Iemanjá dos cinco nomes. A santa de Aiocá recebe
subterfúgiso nos braços fortes dos saveiristas da
Bahia. Dona Maria, ou simplesmente Maria, e seu
corcel branco reluzente (ou negro, talvez "pardo"
se preferirem), agora atravessa suas terras desco-
nhecidas. Longíquos heterônimos (outros nomes) de
poetas distantes... Talvez falarão da mitologia
das águas, ou quem sabe, de contos, crônicas, ensa
ios e poesias mal escritas no decorrer dos anos.
Epopéias de luta e fadiga. Reportagens líricas mal
resolvidas.
Relembrar-se-ão dos acadêmicos que teimam em des-
vendar suas analogias, lendo uma, duas ou três mil
vezes o senhor Pessoa. Uma amada figura pelos cír-
culos do mestrado britânico. Nunca terão a idéia
da sensibilidade poética, sem antes olhar o que
está dentro de si. A mãe das águas agradece... Até
onde está o limite no entendimento pelas coisas
naturais? - achei o cais baiano tão sublime! Suas
violas noturnas, sua gente com orixás, gumes e re-
des de pesca. Seu peixe salgado, seus homens vadi-
os, suas mulheres ordinariamente brasileiras, des-
tas que apreciam a surdina nos areais. Minha senho
ra sempre aconchega no mais recôndito de seu seio,
espaço para mais um filho valente. Ventos carrega-
dos de ira sempre serão o convite de Iemanjá para
os confins do mundo, a oportunidade de conhecer lu
gares nunca antes imaginados por alguém.
Neste incesto de espumas oceânicas, orgasmos mis-
teriosos levam ribeirinhos a proclamarem sua liber
dade: "estamos livres, embriagados pelo canto das
sereias, mas não aquelas do ocidente, estas são
mestiças, desprezam Posseydon!" Somente uma visão
aguçada entenderia o que se passa na pluralidade
mística desses personagens. Uma associação de
rimas e vocábulos mais revoltos, configurados como
que numa múltipla personalidade, absorveriam tais
fragmentos regionais que só o hemisfério sul pôde
criar. "Pessoa", truque indumentário, adjetivo
transcendental, "Fernando". Dona Maria com cinco
nomes agradeçe... |