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Ensaios-->a roda -- 14/06/2003 - 12:30 (Lêda Maria Carvalho da Nova) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O disco é grandioso e circunda-se ininterrupto e mutável sob seu eixo. Para acessá-lo urge ultrapassar os limites do tridimensional e familiarizar-se com o metafísico. A impressão é que está muito longe, a anos-luz da Terra.
A visão é tão-somente de algumas de suas facções. Não se permite contemplar por inteiro, só pelos fragmentos. Tem um quê de mistério, porque envolta pelo imaginário.
Alguns têm uma percepção mais aguçada e enxergam partes inacessíveis aos outros. Com a sua genialidade, têm desenvolvida a habilidade de captar significados ocultos para os demais. Manifestam-se nas mais variadas áreas e foram capazes de modificar o curso da história e de transformar o estilo de vida das pessoas. De Jesus de Nazaré a Freud, de Mozart a Darwin e a Bill Gates, eles captaram conteúdos até então submersos e possuem a autoridade da autoria. Não obstante, partindo-se da premissa de que nada se cria - apenas desvela-se haja vista tudo já existir em estado potencial - talvez o mérito seja da descoberta de algo resguardado.
A grande maioria dos mortais, porém, mantém uma relação silenciosa com essa circunferência. Alguns não têm nem mesmo a noção da sua existência, fato que não inviabiliza a tese de estarem constantemente mantendo uma vinculação de rodeio com o objeto em questão.
O que é essa roda?
Parece que é a própria vida. Ou melhor, o seu movimento: expandindo e contraindo, abrindo-se e fechando-se, num curso rítmico interminável.
Tem o elemento da plenitude, a despeito da ausência de unanimidade na sua perceptividade.
Essa diversidade é pontuada nas assertivas excludentes de muitos religiosos: na medida em que adentram em uma porção da bagagem do globo, acreditam atingir o todo e atribuem-se a exclusividade da verdade universal, ignorando que os outros penetraram na essência da outra banda, aparentemente contraditória.
A história registra, por seu turno, a alternância de conceitos e valores: o aceitável e até mesmo o exigido em uma época é descartado e substituído por uma lógica e uma ética nova, quando não oposta.
O conteúdo percebido corresponde ao nível de consciência do observador e a expansão de um implica basicamente a do outro.
Traduz-se, para muitos, exclusivamente como bons ou maus momentos.
Em uma ocasião qualquer é possível, entretanto, que o homem depreenda sua vida governada por crenças - muitas nem sequer articuladas – que têm a força de criar padrões comuns e recorrentes.
Se optar em abandonar o “piloto automático” e prestar atenção, ampliando as fronteiras da simples sobrevivência, estabelece a conexão entre causa e efeito dos conceitos e experiências.
E começa a sentir a grande roda...
Compreende que a parcela apreendida equivale à sua própria biografia, um pedaço oculto da psique que é tão difícil de olhar – e por isso mesmo, projetado em outrem.
Obtém-se uma idéia abstrata do que é concreto: o perceptível do disco é a leitura de vida do individuo e a imagem da sua realidade. Essa apreensão não é estática. Muito pelo contrário, altera-se continuamente com o aclaramento de mais um quinhão da esfera.
O agente catalisador desse deslocamento incessante é a convicção, que permanece cristalizada até quando se resolve rever e questionar a veracidade dos pressupostos do que considera inalterável.
Abre-se um mundo no interior da alma e mais uma fração da roda desnuda-se...
Infere-se a existência de mais do que se vê e a disponibilidade das idéias e alternativas: nada é fechado, inviolável e intransponível e descabe a mesmice, o igual e até o parecido.
Nesse ponto o homem comum equipara-se àqueles gênios: enxerga além do aparente, do considerado certo e adequado e transpõe as demarcações.
Ousa penetrar no insondável e assimila porções nunca antes imaginadas.
A roda...
É mesmo uma beleza essa roda, tão grande e distinguida somente por partes!
A parcialidade desse vislumbre, todavia, é a expressão da integridade, porquanto é o máximo e o melhor do contexto.
A interação com esse corpo é tal qual com uma roda-gigante: a pessoa balança e tem medo, no entanto não cai, visto que é o próprio movimento que é seguro.
Deduz-se a roda inconclusa não somente pelo fracionamento da assimilação, mas também porque ela não é inteira. Carece sempre de alguns bocados, haja vista que se o círculo estivesse totalizado o enredo seria um molde fixo no qual necessitaria só ajustar-se e deixar acontecer.
Perscruta-se mais e a circunferência permanece incompleta...
Anseia-se pela totalidade e o caminho o conduz – em tentativas de erro e acerto – para dentro de um anel situado no próprio eu.
Um véu descortina-se e mais um nível oferece-se...
Em contato com a roda interior, a urgência clama pela união e o fluxo desloca-se novamente para fora, rumo a união com o outro pedaço: fazendo a esfera crescer e alongar, num impulso de completar, similar ao orgasmo ou à morte.
Depara-se com o espaço cósmico e com o convite para confrontar sentimentos, explodir emoções, inovar pensamentos e arriscar a própria vulnerabilidade.
Desafiando a sutileza entre o engano e a exatidão e entre o clandestino e o legítimo, o homem apossa-se da sua divindade e passa a criar e a se superar.
Ou será somente encontrar? – Numa discussão constante, até da promessa poética de tudo “estar escrito nas estrelas”, porque o que se vê nos céus, presume-se, pode ser meramente a roda – que tem a configuração de um astro estelar – mas que está inacabada.
Talvez esperando que alguém, como numa tela de aquarela, risque, rabisque e pinte, com as cores que desejar, o seu particular quadro de arte.
É uma chance, uma possibilidade...

Lêda Nova
(Publicado no livro 'Conversa do pé do ouvido', da autora)
* Nota- A primeira versão deste texto faz parte da antologia “Anuário dos Escritores 2001”, da Litteris Editora.
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