um lugar onde os adeptos de Trotsky eram perigosos e exortou-os a afastar-se Trotsky. Quando a “revolta de maio" em Barcelona eclodiu em 3 de maio, o alerta de Radek pareceu premonitório. Para os comunistas, mas também para muitos não-comunistas que apoiaram a República espanhola, essa punhalada pelas costas na República Espanhola parecia ser o mesmo tipo de coisa que os direitistas, trotskistas e altas patentes militares estavam supostamente tramando para fazer na URSS.

Na véspera da reunião de junho do Comitê Central, Trotsky decidiu enviar um telegrama de seu exílio mexicano não a Stalin ou o Politburo, mas ao Comitê Executivo Central, a mais alto órgão do governo soviético. Nele, ele chamou diretamente seus membros a rejeitar a liderança de Stalin e voltar-se para ele:



[A POLÍTICA DE] STÁLIN ESTÁ LEVANDO A UM COMPLETO COLAPSO INTERNO BEM COMO EXTERNO, A SALVAÇÃO É SE VOLTAR PARA A DEMOCRACIA SOVIÉTICA COM REVISÃO ABERTA DOS ÚLTIMOS JULGAMENTOS PAREM COM ESSE CAMINHO OFEREÇO APOIO TOTAL -- TROTSKY.



O que foi escrito depois da publicação original desse telegrama diz o seguinte:



Em junho de 1937 em Moscou, no endereço do Comitê Executivo Central (CEC), que era então formalmente o órgão máximo do poder do Estado na URSS, um telegrama chegou de L.D. Trotsky no México: [texto do telegrama]. É claro que este telegrama não terminou acima no CEC, mas no ministério da segurança, NKVD, de onde foi direcionada para Stalin como uma chamada que dizia: "comunicação especial". Ele escreveu sobre o telegrama a seguinte observação: "espião cara de pau, espião sem vergonha de Hitler" não só Stalin assinou o seu nome sob sua "sentença", mas deu a V. Molotov, Voroshilov K., Mikoian A., e A. Jdanov para assinarem também.



O falecido autor trotskista Vadim Rogovin parafraseou este mesmo artigo em uma nota de rodapé:



O telegrama de Trotsky acabou não no Comitê Central, mas no NKVD onde foi traduzido do Inglês (a única maneira do telégrafo mexicano poder aceitá-lo para o envio) e enviado a Stalin como um chamado "comunicação especial." Stálin leu o telegrama e escreveu nele uma observação que mostra que claramente ele perdeu seu autocontrole: “Espião cara de pau, espião sem vergonha de Hitler!”Sua assinatura abaixo dessas palavras foi completada com as assinaturas de Molotov, Voroshilov, Mikoian e Zhdanov, as quais expressam seu acordo com a avaliação de Stálin.





O autor anônimo do artigo em Novoe Vremia (ver nota 10 acima) julgou a nota de Trotsky como um delírio da parte dele. Como devemos entender a proposta de Trotsky? Ele poderia ter possivelmente suposto que eles aceitariam a sua ajuda? Ou que, em 1937, um retorno para a "democracia soviética" seria possível? Não se pode chamar isso de ironia, é mais parecido com uma ilusão. (Como um número de estudiosos têm mostrado, uma "virada para a democracia soviética" era de fato um ponto em discussão em 1937).

Em seu estudo crítico de 1997 a respeito de Trotky, Evgenii Piskun escreveu:



Este documento estranho testemunha o fato de que o líder da Quarta Internacional esperava que a URSS ia sofrer alterações imensas no futuro próximo e que ele voltaria ao poder novamente.

Mas ele estava errado desta vez também. Quando a reunião de Junho do CC acabou, a liderança do Partido não tinha mudado.



Rogovin concorda que Trotsky deve ter acreditado que ele tinha uma boa chance de chegar ao poder:



Trotsky não era uma pessoa dada a tomar medidas sem sentido ou impulsivas. Apesar de o fato de que os motivos do seu apelo permanecem obscuros até hoje, é natural entender-se que Trotsky possuía informações que mostraram que a verdadeira devoção a Stalin da maioria do Partido e líderes soviéticos era em proporção inversa às exclamações oficiais dessa devoção, e que a posição de Stalin era extremamente frágil e instável. Isso pode ter sido a fonte de Trotsky espera que, em condições de o Grande Terror, que estava arrancando um membro após a outra das fileiras Party, uma consolidação das principais figuras na país seria possível o que seria o objetivo de derrubar Stalin e sua claque (Rogovin 487).



