Prazer é a satisfação, o deleite, o gozo.
Dor é o sofrimento, a agonia, a ânsia.
Prazer é a bem-aventurança e a expansão.
Dor é o azedume e a estreiteza.
Aparentam-se díspares e antagônicos
sem confusão de conceitos e elementos.
Tal qual a água e o óleo, imisturáveis.
Muito embora completem a lamparina.
Prazer é o deslocamento dos sentimentos do corpo.
Dor é a estagnação da alma.
Prazer é um impulso involuntário eletrizante e para fora.
Dor é a introspecção, a contração e o isolamento.
Nas suas múltiplas variáveis,
o prazer é a meta do homem.
E porque é o que mais deseja,
também é o que igualmente teme.
Acreditar querer o prazer e simultaneamente não o consentir.
Temê-lo, recusá-lo, abandoná-lo e esbravejar
desesperadamente para recapturá-lo em tudo que o substitui -
sugere ser o denominador comum de todas as ambivalências.
É o conflito de a um só tempo
ansiar e rejeitar o prazer.
É a divisão de força e de vontade de duas
correntes que puxam e repuxam,
incoerentes e irracionais.
Porquanto se intimida com o prazer
busca o seu oposto – o desprazer, a dor.
- Eu tenho medo do prazer!
É a confissão das profundezas do ser.
Prazer é essência em movimento.
Dor é energia paralisada e fixa.
A dor é uma defesa e uma resistência ao prazer.
Impregnada a destrutividade de sexualidade,
tamanho o seu vigor e alcance,
transfere-se para o prazer o medo do mal,
bloqueia-se o prazer por temer a ligação
do prazer com a negatividade
e dele se foge como o diabo da cruz.
Entorpecimento dos sentimentos e dos sentidos.
Flutuação entre os extremos angustiantes
da luta ansiosa e da resignação desesperançada
insinuam-se os subprodutos da inaptidão para o prazer.
Mais fácil é suportar a dor.
Além de ser mais comum e rotineira,
É, afinal, bem menos assustadora:
- Será que eu agüento tanto prazer?
A dor do outro comove o coração
e desperta comoção e solidariedade.
O prazer do próximo amedronta, intimida
e faz entrever a inveja velada e não admitida.
Prazer na dor.
Dor no prazer.
Tão difícil admitir
quanto não existir!
A variar tão-somente no ponto da sua gradação.
Sadomasoquismo é a exacerbação da dança
dos tapas e beijos, entre encenações
literais ou camufladas, não importa,
da violência e agressão de todos os dias.
Difíceis de abandonar não pelo stress
ou quaisquer outras racionalizações.
Contudo pelo prazer secreto - que a própria dor esconde.
Esse prazer na dor ou dor no prazer
é o elemento maior da dificuldade de mudança
na proporção exata de sua negação
e não percepção.
Empenhar-se em ser amado e apreciado,
entretanto não reagir com prazer
a uma situação de total aceitação,
indica ser a obstrução.
Prazer, tesão legítimo e inato
da condição divina do humano.
Um esforço de superação da separação
e da solidão de si e do outro.
Ao sentir dor, aciona-se o mecanismo
do prazer para minimizar a dor.
Tal mecânica, porém, cria o condicionamento
e a armadilha da fixação da dor ao prazer,
custosa de escapar e reverter,
tanto quanto foi resistir à tentação
de comer a maçã no jardim do Éden,
quanto o de reaver, no aqui e no agora,
o estado de graça original.
A síndrome da simbiose dor/prazer
é uma relação de amor e ódio.
É a vivência de dois tempos e duas realidades.
É o cálice que se quebra
sem o deguste do vinho.