como podes perguntar do meu amor
se te dei minha alma, o meu verso,
se te dei minhas noites, meu abraço,
se te acolhi em teus sonhos, tua paixão,
se ainda hoje acolho tua angústia
e jamais pedi qualquer coisa além
de preservares a intimidade da minha vida ?
como podes perguntar se eu te amo
depois de tanta ausência,
desse silêncio duro,
dessa tua dor que escolheste
sem perguntar-me, sem dizer-me
qualquer coisa que fosse
para prevenir-me do mal que te assola
e que tomou minha vida feito um abismo branco,
do qual fugi com as asas dadas
pela deusa deslumbrante que me assiste?
ah, como podes perguntar do meu amor
em meio ao inferno em que me colocaste,
ao tempo em que te dou tanta ternura
e só sabes de ti, da tua dor?
meu amor foi teu sopro de alegria,
minha ternura tem sido viva para ti
e perguntas se te amo ainda?
perdoo-te tudo
menos perguntares se te amo.
ainda agora, perdido em tuas sombras,
ainda sou eu quem te escuta e te anima.
ainda agora, assediado pelo medo de ti mesmo,
ainda sou eu quem procuras para nada,
só para falar de ti, da tua dor
e de um amor que supões ter por mim
com o qual enches tuas tardes vazias.
se tu me amasses, estarias comigo
ou nunca, nunca mais me ligarias.
eu te pergunto: e se eu te amasse?
repito a pergunta: e se eu te amasse,
o que seria de mim, se eu te amasse?
nada tens a dar-me,
eu já te dei tudo que tinha.
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