Rogovin aceitou sem questionamento a posição trotskista ortodoxa de que Trotsky não era envolvido em conspirações com os alemães. Esta posição apresentou-lhe um problema: como explicar o comentário manuscrito de Stalin no telegrama de Trotsky? Mesmo Rogovin teve que admitir que, uma vez que a nota foi dirigida apenas aos mais próximos dele, associados mais confiáveis, ele apareceu para provar que Stalin e o resto deles realmente acreditaram que Trotsky foi culpado de conspirar com os alemães. Tudo o que Rogovin poderia oferecer era a seguinte formulação, o que nos leva ao coração de nosso problema:



O documento, assim como muitos outros documentos do Politburo, e até mesmo o correspondência pessoal de seus membros, mostram que Stalin e seus mais próximos "camaradas de armas", expressavam-se em um código convencional, que foi projetado para dar a impressão de que eles acreditavam nos amálgamas que estavam criando. Caso contrário, Stalin, que não acreditava na existência de contatos entre Trotsky e Hitler, não teria escrito essas palavras em um documento que destina-se apenas a seu círculo mais imediato (Rogovin, nota a p. 487, grifo adicionado por Grover Furr).



Agora possuímos evidências adicionais de que Stalin, de fato, acreditava que Trotsky tramava com os alemães. Rogovin não oferece nenhuma prova em contrário. Além disso, agora, também temos evidências de que Trotsky, assim como muitos outros, na verdade, estavam conspirando juntamente com a Alemanha e o Japão. A evidência sobre Trotsky é o tema deste artigo.

O telegrama de Trotsky de 18 de junho de 1937 servirá como uma introdução, tanto para as novas provas que vieram à luz desde o fim da URSS e os problemas relativos a essas evidências, assim como as barreiras para entender o que isso significa.

Até onde sabemos, não chegou ao nosso conhecimento que ninguém tenha se preocupado em colocar todas essas evidências juntas ou para reexaminar à luz desta nova evidência a questão dos laços de Leon Trotsky com o Japão e Alemanha, inclusive as supostas ligações alegadas pelos réus nos Julgamentos de Moscou e pelo governo soviético.

Por que isso? Nós pensamos que os dois comentários muito diferentes realizados por Piskun e Rogovin sugerem uma resposta. Ao invés de ser objeto de estudo cuidadoso com um olhar capaz de questionar e ao conhecimento prévio, a nova evidência está sendo empacotada em defesa de velhos paradigmas históricos.

O paradigma de Piskun -- de que Trotsky foi, provavelmente, se preparando para algum tipo de golpe contra a liderança soviética – tem sido raramente ouvido durante muitos anos. No entanto, Piskun lê o telegrama de Trotsky através das "lentes" de seu velho paradigma, uma vez que o texto do telegrama nada sugere sobre qualquer expectativa de mudança iminente e retorno ao poder. O máximo que poderia ser dito é que o texto talvez seja compatível com tal expectativa. Mas nós nunca poderíamos deduzir essa expectativa do texto propriamente dito. Uma sóbria leitura do telegrama de Trotsky pode depreender que ele é evidência de que Trotsky estava esperando por uma volta ao poder na URSS, mas nada mais.

A interpretação de Rogovin é ainda mais tensa. De acordo com Rogovin, Stalin não poderia ter acreditado que Trotsky era um espião alemão, embora ele tenha escrito isso em um telegrama que apenas seus associados mais próximos iriam ver. O paradigma de Rogovin faz com que ele acredite que Stalin é que tinha inventado a acusação de que Trotsky estava colaborando com os alemães (e japoneses). Se esse paradigma deve ser preservado, em seguida, Stalin deve estar fingindo aqui também. Nenhuma leitura objetiva do texto do telegrama de Trotsky e das observações de Stalin permitem chegar às conclusões a que Rogovin chega. Além disso, Rogovin não tem nenhuma evidência para apoiar a sua posição que Stalin inventou as acusações contra Trotsky. Ele simplesmente assume que estas sejam verdadeiras.

