Dia de trabalho vencido, resolvi fazer um percurso diferente na volta para casa. Quando dei por mim, o mar já me chamara. Num impulso, sentei-me em uma das barracas da orla, e deixei-me ficar. Pés descalços, areia fina a acariciar-me os pés indecisos...
Céu iluminado na sexta-feira...a mesmice de todos os dias, o acúmulo de tarefas (sempre pendentes!!), robotiza-nos de tal forma que vamos nos distanciando de prazeres tão simples. Os desencantos e desencontros, parece, vão se encarregando de travar nossas retinas para o que, um dia, fez nosso coração saltitar.
De quantas estrelas já me fiz acompanhar? Por quantos momentos não me deixei ficar na solidão de um céu constelado? Estrelas cúmplices que ouviam meus segredos, confidências, presenciando beijos que guardei para quem sempre esperei. Adormeci nas minhas lembranças, percorrendo os sótãos do meu coração e os momentos que ficaram na ante-sala da minha vida, agonizantes á espera de um convite para serem reais. Mas faltou aquela palavrinha mágica: entra ! Ah, quantas emoções são escoadas da nossa vida, sem nenhuma chance ou oportunidade...quantas portas fechamos, pondo fim ao que foi apenas acalentado em sonhos ! Quantas portas deixamos entreabertas, reticentes à nossa própria felicidade, esperando que alguém tome a iniciativa de escancará-las para o sol entrar...
Essa minha alma sonhadora que insiste em navegar nos recónditos do coração...fiquei a pensar nas pessoas que, como eu, também fitavam o céu da sexta-feira. O que pensavam? De que forma percebiam aquele instante? Olhares diferentes diante de uma mesma imagem...ali, à minha volta, um casal se abraçava, envolto pela lua que tocava violino para as estrelas...mais à frente, um outro casal discutia em acordes de guitarra elétrica...bem atrás de mim, turistas conversavam animadamente sobre o passeio feito ao Beach Park durante o dia! E quantos outros olhos naquele momento espalhados neste planeta, protegidos sobre o mesmo manto...gente que acalenta saudades, vagueando como estrela em busca do seu próprio céu...gente que se acha, e que se perde, no movimento de translação da Terra...gente que aguarda o bocejo da lua para um novo encontro...gente que nunca se viu, e que em algum momento se cruzará nas perpendiculares dos seus corações...
Nem sei por quanto tempo me deixei ficar, desenhando minhas emoções entre os meus pensamentos. Guaches coloridos pincelando minhas saudades...páginas repletas de matizes que sorriram na displicente felicidade por terem sido sonhadas e pintadas na aquarela da minha vida...páginas que ficaram em branco, por falta de um pequeno rabisco que poderia ter modificado tudo...
Nem sempre compreendemos os sinais do destino e acabamos adormecidos aos recados sussurrados pela mão aveludada do tempo.
De que cores temos pintado as estrelas do nosso céu? E que músicas temos permitido nosso coração escutar? Somos o artífice da nossa história e só nós podemos definir a luminosidade do nosso céu..