Gravíssima importância tem a rima,
Quando repete a voz que o bem estima
E se esparge na Terra, em forte luz.
É que o encarnado tem puro desejo
De tudo conhecer, por ver sobejo
O sofrimento d’alma de Jesus.
A história se repete, muitas vezes,
Em muitos atos bons, ou vis, soezes,
Que sempre há gente nova p’ra aprender.
Leva vantagem quem viver agora,
Que é muito fácil ver que inda vigora
A lição de Jesus — nosso dever.
Os homens vão fazendo que se grave
A lei, que vai ficando mais suave,
Conforme mais aumenta a compreensão.
Assim, quando voltarem ao etéreo,
Acabam percebendo quanto é sério
Seguir as leis do amor e do perdão.
Um dia, hão de estar aqui comigo
Os que me forneceram bom abrigo,
Buscando dar de si o seu melhor.
Para tal gesto, um bem sempre é preciso:
É conceber a vida com juízo,
Sabendo as leis do Mestre até de cor.
Mas repetir as leis é cansativo,
Embora seja o verso criativo
E o povo nos quer ver “pererecar”.
À sombra da poesia, o bem não muda:
Quem deseja avançar a lei estuda,
Para o que é necessário se apressar.
O nosso sentimento é controlado,
Porque a palavra vem destoutro lado
E temos de mostrar que o bem existe.
Se o nosso verso fosse pueril,
Temos certeza que, se fossem mil,
Ainda assim o povo estava triste.
E, quando a rima fica complicada,
Aí, do que dissermos sobra nada,
Que, p’ra pensar, o povo é muito duro.
Em rima castigada, em nobre estilo,
Irão dizer que fi-lo porque qui-lo
E que estraguei o verso co’esse furo.
Meu compromisso, então, vira fumaça.
Melhor faria um gole de cachaça,
Tomado co’os amigos, lá na esquina:
— “O tempo?... — Ora, o tempo que se dane.
Enquanto o corpo não sofrer com pane,
Vou adiando a hora da doutrina...”
Foi bem assim que já pensei na vida
E trago agora a alma arrependida,
Na confissão do crime e desta dor.
O verso reles, que não fiz outrora,
Me serve p’ra dizer que, aqui, mais chora
Quem sonegou, aí, o bem do amor.
Hão de dizer que o mestre-presidente
Faria verso lúcido, fulgente,
Casquilho, solto, fácil, imortal.;
Mas embotado, em termos de doutrina,
Pois a palavra certa é o que fascina
Quem sabe e segue a lei universal.
E qual a lei do verso mediúnico?
É transformar o tema num bem único,
Dizendo o que Kardec assimilou
E pôs nos cinco livros principais,
Que lêem os que querem crescer mais,
Cuja noção tão simplesmente dou.
O que dizer, então, em quaisquer versos
Que não se saiba em prosa, nos diversos
Escritos mediúnicos maiores?
Apenas que se encontra aqui presente
Um pobre ser, que julga conveniente
Recomendar que os bons sejam melhores.
Lá no começo, eu disse que Jesus,
Sofrendo o desespero de uma cruz,
Causou ao povo, rude comoção,
Mas, pelos crimes que se vêem na Terra,
Parece natural que haja guerra,
Enquanto ao Evangelho se diz “não”.
Assim, um verso a mais não faz sentido,
Embora nunca diga eu: — “Duvido
Da força da poesia” —, pois escrevo.
Só ponho tento no pensar do povo,
Que há de resmungar: — “Ei-lo, de novo,
Com as leis do que devo ou que não devo.”
Se quiserem que escreva mais cordato,
Dando a lei que nos rege cada ato,
A mostrar que Jesus tudo sublima,
Pergunto se isso é bom, se é ruim,
Porquanto tenho firme para mim
Que existe uma verdade em cada rima.
Cuidado, bom leitor, com a importância
Que assume a bela rima-extravagância,
Provinda cá do etéreo, benfazeja.
Se alguém logo disser que é benquista,
Por dar da realidade boa pista,
Entregue o coração, que o Cristo veja.
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