Se eu quiser falar com Deus, tenho que aprender a olhar o outro de modo diferente. Não é à toa que se diz outro....É porque é diferente. E como é difícil conviver com o diferente...Não preciso gostar do outro, não preciso concordar com o outro, não preciso conviver com o outro... mas sou chamado a respeitar o outro...amar deve ser isso. Afinal, se eu falar a toda e qualquer língua, mesmo a dos anjos, mas não tiver amor... E como é sutil a diferença entre todo esse respeito e amor ao outro e o julgamento quando há algo de diferente entre nós. Calar, então...ou não. Enfrentar? Quem pode me dizer o que fazer? Agradecer pela presença desse outro que me ensina...mesmo me atrapalhando me mostra portas onde não devo entrar e caminhos que não devo trilhar. Olhar as estrelas e a Lua Cheia, por exemplo, e pedir conexão cósmica. Se eu quiser falar com Deus, tenho que me olhar no espelho sem medo. Em vários tipos de espelho. Um deles, bem singular e eficaz, é através do outro que me reflete. Se eu quiser falar com Deus, hei de me acalmar quando fico ansioso e saber que esse Deus rege a natureza de tal forma que é ela que conspira para me dar o que mereço e peço. Posso orar muito, fazer jejuns, fazer caridades e ir à igreja, mas tenho que saber escutar esse Deus me falar no bem-te-vi que canta na árvore ao lado, no pinguço que vem justamente a mim pedir uns trocados. Se eu quiser falar com Deus, não posso ter medo de errar e por isso não fazer. Tenho que arriscar, ousar sempre. É para frente que se anda, sem remorsos ou culpas. Coragem para admitir o erro e mudar de rota todos os dias, se necessário. Se eu quiser falar com Deus não posso ter preguiça de fazer o que é preciso ser feito. Não posso ser cético e querer explicar tudo pela lógica clássica linear. Tenho que deixar fluir e aguçar a percepção. Tenho que me deitar com a certeza de que esse Deus zela por mim. Esse Deus que está fora e dentro de mim. Esse Deus que, na verdade, sou eu mesmo. Portanto, quem quiser falar com Deus, é preciso começar a conversar consigo e não ter medo das sombras definidas por Jung. São elas que me fazem conhecer melhor. São elas parte de mim mesmo e que me permitem entender porque sinto isto ou aquilo. São elas que preciso entender para poder lidar com meus traumas no relacionamento com o outro. São elas que filtram a beleza da natureza em que vivo. São elas que, entendidas, me farão sair da dualidade e conhecer melhor esse Deus que tanto falam, mas que tão poucos conhecem. Indefinível, como nosso interior. Se eu quiser falar com Deus, devo me colocar nessa jornada de busca e ser eu mesmo.