Adorar
e assim alimentar-te
da perna de uma, da boca de outra
transeunte anônima.
Amar
e por isso sorver com afinco
a derrière de uma, os olhos de outra
pedestre qualquer.
Venerar
para depois mastigar
novamente a perna de uma, a boca de outra
moradora que passa.
Ah, sem hesitações
respirar regaços que chegam,
sentindo uma gula maior
pelas naturezas mortas que te cercam,
pelo sabor acre de todas as coisas.
E no desfecho digerir.
Digerir e esmorecer,
que talvez o amor provoque apenas
uma ligeira catarse
no fim do intestino,
uma purificação de tripas,
uma complexa apendicite
terminal.
DO LIVRO:"BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"
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