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cronicas-->NO REINO DO MAMOEIRO -- 25/08/2002 - 10:46 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diga-me cá que eu estou encasquetado com uma coisa: é ou não é já sacramentado que as organizações empresariais de hoje precisam ser flexíveis, primar pela qualidade, horizontalizando as relações humanas com interações laterais numa gestão orgànica, participativa e compromissada? É ou não é paradigma para que essas organizações tenha uma arquitetura adequada às novas demandas para se assimilar as mudanças provocadas pela emergência da sofisticação tecnológica e as inovações criativas? Isso para enfrentar o crescimento demográfico, as turbulências económicas, a concorrência aguda, a administração dos custos oriundos das mais diversas fontes de produção, a globalização internacionalizando negócios e usurpando barreiras para maior intercàmbio, a competitividade redefinindo posturas que usam dos conceitos e princípios científicos? Além disso, elas precisam ser descentralizadas com delegações para construção de uma hierarquia flexível predominando a equalização e a democratização no modelo baseado na teoria dos sistemas e na contingência? Enfim, é ou não é com essa modalidade organizacional que se respeita o homem de todos os níveis, cores, raças, crenças, o escambau? Diz-se então, que estas são as evidências encontradas no modelo empresarial mais atualizado. Certo? Vamos nessa.

Contrariamente a isso - o que acende caraminholas na minha santa ignorància -, um dos mais potentosos empreendimentos nordestinos, a usina de cana-de-açúcar, se sustenta ainda carregando aqueles antiquados preceitos tradicionais: rígida, verticalizada, burocratizada, montada naquele secular e decadente paradigma mecanicista que vige na alegria dos seus proprietários: vinhos novos em odres velhos.

Gente, vocês não fazem idéia do poderio de uma usina dessas numa cidade interiorana nordestina. Não sabem de uma festa na sua botada e da tristeza tumular na sua pejada.

Os seus donos, tidos por eles mesmos como sendo entes superiores que cagam raio, bufam e se realizam com a babada da claque de seus lambe-cus e puxa-saco, são para os coitados moradores dessas províncias deus no céu e eles na terra. Por isso, eles são os referenciais mais exatos para todos os elogios exemplares de conduta, mesmo que eles queimem carteiras profissionais e promovam sub-empregos com pífios salários; que mijem nos copos dos bares e obriguem seus frequentadores a ingerirem sua urina deificada como aperitivo; que estuprem meninas virgens em nome de sua extravagància; que rasguem leis e tenham todas as ordens sob o seu mando; que pisem com todos os seus mais descabidos caprichos e cuspam na cara de qualquer ser, para eles, verdadeira bosta de cavalo; que quando contrariados ameaçam fechar o negócio causando o maior desastre que se possa imaginar só para serem paparicados pela covardia subserviente de todas as autoridades federais, estaduais e municipais.

Esses caras são nó-cego mesmo!

Para se ter uma outra idéia ainda mais clara, qualquer empregado desse complexo industrial é apenas uma engrenagem da máquina particular, que compete balcanicamente com um e com todos, sob a ordem do topo estrategista que se mantém do segredo na lealdade a feudos centralizadores de comunicação vertical descendente, enfático nas regras e procedimentos previamente formalizados na voz do dono; onde todos ligam, aceleram e pé na táboa na desumana rotinização do trabalho com sua minuciosa divisão; onde o dinheiro é o motivador máximo das pessoas, valendo o primeiro eu depois o grupo, o passado protegido a sete chaves, lucro acima de tudo e, se possível a curto prazo; burocraticamente rígida com o seu corporativismo medievo centralizado na cúpula, a exemplo das organizações eclesiásticas e militares, com unidade de comando de um superior deificado na estrutura e que cada subalterno deve ser exatamente o que se espera dele e o que ele deve fazer é cumprir as ordens inexoravelmente. Isso, só mostrando uma pequena banda interna do estrupício avassalador. Externamente, ora, bote fé: multiplicadas vezes mil do piormente. Se dentro é a escravaria do pànico, do lado de fora o negócio é milhões de vezes mais nefasto: os interesses corporativos de suas atitudes despóticas formam aquela oligarquia prepotente da dominação económica do homem pelo homem, isso sem contar com a diversificação de sua atuação com vários negócios de diferentes naturezas, integrados verticalmente sob o comando de uma holding mais funesta ainda. Traduzindo: você tem que temer na base quando o semideus chega destilando sua ira pelos peidos e maus bofes.

Os industriais dessa gramínea perene, do gênero Saccharum, originária possivelmente do Sudeste da Ásia e desenvolvida mais precisamente na Nova Guiné, hoje apresenta variedades híbridas, tratadas com fungicidas, herbicidas e fertilizantes, cultivada na base das queimadas e que constitui a principal fonte primária para fabrico do açucar, do álcool, aguardente, papel e de outros produtos.