Piskun e Rogovin representam pólos opostos na interpretação tanto deste documento si e quanto em relação à questão da relação de Trotsky, ou a falta dela, com Japão e Alemanha. Mas as acusações de colaborar com os serviços de inteligência das potências do Eixo principais foram alegadas não apenas contra Trotsky, mas também contra muitos dos réus no segundo e no terceiro Julgamentos de Moscou, de janeiro de 1937 a março de 1937. Em outros lugares, temos estabelecido uma pequena parte das evidências de que oposicionistas, de fato, ter algum tipo de clandestinos relação política, visando a URSS, com a Alemanha e a Japão .

Há uma grande quantidade de evidências sobre os outros oposicionistas. O presente trabalho concentra-se em evidências sobre Trotsky especificamente. Devemos procurar evidência de que tal relação, mas não porque estejamos convencidos de que, a priori, essa relação deve ter existido, mas porque é, em princípio, impossível encontrar evidências negativas - por exemplo, de que tal relação não existia. Se não encontrarmos nenhuma evidência de que os oposicionistas tinham um relacionamento assim, então a única conclusão responsável a que se poderia chegar é que eles não tinham nenhuma relação com a Alemanha e o Japão - de novo, salvo prova em contrário, ou seja, uma hipótese que pode mudar no futuro. Este é um procedimento normal em qualquer histórico de investigação: apenas evidências positivas contam. Isso não significa, no entanto, que toda e qualquer “evidência positivas” aponta para um única conclusão, ou é suficiente para sustentar qualquer conclusão única. O presente estudo faz concluir que as evidências agora à nossa disposição fortemente reforçam a existência de colaboração entre Trotsky e os alemães e japoneses.

Isso cria um problema peculiar para nós, como historiadores, ou seja, a partir de um artigo baseado em evidências - o presente artigo – pois então desafia-se diretamente o consenso em vigor naJulgamentos de Moscou e, especificamente, sobre Trotsky.





O que está em jogo?



Este consenso que prevalece é parte integrante do modelo, ou paradigma, de História soviética que é dominante dentro da própria Rússia e além de suas fronteiras.

Trotsky e seu filho Sedov foram acusados de envolvimento com a Gestapo alemã nos Julgamentos de Moscou de 1936 e de envolvimento com os alemães e japoneses nos Julgamentos de Moscou em 1937 e 1938. Numerosas testemunhas em cada um desses ensaios atestaram que tinham conhecimento direto da colaboração de Trotsky (Sedov). Estas acusações constituem uma característica central dos julgamentos. Vamos examinar esse testemunho neste artigo.

A alegação de que essas acusações são falsas também constitui uma característica central do paradigma dominante da história soviética durante o período de Stalin. Confirmação da culpa de Nikolai Bukharin nos crimes a que ele confessou culpa já mina seriamente o que podemos brevemente o paradigma "anti-Stalin" paradigma da história soviética. A confirmação do envolvimento de Trotsky com os alemães e japoneses reforçam as evidências que já temos de que as acusações que os réus confessaram-se culpados nos Julgamentos de Moscou eram verdadeiras.

Temos evidências de que temos Trotsky, de fato, colaborou com os alemães e japoneses. Isto é consistente com as acusações feitas contra Trotsky e seu filho nos Processos de Moscou. Não nos compete arriscar um palpite quanto ao que podem ser as implicações deste fato para o trotskismo em si. Na medida em que o trotskismo é um conjunto de princípios políticos que podem ser afastadas do político Trotsky, isso pode ter algumas implicações. As suas implicações podem ser mais de longo alcance para as variedades do trotskismo que se baseiam em um culto e devotam um grande respeito à figura humana de Trotsky, sendo então incapazes de separá-lo de suas idéias.

Trotskismo já sobreviveu à descoberta, no início dos anos 1980, de que Trotsky mentiu à Comissão Dewey. Como o artigo recente de Sven-Eric Holmström demonstra as mentiras de Trotsky a respeito do caso do “Hotel Bristol”, tanto à Comissão Dewey quanto em sua revista Boletim da Oposição, são mais abrangentes do que já tinha sido provado.

Levará algum tempo até que possamos discernir que se pesquisa qualquer Holmström influência terá sobre os seguidores de Trotsky. Em qualquer caso, é para eles, não para nós, que se deve decidir o que essas implicações podem ser.

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