FILOLOGIA CLÁSSICA SINCRONIA DIACRONIA MUDANÇAS I
APREENDER E PRENDER
João Ferreira
16 de novembro de 2011
Toda a informação escrita e digitalizada passa pelo uso da expressão. Partindo do princípio de que a expressão é um dos elementos formais básicos da comunicação, nossas escolas ensinam teorias de composição escrita e formas corretas de redigir ou produzir texto com base em regras sintetizadas nas gramáticas e na prática da escrita estruturada em cima de textos oriundos de obras de grandes autores clássicos e de textos produzidos pelo jornalismo de qualidade que passam a valer como normas de orientação da língua escrita.
Uma das qualidades da boa escrita assenta na propriedade e na adequação da linguagem empregada. No âmbito da adequação cabe a estruturação correta da frase segundo a gramática e a propriedade dos termos segundo o significado que lhe é dado pela comunidade lingüística falante corroborada pelo arquivo que o uso lexical apresenta nos dicionários.
Examinemos hoje dois termos parecidos mas inteiramente diferenciados não apenas na escrita mas também no significado.
Esses termos que gostaríamos de analisar são: apreender e prender.
APREENDER
Segundo o significado apresentado pelas fontes da filologia clássica "apreender" é “tomar posse, apossar-se, retirar algo do poder de alguém. Emprega-se especialmente quando se fala de bens e de coisas. A crônica jornalística policial relativa à ocupação das favelas Complexo do Alemão e Rocinha no Rio de Janeiro neste ano de 2011 nos oferece exemplos objetivos do emprego do verbo “apreender”:
-“Fuzil apreendido nesta quarta estava escondido em bolsa para instrumentos”.
-“Polícia já apreendeu 75 fuzis em ocupação na Rocinha e Vidigal”.
PRENDER
O sentido de "prender" é amarrar, atar, capturar uma pessoa "tirando-lhe a liberdade". Vejamos o emprego jornalístico clássico do verbo prender no sentido relatado acima:
-“A ocupação policial da favela da Rocinha, zona Sul do Rio de Janeiro, resultou nesta quarta-feira (16) na prisão de um foragido da Justiça do Maranhão”.
-“De acordo com a Agência Estado, Pedro Henrique Batista de Carvalho, de 26 anos, foi preso pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais - Bope - no início da tarde na localidade Roupa Suja.”
-“Não fomos lá prender uma ou duas pessoas, uma liderança do tráfico. Fomos lá desmanchar bunkers, ilhas inexpugnáveis. Fomos lá devolver direitos aos cidadãos",disse o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, disse José Mariano Beltrame”.
CONCLUSÃO PRÁTICA
A necessidade que há de debater em público o uso destes termos está no fato de encontrarmos casualmente um uso diverso daquele a que o uso clássico nos habituoues. Se consultarmos o Correio Braziliense em sua edição de 15 de novembro verificaremos que na reportagem “Tiros para calar testemunhas” o repórter Luiz Calcagno usa os termos de “garoto apreendido” e “amigos do rapaz apreendido”, em vez de “garoto preso” e “amigos do rapaz preso”. Em contraste com a estilística de Luiz Calcagno encontramos na reportagem “Barbaridade com caseiro”, da autoria das jornalistas Thaís Paranhos e Talita Lins o emprego clássico do termo “preso” ao escreverem que “Elias Magalhães da Silva, 34, e um adolescente de 17 foram presos pouco depois do crime, na quadra 15 do Paranoá[...]” ...
Há por vezes usos regionais contrastando com o uso geral clássico e outras vezes trata-se até de simples idioleto, ou seja, de um uso determinado e preferido por um indivíduo falante ou autor.
João Ferreira
16 de novembro de 2011
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