Desde antes de 1500 que ela é utilizada de forma sólida, já sendo anteriormente utilizada por árabes e chineses em épocas bastante remotas.

Foi Colombo, dizem os historiadores, quem trouxe as primeiras mudas para as Américas e em Pernambuco existe desde o séc. XVI. E é, em alguns estados nordestinos, a principal fonte económica.

Esses industriais, ao que parece, ainda hoje vivem naquela época e são conhecidos pelo escárnio popular por mamoeiros - não sabendo ao certo a razão da discriminação geral a tal fruto. São eles aqueles integrantes compulsórios daquela não menos abjeta mão invisível que determina a vida de todo mundo, sustentada no clientelismo das lealdades exigidas pelos antiquados coronéis, conduzindo o povo como um magote de eleitores tal uma tropa de burros, e é a quem todo o erário circulante converge, como disse Victor Nunes Leal: "o cofre das graças e o poder das desgraças".

São os donos do conhecidíssimo círculo vicioso entre a política oligárquica e o arcaísmo da estrutura agraria dominante, que segundo Maria Victória Benevides, permanece até hoje nos chamados "grotões eleitorais".

A tirania deles é justificável na "República" de Platão, quando este afirma que apenas ao tirano é lícito praticar em público os atos escandalosos que os comuns mortais só em sonho - e olhem lá! - imaginam realizar.

São os detentores daquela ultrapassadíssima política autocrática, caracterizada pela postura rígida e impositiva de sua figura mandonista, agindo de modo arbitrário e legalista, somente fazendo concessões se as leis e os acordos atenderem seus próprios interesses.

São tão reacinários que acomodam os dois culhões do lado direito, a ponto de Castelo Branco (aquele mesmo do golpe de 64) dizer que é a raça mais retrógrada do país - o que diriam, por exemplo, o Gregório Bezerra e, naquela época, o líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião? -.

Insistem no curral eleitoral, prova disso é a eleição de políticos que dispensam comícios e sequer botam a cara no guia eleitoral nas épocas de campanha política. Quando a gente vê o cara tá eleito: como?

São fortemente armados e acompanhados de seus capatazes trogloditas, exigindo o respeito de serem tratados por "dr. Fulano patrão". E depois de mamarem em todas as tetas possíveis e imagináveis da mãe-pátria - dizem os mais linguarudos que esculhambaram o pró-alcóol, foderam o IAA, são isentos de impostos e quando não sonegam, velhacam; etc etc etc -, exigem anistia de seus débitos e zarpam para outras pradarias deixando só os ferro-velhos de cangalha pro ar.

Isso tudo ainda não é pouco pois eles possuem polícia sob o seu mando para proteger seus patrimónios e a justiça comprada no seu bolso. Aliás, todas as autoridades só fazem qualquer coisa depois de pedirem sua bênção. Ademais, usurpam leis, são privilegiados por anistias fiscais, tributárias, fazem confissões de dívidas nunca honradas, desafiam e se juntam belicosamente para defender seus sagrados interesses. Possuem na mão e sob seu severo domínio desde presidente da república até o vereador mais xucro da menor cidadela do território nacional.

Mais amiúde, uma coisa curiosa que soa como advertência para qualquer um é: se um deles contrata seus serviços profissionais, você oferece orçamento de 40, exigem descontos para 20, justam por 10 e só pagam 5, quando muito. Ganham sempre, não tenha a menor dúvida.

Ainda mais além de tudo isso, são endeusados por todos pelos seus enormes complexos fabrís e deitam sua ojeriza por todos na fumaça que expele pelo bueiro.

São sempre condecorados de patrono, paraninfo, cidadão exemplar e até pela Abrinq como "amigos da criança" - o que muitos descamisados reclamam como uma afronta, por saberem que já jogaram nas caldeiras muita vida de pai de família, quando não, a família toda. E mais ainda mais: mantêm uma relação de terror provocando medo e subserviência nos funcionários, nos credores, nos devedores, nos moradores e todo mundo, uma vez que cultuam a educação dos esparros e ojerizas, criam seus filhos na base do quem for mais carrasco com os empregados e com todo tipo de gente será ganhador de prêmios milionários como viagens ao exterior, carro zero, etc etc etc etc.

Não sei se existe alguma exceção, é possível que pela investida direta na política, façam maquiagem e se mostrem bonzinhos.

Também não conheci ninguém que tivesse peito para enfrentar essa gente, nunca! Só a nossa modernidade tupiniquim e o nosso vício da mediocridade consegue equilibrar o estómago e conviver medrosamente com uma política de boa vizinhança covarde. Tem outro jeito, por acaso? Bié, bié, glup glup!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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